Em artigo para o jornal britânico Financial Times, o economista-chefe do Citigroup, Willem Buiter, comparou a situação econômica da Inglaterra à da Grécia. Para ele, “existem boas razões para a fraqueza e volatilidade da moeda inglesa”. Caso desta vez o Citi esteja correto, significará um duro desdobramento para a crise na Europa, já que o mercado inglês tem peso muito mais relevante que o conjunto dos países do Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, na sigla em inglês).

Na véspera, a moeda inglesa, a libra, caíra 1,6% em relação ao dólar. “A libra enfrenta o risco de uma recessão de duplo mergulho e o Banco da Inglaterra está à beira de ter de injetar nova liquidez para uma economia estressada, enquanto outros bancos centrais, como o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), preparam planos para enxugar o excesso de liquidez quando suas economias se recuperarem”, advertira Ashraf Laidi, chefe estrategista de câmbio na CMC Markets em Londres.

O temor do Citi e da CMC é compartilhada por outros investidores, que temem que o Reino Unido, com sua debilitada economia e elevado déficit, se torne o próximo foco do mercado financeiro. O Citi, que foi duramente atingido pela crise ano passado, aproveitou, no entanto, para operar o mercado cambial do …Brasil.

A instituição, que não revela sua exposição nas operações nos mercados futuros de câmbio, elevou sua previsão para a cotação do dólar para o final do ano no Brasil, de R$ 1,80, projetada em fevereiro, para R$ 1,85. O Citi também alterou seu palpite para o déficit nominal em relação ao PIB. Em fevereiro, a previsão era de déficit de 2% do PIB, reduzida agora para 1,8%. Para superávit primário, o banco manteve a projeção de 2,3%, tanto para este como para o próximo ano.

Pacote

O gabinete da Grécia aprovou um novo e extenso programa de austeridade fiscal nesta quarta-feira, o terceiro em meses, com o objetivo de controlar o exorbitante déficit orçamentário do país e garantir um auxílio financeiro europeu. Um porta-voz do governo disse que o pacote, de cortes na remuneração do setor público e aumento de impostos, economizaria 4,8 bilhões de euros adicionais, equivalentes a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

“Nós estamos, agora, justificadamente, esperando a solidariedade da UE”, disse o primeiro-ministro grego, George Papandreou, em uma conversa televisionada com o presidente Karolos Papoulias, acrescentando que as medidas adicionais são necessárias para a sobrevivência do país. As medidas incluem aumento do imposto sobre valor agregado em 2 pontos percentuais, para 21%, corte dos bônus salariais do setor público em 30%, elevação dos impostos sobre combustível, fumo e álcool, assim como congelamento das aposentadorias neste ano.

A Grécia está sob pressão da União Europeia e dos mercados financeiros para cumprir a promessa de reduzir o seu déficit orçamentário para 8,7% do PIB neste ano, de 12,7% em 2009. Porém, inspetores da UE estimaram que o plano de austeridade anunciado até aquele momento não seria suficiente devido a uma recessão maior que o esperado. Papandreou disse ao gabinete que se a UE não der ajuda financeira agora, a Grécia tem a opção de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), informou um ministro após a reunião.

Falando a colegas de partido na terça-feira, Papandreou comparou a crise fiscal do país a uma guerra e disse que teria que tomar medidas rígidas. Toda a Europa estará ameaçada, ele disse, se a Grécia falhar em tomar essas decisões para reduzir a dívida de 300 bilhões de euros, equivalente a 125% do PIB. “O alívio no mercado aberto foi imediato após a Grécia anunciar as medidas… Isso aumenta a chance deles (Grécia) de atravessar esses problemas”, afirmou Peter Chatwell, estrategista do Crédit Agricole CIB.

Ajuda da UE

O ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, disse ao jornal Sueddeutsche Zeitung que a Grécia não pediu ajuda para combater sua crise de dívida, logo a questão sobre oferecer suporte não está na agenda. Schaeuble também afirmou ao diário com sede em Munique que a Grécia tem de colocar o Orçamento numa trajetória sólida sem a ajuda de terceiros.

“A Grécia não pediu nenhum suporte financeiro, então a questão do suporte não existe por si só”, disse, em comentários que serão publicados na edição da quarta-feira do jornal. “A Grécia tem a obrigação de colocar seu Orçamento e política financeira numa base sólida e ninguém pode fazer isso pelos gregos”, afirmou. Schaeuble também afirmou ao jornal que os esforços para consolidar o Orçamento alemão tem de ser significantemente elevados a partir de 2011.

Alerta

O primeiro-ministro grego, George Papandreou, apontou em discurso ao Parlamento nesta terça-feira um quadro negativo sobre a economia, preparando o país para novas medidas de austeridade necessárias para evitar um default e uma crise mais ampla da zona do euro. A expectativa é de que Papandreou anuncie mais medidas para reduzir o déficit nos próximos dois dias, na esperança de tranquilizar os mercados sobre as finanças do país e assegurar apoio concreto dos parceiros da União Europeia.

“Hoje nós precisamos tomar decisões duras, severas, que em muitos casos são injustas. Não é uma escolha, é necessidade”, disse. “Nós não vamos deixar o país ir por água abaixo, qualquer que seja o custo temporário, quaisquer que sejam as reações”, acrescentou, adotando a linguagem mais dramática desde que assumiu o poder, em outubro.

Papandreou, que vai discutir a economia com seu gabinete na quarta-feira, está sob pressão para explicitar medidas a serem tomadas antes de ir à Alemanha na sexta-feira em busca de ajuda concreta. “Sem decisões corajosas nossas e deles (da UE), a Europa toda e a economia da Europa estão ameaçadas”, disse o premiê, repetindo que a Grécia conta com apoio de seus pares.

Sem dar detalhes, Papandreou deu sinais sobre as novas medidas que está considerando ao alertar funcionários públicos que eles devem ajudar a enfrentar a situação. Papandreou também acusou antecessores conservadores de corrupção e pela situação que levou a Grécia para a beira do colapso, com um déficit de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e dívida de cerca de 300 bilhões de euros – bem acima da produção econômica de 240 bilhões de euros.

“Se alguém pensa que este é um cenário remoto de pesadelo, não percebeu qual é a situação. A cada dia nós descobrimos novos buracos, novas dívidas, no Orçamento.” Segundo ele, o governo está determinado a não deixar o país à mercê dos especuladores dos mercados.

Greve

Enquanto o Japão amplia os gastos públicos, na Grécia, o sindicato dos trabalhadores públicos, Adedy, convocou nova greve de 24 horas, agora, para o próximo dia 16 de março, para protestar contra a insistência do governo em aprovar um pacotaço fiscal. “Levando em consideração os desdobramentos negativos, o anúncio de novas medidas e os cortes e reduções de salários, (o conselho executivo) decidiu dar prosseguimento à proposta de greve de 24 horas no dia 16 de março, afirmou o Adedy em nota.

A greve é a terceira convocada pelo Adedy desde o início do ano para protestar contra os planos de transferir a conta da crise provocada pelo sistema financeiro para os trabalhadores e os contribuintes gregos. As medidas, que têm levado cada vez mais milhares de gregos às ruas, incluem redução e congelamento dos salários dos servidores e cortes de benefícios.

Apesar do aumento da impopularidade, o governo ameaça anunciar, nesta quarta-feira, um corte de cerca de 4 bilhões de euros (US$ 5,4 bilhões), para baixar o déficit fiscal em quatro pontos percentuais este ano. O arrocho fiscal é uma imposição da União Européia (UE) para garantir um empréstimo ao governo grego para fazer frente ao pagamento de dívidas com bancos europeus e norte-americanos.

Com agências e Monitor Mercantil