Por Laura Britt
Apesar das expectativas sobre iminentes elevações das taxas de juros pelos grandes bancos centrais do mundo, as quais fomentou no início da semana passada a repentina decisão do Banco Central da Austrália de reduzir suas taxas de juros, o Banco Central Europeu (BCE) não só manteve a taxa do euro no historicamente baixo nível de 1%, mas, também, insinuou que não pretende aumentar o custo de endividamento em futuro próximo.

Por Laura Britt no Monitor Mercantil

Provavelmente, o motivo desta decisão, ao que tudo indica, é que os "cardeais" (membros do Conselho Diretor do BCE) não enxergam a ameaça de inflação pairando sobre os países integrantes da Zona do Euro e, ainda, duvidam da viabilidade de recuperação.

O BCE desmentiu os temores dos mercados da Europa sobre qualquer ameaça do front da inflação, tanto no que diz respeito a deflação – recentemente registrada na Zona do Euro – quanto sobre o risco de explosão da inflação em decorrência da visível volta de ritmos elevados de crescimento.

Questionado a respeito o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, fez lembrar que mês passado despencou de -0,2% para -0,3%, nível em que se encontrava em agosto deste ano. Mas destacou que "o BCE prevê retorno do indicador a nível positivo dentro dos próximos meses" e acrescentou que "a médio prazo não é vista a ameaça da inflação superar a meta de 2%".

Trichet ainda esclareceu que "não há razão para revisar a opção das baixas taxas de juros que sustentam o crescimento, pelo menos, não em futuro próximo". Consultados alguns economistas de bancos a respeito destas declarações de Trichet, disseram que "quer queira, quer não queira o Trichet, haverá – no início do ano que vem – um momento em que o BCE adotará uma política monetária mais restritiva".

Recuperação incerta

O fator que, ao contrário, parece preocupar fortemente os "cardeais" do Conselho Diretor do BCE é a durabilidade da visível recuperação, a qual, Trichet caracterizou "incerta e instável" e destacou que deve-se permanecer reservado.

Trichet, invocou os dados do segundo trimestre deste ano, os quais comprovam que "a queda livre da economia cessou", mas voltou a destacar "os riscos – em gestação – para o crescimento que são os altos preços das commodities, os quais explodiram recentemente, assim como o fato de os investidores estarem fugindo em massa do dólar e retornando ao ouro e ao petróleo.

Porém, paralelamente, o presidente do BCE prevê que a recuperação será continuamente abalada pelos rangidos e estalos que serão provocados pelas correções no setor financeiro ou, também, em outros setores – "dentro ou fora" – da Zona do Euro.

Todavia, ênfase particular atribui o BCE ao retorno – em tempo – à disciplina fiscal, com o Trichet, pessoalmente, advertindo "os "empoados" líderes europeus para que encarreguem seus respectivos governos da rápida elaboração de planos para se desvincularem da obrigação de novos pacotes destinados à tonificação das respectivas economias e metodizarem a redução de seus déficits fiscais, assim que retornar a recuperação".

Aliás, Trichet fixou cronograma para estas providências, destacando que "assim que começar o 2011, os países integrantes da Zona do Euro deverão – impreterivelmente – reduzir seus respectivos déficits fiscais anualmente em, no mínimo, 0,5% de seus produtos internos brutos (PIBs).

E no que diz respeito a países integrantes da Zona do Euro que registram déficits fiscais elevados, deverão – impreterivelmente – reduzir seus déficits, anualmente, em, pelo menos, 1% de seus PIBs".

Finalizando, Trichet "aliviou" seu tom e apelou – a quem possa interessar – "para que o dólar seja apoiado, a fim de conter sua queda livre contra o euro e iene", e se disse profundamente preocupado com as consequências que terá esta situação" (a excessiva desvalorização do dólar) sobre as exportações da Zona do Euro.

Mas, em seguida, apressou-se a manifestar sua satisfação pela posição assumida por elevados executivos do Governo dos EUA recentemente, a favor da política de "dólar forte". Mas, em antítese a outras vezes, esta declaração de Trichet não proporcionou nenhum apoio ao dólar nos mercados internacionais de câmbio.