FMG: Comunistas criam coletivo nacional de cultura
No último dia do Seminário "O Papel da Cultura no Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento", os comunistas que atuam no meio cultural concordaram com a criação de um coletivo nacional de cultura. "Vamos iniciar um processo de criação de um coletivo para começar a discutir essas questões, levantar as possibilidades e, a partir daí, organizar coletivos nos estados, atuando junto com a direção nacional do Partido, pensando um pouco sobre essa organização", explicou Ana Petta (Tininha), atriz e uma das idealizadoras do Centro Universitário de Cultura e Artes (CUCA) da UNE.
O coletivo nacional de cultura é formado, inicialmente por Tininha; Tiago Alves, ex-diretor de Cultura da UNE e produtor cultural; Alexandre Santini, coordenador geral do Instituto CUCA da UNE; e Elder Vieira, escritor e gestor público. "A ideia é que sejam feitas consultas a outros camaradas que também atuam nessa área para ver a possibilidade de sua incorporação", afirmou Tininha.
A discussão sobre o processo de construção do coletivo foi pautado pelas teses do 12o Congresso do PCdoB, a nova política de quadros e a participação dos comunistas nos movimentos de cultura. O debate foi realizado na manhã deste domingo (16) e foi apresentado por Walter Sorrentino, secretário nacional de organização do PCdoB; Teotônio José Roque, membro da comissão nacional dos Pontos de Cultura; e Alexandre Santini.
Novas perspectivas
Teotônio José Roque destacou a importância da formação do coletivo nacional de cultura e ressaltou que ele possibilitará que o partido se prepare mais adequadamente para o processo revolucionário. "Como será a revolução brasileira?", provocou.
Para Alexandre Santini, coordenador do CUCA, "estamos vivendo um outro momento histórico, com muitas possibilidades. Quando foi formado no final dos anos 90, o CUCA surgia no contexto da resistência, pensava o fomento à produção cultural universitária porque pelos meios de produção tradicionais não havia espaço. Quando surgem os pontos de cultura no governo Lula, o trabalho do CUCA deu um salto de qualidade e passou a ter essa relação com os pontos, discutindo seu papel sua relação com o conhecimento que é produzido fora dela".
"Tem luta de classes na cultura sim. Mas nós podemos dizer quais armas que nós vamos usar. Esse coletivo vai nos ajudar a fazer essa discussão e fazer face às questões que estão colocadas na sociedade. Como, por exemplo, a questão sobre o modelo de financiamento", afirmou.
Para Walter Sorrentino, é preciso uma revisão metodológica. "A esquerda brasileira sempre mostrou falta de maturidade, um pensamento ainda mecânico ou importado de outras realidades. Acho que nós chegamos em um ponto clareza, no qual nós lutamos pelo socialismo, essa é a razão do PCdoB. E no seio dessa grande luta, está o novo projeto de desenvolvimento nacional, que será o terceiro grande salto da sociedade brasileira".
Segundo o dirigente, é preciso criar uma nova liderança política na sociedade que dê ao PCdoB a hegemonia. "Isso implica numa luta cultural muito poderosa. Até molecular, penetrando nos poros da sociedade, presente em todos campos dos conflitos sociais, relacionando os objetivos concretos com um projeto maior, projeto civilizatório, que para nós, comunistas, se identifica com o socialismo", disse. "A luta cultural vai adquirindo para nós importância muito maior do que aquela que costumeiramente se deu".
Quadros da cultura
Sorrentino analisou que a política de quadros do partido pretende inovar e renovar o "arsenal". "A política de quadros pode dar a conhecer à sociedade brasileira um partido de princípios".
"Precisamos romper com a visão monotômica e bolchevique de que quadro é o cara que deixa tudo para trás e se dedica só ao partido. Não é disso que precisamos. Necessitamos de quadros influentes, representativos, que tenham o respeito dos seus pares. E isso leva tempo, sobretudo no terreno da cultura", afirmou.
Segundo Sorrentino, "a luta de idéias abarca um conjunto de pessoas que, por profissão ou dedicação, atua nessas áreas. Mas estes quadros, muitas vezes, são acometidos por baixo aproveitamento, quando não se estabelece uma relação difícil os compromissos com o partido e a instituição".
"Falta de maturidade do pensamento estratégico. Se não há papel específico para estas pessoas cumprirem, o que predomina absolutamente no pensamento é a militância como ativismo político social. E isso nem sempre é assim. O método é que o bom militante é o ativista. E o intelectual?", analisou
Para Sorrentino, todos filiados que atuam nessa frente são quadros. "Nossa concepção é ampla e larga. A proposta é fazer uma experiência e um esforço para que ela não dê errado. Queremos discutir que tipo de papel a gente tem no partido a partir desse novo programa. E como vamos manter as pessoas em ligação com o projeto político partidário?".
A ideia não é que o coletivo se responsabilize pelas ações nesse segmento. E nem tenha reuniões presenciais frequentes. "Tem que ter método, política, projeto. Estabelecer metas", explicou o dirigente.
Do Rio de Janeiro, Mônica Simioni