Para Célio Turino, os pontos de cultura são peça-chave para a conquista de autonomia e protagonismo social. Eles "possibilitam a articulação em rede e quanto mais redes intercaladas, maior o desenvolvimento das mentalidades, dos comportamentos, da economia, da cultura, dos valores". "A rede de gênero pode influenciar na modificação de comportamentos machistas nas redes de hip hop ou de cultura popular, que trazem consigo muitos preconceitos. Por outro lado, a cultura popular pode realinhar elementos da tradição e a menina que faz RAP percebe que seu avô também faz ritmo e poesia com repente, coco, embolada, e ela pode criar um novo ritmo musical unindo tradição e emancipação", analisou.

Turino ressaltou que o ponto de cultura é "uma pequena experiência de um Estado que aprende a conversar com o povo e de um povo que se empodera. Um Estado educador". Para isso, é preciso mudar alguns paradigmas: "Da estrutura para o fluxo; do Estado que impõe para o Estado que dispõe; o Estado concentrador de riquezas e informações para o Estado que libera energias; do povo que transfere responsabilidades para o povo que participa;da política pública focada na carência à política pública focada na potência".

Para o secretário, é fundamental alterar o paradigma das políticas públicas, que tem sido formuladas a partir do critério da falta, da vulnerabilidade. "O ponto de cultura parte do oposto, parte da potência", disse. "É simples, mas tenho muita dificuldade em convencer a burocracia de Estado", desabafou.
O secretário de Maceió, Eduardo Bonfim, lembrou do desafio de vencer a herança da concepção neoliberal de gestão. "A Era FHC foi extremamente prejudicial. Forjou uma nova elite cultural, de caráter extremamente conservador. Nosso desafio é democratizar o mundo dos gestores culturais que pensam a cultura como uma cultura de mercado. Desconstruir essa política pública", disse.

E alertou: "Se os movimentos sociais não se incorporarem ao processo, vamos gerar uma casta muito popular, mas uma casta. É preciso um processo de verticalização. Se não, não responde às questões estratégicas do ponto de vista cultural da sociedade brasileira. Burocratiza e a possibilidade de inserção das diversas raízes não se concretiza. Só podemos continuar aprofundando as tarefas dos gestores culturais, comunistas e não comunistas, dos movimentos sociais engajados, se o novo projeto de desenvolvimento romper com o que era implementado. É uma grande batalha teórica e ideológica sobre como fazemos a gestão".
Memória e identidade

A secretária municipal de Olinda, Márcia Souto, comemorou e compartilhou as importantes conquistas que a gestão comunista, à frente da cidade desde 2001, vem acumulando. "Naquele ano, nós estávamos sob a perda do título do patrimônio cultural da humanidade. Os equipamentos culturais estavam fechados e depredados, com o carnaval descaracterizado, salários dos servidores atrasados há três meses, muitas dívidas e o lixo na rua sem coleta. O povo estava com sua auto-estima lá embaixo".
Segundo Márcia, o trabalho se baseou no fortalecimento da identidade nacional com valorização do patrimônio cultural, na restauração e requalificação dos equipamentos e espaços públicos, na democratização da gestão, na estruturação do calendários cultural de eventos, e no resgate do carnaval.

"Nossa perspectiva foi baseada na valorização da cultura popular. Com isso, investimos na capacitação para os pontos de cultura e grupos culturais, criamos a lei de proibição do som mecânico, buscamos a auto-sustentabilidade. Resgatamos a Olinda memória do mundo, a carnavália olindense, o frevo", contou.
"Olinda é a primeira capital brasileira da cultura. E temos o 1o Museu do Mamulengo da América Latina", festejou a secretária.

Do Rio de Janeiro, Monica Simioni