"Se nós temos a arma cultural, evidentemente, estamos garantindo e aprofundando ainda mais a maturidade política do nosso povo. E o que tem sustentado a Revolução Bolivariana, e vai continuar sustentando, é a maturidade política do povo". Essa é a opinião do cônsul da Venezuela no Rio de Janeiro, Dr. Edgar Alberto Gonzalez Marin sobre o papel da cultura no desenvolvimento da nação. Ele participou do Seminário "O Papel da Cultura no Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento", promovido pela Fundação Maurício Grabois entre os dias 14 e 16 de agosto.
"Se nós temos a arma cultural, evidentemente, estamos garantindo e aprofundando ainda mais a maturidade política do nosso povo. E o que tem sustentado a Revolução Bolivariana, e vai continuar sustentando, é a maturidade política do povo".

Essa é a opinião do cônsul da Venezuela no Rio de Janeiro, Dr. Edgar Alberto Gonzalez Marin sobre o papel da cultura no desenvolvimento da nação. Ele participou do Seminário "O Papel da Cultura no Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento", promovido pela Fundação Maurício Grabois entre os dias 14 e 16 de agosto. Leia a seguir entrevista concedida à Monica Simioni.

Leia a seguir entrevista concedida a Monica Simioni.

Há mais ou menos quatro anos, entrevistei o ministro da Cultura da Venezuela Héctor Soto que, na ocasião, me disse que 'se a Revolução não for cultural, não será revolução'. Qual o papel da cultura no processo bolivariano?

Edgar Alberto Gonzalez Marin – A cultura é fundamental. Nossa Revolução Bolivariana está formando um indivíduo que não seja individualista, que seja integral, que pense e atue com a comunidade e isso depende muito da formação cultural da pessoa. Se nós temos a arma cultural, evidentemente, estamos garantindo e aprofundando ainda mais a maturidade política do nosso povo. E o que tem sustentado a Revolução Bolivariana, e vai continuar sustentando, é a maturidade política do povo. A primeira coisa que o imperialismo norte-americano fez no Iraque foi destruir tudo que era cultural do povo iraquiano. Destruiu a Biblioteca de Bagdá, que tinha milhares de anos e um quantidade imensa de coisas. O objetivo era destruir culturalmente um povo. É a primeira estratégia. É o que nós chamamos de memoricídio, fazer a perda da memória para depois entrar com a cultura deles, seus símbolos, suas músicas, e que, no fundo, buscam a alimentação, água, biodiversidade. Por isso, temos que ter muito cuidado com este continente. A cultura é uma arma, principalmente, no que diz respeito à libertação de um povo. É preciso que haja a soberania da cultura. Assim como a interculturalidade entre os países.

Pode a cultura transformar um povo?

Gonzalez Marin – Nós pensamos que sim. A primeira coisa que fizemos em nosso país, em 1999, com a mudança da estrutura do Estado, e junto com isso a mudança da Constituição, foi o aprofundamento da cultura e da educação através da alteração de vários artigos. Para democratizar a cultura para que chegue até os povos. A primeira coisa que fizemos foi criar e instalar um Ministério da Cultura, em 1995, porque antes não havia Ministério. Também democratizamos todos os bens que estavam nas mãos de uma elite do país, que pensava, como muita gente no mundo e especialmente no nosso país, que a cultura era a dos museus, teatros e que qualquer espaço era para gente de classe média ou alta. Nós democratizamos todos estes lugares. O povo hoje tem acesso ao Teatro Teresa Carreño (um complexo cultural com diversas salas para espetáculos fundado em 1973), ao Museu de Arte Contemporânea, que foi dirigido por uma senhora da oligarquia venezuelana por 35 anos. Nós acreditamos que a cultura é a arma fundamental para a consciência e a libertação dos povos.

Brasil e Venezuela têm firmado parcerias em diversos setores. Como o senhor vê as relações entre os dois países neste momento?

Gonzalez Marin – Até um tempo atrás, nós conhecíamos o Brasil, um país vizinho, pelo samba, pelas garotas, o Pelé, e nada mais do que isso. De dez anos para cá, vem se aprofundando a relação entre Brasil e Venezuela em vários segmentos como na área energética, a refinaria que estamos construindo juntos, na política, na área social e na área cultural também. E vamos aprofundar ainda mais, o que é fundamental para os povos. A interculturalidade, nós conhecermos mais da cultura brasileira e os brasileiros conhecerem mais da cultura venezuelana e dos países de fala hispânica. É a união dos povos da América do Sul. A relação econômica entre Venezuela e Brasil está bastante marcada por investimentos muito grandes. Em 2008 compramos 6,8 bilhões de dólares. E o Brasil comprou de nós cerca de 700 milhões de dólares. Não obstante, pensamos que com a refinaria que estamos construindo conjuntamente e o ingresso de Venezuela no Mercosul, estaremos beneficiando todos países da região.

O Congresso Nacional brasileiro ainda não aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul. O debate tem sido inflamado por posições claramente ideológicas. Como o senhor vê esse debate?

Gonzalez Marin – Sabemos que existem muitas limitações e que há pessoas a nível político que colocam como um obstáculo para nosso ingresso o argumento de que não há democracia em nosso país. Não há um país no mundo onde haja mais democracia do que na Venezuela. Em dez anos, nós fomos a mais de 15 processos eleitorais. Para tudo nós consultamos o povo. Há excessiva liberdade de expressão. Então, esse é um elemento de sustentabilidade que alguns políticos têm no Brasil para dizer que esta é a razão para a Venezuela não entrar no Mercosul. Mas essa não é a razão real. Então, esperamos com muita paciência para ver se existe a possibilidade de que estes políticos brasileiros, sobre este assunto, tenham uma consciência mais ampla, que vá além de governos, pensando além de Chávez, de Lula. É preciso pensar no povo.

Honduras sofreu um golpe de Estado em 28 de junho. Nenhum país reconheceu o governo instaurado e diversas organizações internacionais exigiram o retorno do presidente eleito, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Apesar disso, o governo golpista permanece. O que está em jogo?

Gonzalez Marin – Nós reconhecemos o presidente Zelaya e avaliamos que o golpe em Honduras é um golpe à Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da América). Aconteceu no momento em que Honduras ingressou como membro na Alba. Então, nós não reconhecemos estes governo golpista e temos feito o possível, através da Alba, para que o presidente constitucional volte. Já fizemos várias reuniões entre nossos países, pressionando em nível internacional. E o povo hondurenho está resistindo com muito valor.

Este golpe de fato foi orquestrado pelo império norte-americano, que tem por trás a CIA e o governo norte-americano, apesar de muita gente não reconhecer. Eles estão vendo que, cada dia que passa, vão surgindo movimentos políticos e sociais em toda América Latina pedindo soberania dos povos, como nós pedimos que respeitem nossa soberania, que nosso povo decida o que quer, qual caminho seguir. Não queremos que nos imponham parâmetros porque nós sabemos para aonde vamos. E que reconheçam o presidente do povo hondurenho.