Vinte e um anos durou o pesadelo militar, o predomínio de generais pretensiosos, arrogantes e incapazes, cada qual julgando-se como o melhor de todos os filhos deste país.

Acreditavam na perenidade da sua dominação, que não deixavam por menos: até bem depois do ano 2000… Mas não há noite, hibernal que seja, de duração ilimitada. O dia reaparecerá, como reapareceu, e com ele a alegria de viver, de criar, de mudar, de transformar o mundo que nos rodeia. A luminosidade solar dá a dimensão de tudo. Os que na escuridão se faziam passar por gigantes, mostram-se anões, insignificâncias desprezíveis.

Foi-se o regime da tirania. Mas ficou o rastro de lama e desonra da sua política antipovo, foco pestilento de banditismo, de entreguismo, de corrupção sem limites. Centenas de patriotas e democratas assassinados friamente, milhares, muitos milhares de presos torturados, a nação humilhada. A soberania nacional em leilão. E o festim dos novos ricos,
dos milionários que fraudaram, que roubaram à vontade o dinheiro do erário público. Trágico e doloroso balanço dos vinte e um anos de autoritarismo castrense.

E não haverá "punições". O que passou, passou, repetem os conciliadores. Punição seria revanchismo… E o revanchismo – dizem – não é do feitio dos brasileiros. Assassinos, torturadores, vende-pátria, corruptos, mas intocáveis. A "revolução" de 1964 não pode ir ao banco dos réus. Tudo que fez, fez pelo bem… de uns poucos, em benefício… dos protegidos e afilhados do regime, ávidos de riqueza, de privilégios, de posições vantajosas. E em favor do capital estrangeiro, "amigo" dos seus amigos…

Afinal, de saldo, um ensinamento valioso: golpe de generais é sinônimo de despotismo, de completa falta de respeito aos direitos inalienáveis do povo. A experiência foi dura, mas valeu por seu aspecto negativo. Nunca mais se deve permitir, quaisquer que forem os motivos alegados, a intromissão indevida dos militares na vida política nacional.

Esta terra tem dono, gritavam os patriotas pelejando contra os holandeses em Pernambuco. O dono são os 130 milhões de brasileiros que desejam viver em liberdade, sem a tutela de quem quer que seja, buscando um futuro melhor para a sua pátria.
Aos quartéis, os militares! E que nos deixem em paz!

EDIÇÃO 10, ABRIL, 1985, PÁGINAS 3