Darc Costa merece ser ouvido com atenção
Homem de idéias, pesquisador arguto e analista atento, Darc Costa falará de temas que constam do seu mais recente livro, intitulado Fundamentos para o Estudo da Estratégia Nacional, lançado pela editora Paz e Terra. Trata-se de uma obra de peso — literalmente. Em suas 568 páginas, o autor discorre sobre diferentes aspectos da construção da Nação e do Estado, e indica elementos fundamentais para a estratégia nacional do Brasil.
O autor teve destaque na direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no início do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ocupou a vice-presidência da organização no período em que o professor Carlos Lessa esteve em sua presidência. Engenheiro civil e mestre em Engenharia de produção pela PUC-RJ, doutor em engenharia de produção pela Coppe-UFRJ, onde, como professor visitante, ministrou cursos de Estratégia Nacional, Darc Costa foi um dos estrategistas da política externa do atual governo.
Estratégia multipolar
À frente do BNDES ao lado de Carlos Lessa, ele foi vítima do intenso bombardeio da direita que encerrou a profícua fase de reconstrução da instituição, moída pelo período neoliberal — segundo definição do próprio ex-presidente da organização. Darc Costa, que também foi coordenador da Escola Superior de Guerra (ESG) entre os anos de 1999 e 2002, foi peça-chave no processo que desarmou o esquema dos neoliberais que pretendia lançar o Brasil e a América Latina no colo da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), idealizada pelo governo dos Estados Unidos.
Ao lado do então secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, Darc Costa formulou a idéia de que o Brasil precisava desenvolver uma estratégia multipolar de afirmação da sua soberania, de construção paciente e pertinaz de um bloco sul-americano, de redução das desigualdades e de realização do potencial dos países do “Terceiro Mundo”. O mundo vivia sob o arbítrio da concentração de poder de todo tipo nas mãos de Washington e, com a nova filosofia do Itamaraty, o Brasil reorientou sua política externa com serenidade e firmeza.
Infllexão no BNDES
O pressuposto de maior independência e maior respeito, de melhor defesa dos interesses brasileiros, teve um ponto de inflexão no BNDES, que decidiu apoiar efetivamente a integração física da América do Sul. "O norte para o banco está claramente sinalizado pela mudança de projeto nacional", afirmou Lessa em sua pose. A idéia, em linhas gerais, era a de pôr fim ao fosso comercial que separa o Brasil de seus vizinhos, um mercado que reúne mais de 200 milhões de pessoas e que oferece uma série de oportunidades de negócios.
Embora esteja próximo de todos eles, o Brasil tinha uma participação de apenas 6,7% na pauta de importações conjunta desses países — um percentual quatro vezes menor que o dos Estados Unidos, um parceiro geograficamente menos privilegiado. Pelo projeto, o BNDES daria financiamento a esses países com uma condição: eles deveriam contratar empresas brasileiras para realizar obras de infra-estrutura em seus territórios, como estradas, hidrelétricas e gasodutos. A linha de crédito se estenderia à cadeia de suprimentos. Os países receberiam financiamento para a compra de máquinas, equipamentos, turbinas, aço, tubos, cimento e outros produtos fabricados no Brasil.
Ataques da direita
O mentor da idéia foi exatamente Darc Costa — que havia formulado estratégias para essa integração. Durante os anos em que ocupou a coordenação da ESG, publicou dezenas de ensaios versando sobre geopolítica. Darc Costa encontrou um interlocutor estratégico no governo: Samuel Pinheiro Guimarães. Foi o secretário-geral do Itamaraty quem o estimulou a procurar os governos dos países vizinhos para “vender” seu projeto.
Carlos Lessa e Darc Costa foram fulminados pelos ataques da direita. Samuel Pinheiro Guimarães, que havia sido posto para fora do Itamaraty no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) por se opor à Alca e reconduzido à instituição no cargo de secretário geral pelo governo Lula, resistiu aos ataques e hoje ocupa a chefia da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. Com ele, resistiu a idéia de integração regional e alianças multipolares.
No livro Fundamentos para o Estudo da Estratégia Nacional Darc Costa explica (“Descrevendo a Utopia Política”, capítulo 9, página 155) que “a Estratégia Nacional deve objetivar, antes de tudo, a construção social de uma realidade comprometida por uma visão social de mundo”. O que isso quer dizer? Segundo o autor, para se construir esse instrumento é fundamental que se estabeleça, na sociedade, um senso comum, no caso a “Sociedade Nacional. “Entendo que se deva amealhar tudo aquilo que consideramos conhecimento nesta sociedade, mediante a formação desse senso comum, algo que, na realidade, deve fazer parte do imaginário de cada membro e de toda a coletividade”, explica o autor.
Teorias luminosas
A obra tem a grande vantagem de historiar o conceito de Nação e de Estado para em seguida remeter a exemplos concretos e teorias luminosas. No capítulo 21 (página 405), intitulado “A Estratégia e a Nação”, por exemplo, Darc Costa descreve os “fundamentos filosóficos” da questão abordada “desde que o homem surgiu na terra” para concluir que o interesse nacional e o nacionalismo são categorias centrais “do conjunto de idéias que acompanha o sonho de Nação”. Em outro capítulo, o 21, intitulado “Questões Estratégicas do século XXI” (página 458), Darc Costa afirma que, além da energia, outras questões são essenciais para a formulação de uma estratégia nacional — entre elas a educação e a saúde.
Os capítulos finais do livro são dedicados à análise do maior desafio de política interna e externa brasileira: as relações do Brasil com seus vizinhos e o projeto de integração da América do Sul. “Este trabalho foi concebido para todos aqueles que se preocupam com o nosso destino como sociedade, através de uma consciência clara de que o sonho que perpassa todo o Ocidente se transformou no Brasil”, diz o autor em sua apresentação. É o caso da Fundação Maurício Grabois, que o receberá para aprofundar os estudos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) sobre o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.
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Data: 31 de março – 4ª feira
Hora: 19 horas
Local: Auditório do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PcdoB) – Rua Rego Freitas, 192 – 6º andar