Responsabilidades dos governos, internacionalmente, pela crise
As reuniões de cúpula do G-20, do G-8 e do Ecofin sucedem-se, uma após outra, sem contudo tomarem nenhuma medida para o futuro do sistema financeiro. Os políticos e os governos mostram-se carentes de força para controlarem o risco sistêmico, definirem cânones de comportamento e fiscalização e protegerem os cidadãos-consumidores.
Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil
Os governos estão olhando – sem saber o que fazer – a derrocada do modelo de livre mercado que predominou nos últimos 20 anos. Um longo período de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), apesar das oscilações atribuídas à conjugação da globalização, do progresso tecnológico e de um gigantesco aumento de capitais em movimento.
Os modelos e suas ferramentas analíticas consideram-se suficientes para controlar a estabilidade econômica e criar um quadro de falso bem-estar para grandes parcelas populacionais de seus países. Esta certeza foi fortalecida pelo direto e "bem-sucedido" enfrentamento da bolha internacional nos mercados de capitais.
A derrocada da paranóia dos papers profit das ações foi substituída com as, historicamente, baixas taxas de juros, o acesso direto aos créditos e a criação dos "produtos compostos", que permitiram a superação de qualquer limite na relação créditos com depósitos, liberando, generosamente, empréstimos com dinheiro "virtual".
São conhecidas as políticas "teto para todos" nos EUA, subvenção de 25% do valor do imóvel na Grã-Bretanha e a livre atividade sem nenhum controle de brokers (corretores) de empréstimos habitacionais na Irlanda.
Este clima aproveitaram, também, os mercados de capitais com as debêntures "garantidas por imóveis", as conhecidas titulações, protagonizadas pelos organismos estatais de habitação nos EUA Freddie Mac e Fannie Mae, que detinham 50% destes títulos – mais de US$ 2,3 trilhões, seguidos pelos bancos da Espanha, primeiros em titulações na Zona do Euro.
Os governos seguiram com suas rotinas burocráticas, servidos por tecnocratas que dizem evitar qualquer envolvimento com a política. Mas com muita satisfação serviram aos seus próprios alvos os âmbitos da insaciabilidade e da falta de impedimentos morais (moral hazard).
Aliás, esses tecnocratas têm transformado a matemática, indispensável para as análises e previsões, em base da ciência econômica, eliminando sua essência como ciência social. E depois se surpreendem, revelando de forma violenta que globalização não é Internet, mas a expansão epidêmica da queda e do desemprego.
O mesmo modelo de "crescimento" seguiram vários países da União Européia após 1994, baseando-se nos recursos dos Âmbitos Comunitários de Apoio e na exposição da demanda doméstica com dinheiro emprestado. Não são apenas as dívidas públicas e os déficits, mas, também, o europeu médio e a média empresa européia que enfrentam o inferno do desemprego e da queda de demanda, respectivamente.
Seguramente, torna-se necessária uma outra política corretiva que proporcionará o necessário impulso, com ampliada, mas justa, base tributária, direcionamento de investimentos a setores nos quais a Europa tem vantagens competitivas, capacidade de negociação e credibilidade. Assim, talvez, o mundo escape do círculo vicioso da miséria.