Princípios: O primeiro ano da crise que abalou o mundo
A nova edição da revista Princípios, com 98 páginas, faz um balanço do efeitos e das superações da crise financeira de Wall Street, que repercutiu em todo o mundo, ao longo dos últimos doze meses. Princípios também celebra, com um conjunto de textos, os 60 anos da Revolução Chinesa
A presente crise econômica ressalta os limites históricos do capitalismo e pressiona alternativas. Um ano depois de seu ápice a revista Princípios convidou alguns importantes estudiosos para debater sobre os efeitos e o possível desfecho desta crise.
Por Carolina Ruy
A nova edição da revista Princípios, com 98 páginas, faz um balanço do efeitos e das superações da crise financeira de Wall Street, que repercutiu em todo o mundo, ao longo dos últimos doze meses. Princípios também celebra, com um conjunto de textos, os 60 anos da Revolução Chinesa
A presente crise econômica ressalta os limites históricos do capitalismo e pressiona alternativas. Um ano depois de seu ápice a revista Princípios convidou alguns importantes estudiosos para debater sobre os efeitos e o possível desfecho desta crise.
Por Carolina Ruy
Para o historiador Frederico Mazzucchelli, ainda é cedo para fazer comentários seguros sobre a evolução da economia mundial. Contudo, segundo Mazzucchelli, já se pode afirmar que a crise explicitou a perda de prestígio de Wall Street e que ela traz implícita a necessidade de transformação na estrutura do capitalismo. De fato, verifica-se que enquanto a recuperação de grandes potências como EUA, Alemanha, Japão tende a ser lenta, países em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil, reagiram com dinamismo à crise.
O historiador ressalta que o sistema financeiro não é somente um dos tantos setores de atividade. Ele representa seu setor nevrálgico. Tanto que reflete, por exemplo, nas redes de produção globais, que se desdobram em diversos setores da sociedade. Sobre este tema, Marco Antonio Cintra e Roberto Borghi, analisam a cadeia de valor adaptada à crescente especialização e dispersão geográfica. Para estes dois especialistas, a crise econômica e financeira não parece alterar a lógica de integração produtiva, entre blocos de países e no interior dos blocos. O que há de novo, segundo eles, é o aprofundamento da integração produtiva entre os países emergentes. Mais uma vez, surge no debate o desempenho dos países em desenvolvimento na superação da crise.
No Brasil, a crise capitalista provocou danos, revelou os equívocos da política macroeconômica, mas graças às conquistas do governo Lula e às medidas adotadas para enfrentá-la, o país suportou o impacto e deve ter, em 2010, um crescimento de mais 4,5%. O Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, como aponta o economista Aloísio Barroso, é um caminho cristalino de abordagem à transição e chamamento à dura luta política – de classes – por reformas profundas. Este seria, segundo ele, o caminho mais acertado para o Brasil continuar crescendo.
A visão de que o Brasil estava preparado para resistir à crise econômica global também é defendida pelo professor Renildo Souza. Embora a crise tenha significado prejuízos importantes para o Brasil, o mercado interno permitiu ao país resistir e começar a sair da crise.
Se por um lado o sistema capitalista está abalado, a China socialista chega aos 60 anos com muito vigor. A comemoração dos 60 anos da Revolução Chinesa repercutiu em todo o mundo. Princípios registra esta importante data com artigos do presidente chinês, Hu Jintao, do Embaixador Qiu Xiaoqi, do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, do deputado federal Aldo Rebelo, do economista Luis Paulino e do geógrafo Elias Jabbour.
Outra importante efeméride ressoada na imprensa mundial é a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Em seu artigo, o professor de relações internacionais, Paulo Fagundes Visentini analisa os impactos ao longo dos vinte anos que se passaram da queda do muro. Muito diferente do Fim da História proferido por Francis Fukuyama, o desmantelamento da União Soviética e o fim da Guerra Fria ensejaram anos de instabilidade, terrorismo e guerra. Neste contexto a emergência da China, um país socialista, que exibiu o mais alto nível de crescimento econômico do planeta, foi inesperada e reforçou a formação de novos pólos de poder.
Também na América do Sul, conforme aponta o sociólogo Ronaldo Carmona, verifica-se a consolidação de nações mais fortes, independentes e com governos de perfil progressista. O avanço da União de nações Sul-Americanas, Unasul, em ações efetivas demonstra a busca de coesão do continente no enfrentamento ao imperialismo político, econômico e militar. Neste contexto a Colômbia ainda representa um entrave para o fortalecimento político coeso da América do Sul. O professor Pietro Alarcón, em seu artigo, ressalta a democracia excludente que caracteriza o regime político colombiano desde sua conformação. Segundo ele o telão de fundo dessa situação é a ajuda fornecida pelos Estados Unidos ao governo colombiano.
Na área da ciência, Princípios registra o ano de 2009 como o Ano Internacional da Astronomia. A escolha do ano deve-se ao quarto centenário do primeiro uso científico de um telescópio, feito do filósofo italiano Galileu Galilei. O artigo do pesquisador Augusto Passos Videira resgatando a vida e a obra de Galileu Galilei traz à luz a importância das descobertas galileanas para a ciência moderna.
Na área da cultura, a artista plástica Mazé Leite traz à Princípios o debate sobre arte e representação, tendo como pretexto a Exposição Virada Russa, que ocorreu em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Além disso, Princípios não deixou de registrar os 40 anos do assassinato do revolucionário Carlos Marighella. Com um artigo do jornalista Osvaldo Bertolino a revista destaca a importância deste dirigente comunista sonhador com os pés no chão e a cabeça no lugar.