Debate discutiu os desafios do crescimento do Nordeste
Dando continuidade ao ciclo de debates, a Fundação Maurício Grabois em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), o Banco do Nordeste (BNB) e Instituto da Cidade realizou mais uma etapa das discussões acerca do tema “O Projeto Nacional de Desenvolvimento e as Desigualdades Regionais”. No encontro temático desta sexta-feira (18 de setembro), realizado no auditório da Reitoria da UFC, o tema foi focado na Região Nordeste. Os expositores foram o Professor Emilson Piau (Superintendente da Companhia de
Dando continuidade ao ciclo de debates, a Fundação Maurício Grabois em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), o Banco do Nordeste (BNB) e Instituto da Cidade realizou mais uma etapa das discussões acerca do tema “O Projeto Nacional de Desenvolvimento e as Desigualdades Regionais”. No encontro temático desta sexta-feira (18 de setembro), realizado no auditório da Reitoria da UFC, o tema foi focado na Região Nordeste. Os expositores foram o Professor Emilson Piau (Superintendente da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional da Bahia), José Sydrião Alencar (Superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE/BNB) e Assuéro Ferreira (Professor de Economia da UFC).
O objetivo dos encontros é promover um debate sobre a temática do desenvolvimento local e nacional, visualizando as desigualdades regionais, com perspectiva a instigar a formulação de um novo projeto nacional de desenvolvimento para o Brasil.
“País das oportunidades perdidas”
O Professor Emilson Piau afirmou que o desenvolvimento só virá através da participação cidadã e da gestão compartilhada. “A maioria da população nordestina vive na chamada pobreza rural. É preciso investir nos serviços básicos, na geração de renda e reverter a carência de políticas integradas e sustentáveis que possibilitem autonomia econômica a médio e longo prazos”, considera.
Segundo o professor baiano, “o Brasil é o país das oportunidades perdidas”. Ele comemora o crescimento no número de grupos de pesquisas que passam a incentivar as discussões e se articular em torno de novos projetos. “É preciso redefinir importâncias. Os pesquisadores estão instigando os gestores, apontando a realidade brasileira. Antes, éramos tratados como iguais. Hoje os estudos nos mostram que nossas características são diversas. Perceber as diferenças é que vai nos permitir superar as desigualdades”.
Piau considera que é preciso recolocar a política no nível da solução dos problemas regionais, trabalhar o desenvolvimento endógeno – de dentro pra fora e de baixo pra cima – além de ampliar o debate sobre as estratégias de desenvolvimento regional. Ainda segundo o professor, as respostas devem estar dentro do Brasil. “Não adianta a gente se basear em teóricos estrangeiros. Apenas autores brasileiros sentem na pele a realidade do país”.
Segundo o professor, “o desenvolvimento do Nordeste e a diminuição das desigualdades regionais passam pela recontextualização do Estado; pelo investimento nos serviços básicos de infraestrutura; proteção do Meio Ambiente; e investimento no conhecimento, tecnologia e inovação. É preciso pensar no coletivo”, defende Piau. Para ele, encontram-se enormes diferenças dentro da própria região. “Vivemos num país de vários Brasis. Num mesmo Estado, vemos fartura e miséria. É preciso potencializar o crescimento regional e amenizar os desequilíbrios”.
Emilson Piau considera que é preciso enfrentar desafios para se dar passos adiante. “Fortalecer o diálogo social, buscar o bem coletivo, consolidar um novo modo de planejamento, combater as desigualdades, valorizar a diversidade. Sem superar estes desafios, não conseguiremos ir além. É o nosso futuro que está em jogo”, afirma.
A história de centralização brasileira
José Sydrião Alencar, Superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE/BNB, iniciou sua exposição fazendo um breve resgate histórico mostrando o processo de centralização em que o Brasil sempre viveu. “Se avaliarmos, o processo de independência foi um processo de centralização. O local foi sufocado. Antes, as pessoas se referiam ao Nordeste como Norte. Passamos a existir como região somente no final da década de 30”, avalia.
Desde Getúlio, segundo Sydrião, só agora com o Governo Lula é que a gestão regional passou a ter importância. “Recentemente, na década de 90, os liberais instalaram no Brasil um projeto de dependência, com o desmantelamento do Estado brasileiro, ações que se refletem ainda hoje com problemas na saúde e na educação”, afirma.
O Superintendente do ETENE fez um balanço do cenário atual brasileiro ressaltando fatos únicos na história do país. “Hoje o Brasil é credor, com reservas internacionais; tem certa independência energética; credibilidade internacional e exerce papel dinâmico e autônomo. Diante disto, qual papel das regiões neste novo cenário?”, questiona.
No caso do Nordeste, de acordo com Sydrião, a região exerce poder estratégico. “Estamos mais perto do mercado europeu, africano e asiático; a Transnordestina irá representar grande avanço e progresso para a região assim como os projetos de energia aqui instalados. Neste momento é imprescindível que a política exerça seu papel de intermediar programas de desenvolvimento para a região. Integrados ao resto do país, poderemos contribuir de fato com o desenvolvimento nacional”.
Desigualdades dentro da própria região
Para o Professor de Economia da UFC, Assuéro Ferreira, o desenvolvimento se dará através da relação entre as instituições – políticas e sociais. “As instituições são fundamentais para o desenvolvimento, mas quem constrói as instituições? É lá que se definem os pressupostos de hegemonia e ideologia. São elas que conduzem para um rumo ou para outro”, analisa.
Dados levantados pelo professor Assuéro mostram que a população rural do Nordeste é superior à média nacional. Outros números apresentados por ele apontam que 58% da região Nordeste é semi-árida. “Não se faz desenvolvimento sem mudar a questão da propriedade, sem distribuição de renda”, analisa. As desigualdades acontecem dentro da própria região. Bahia, Ceará e Pernambuco são responsáveis por 64% da atividade econômica nordestina. “Não somos uma região homogeneizada. Temos grandes e acentuadas diferenças internas”, avalia.
No Ceará, de acordo com o professor Assuéro, a atividade econômica está concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza, parte no Cariri e outra parte na região de Sobral. “Se pensarmos, por exemplo, como era o município de Horizonte há 10 anos. Será que agora está melhor ou pior? É inegável que as indústrias trouxeram o emprego, mas elas também trouxeram a violência e a prostituição. Que tipo de desenvolvimento queremos para nós? É preciso avaliar”, pondera.
Após as apresentações, foi iniciado o debate com a participação do público. O ciclo de debates terá mais um encontro temático. No dia 25 de setembro, o tema central será “O Ceará na perspectiva de um novo projeto nacional de desenvolvimento”, com a participação do Professor José de Paula Barros Neto (Diretor do Centro de Tecnologia da UFC), Inácio Arruda (Senador pelo PCdoB/CE) e do Deputado Ivo Ferreira Gomes (Chefe de Gabinete do Governo do Estado do Ceará). O encontro também será realizado no auditório da Reitoria da UFC, a partir das 9h.
De Fortaleza,
Carolina Campos
Portal Vermelho