Na próxima segunda-feira (12), completam-se 38 anos do início da repressão à Guerrilha do Araguaia no Sul do Estado do Pará. Um dos personagens centrais daquela epopéia de resistência ao regime discricionário implantado com o golpe de 1964 foi Lincoln Bicalho Roque. Agora, o Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois recupera um vídeo em que ele aparece comentando a atuação política à época. Bicalho Roque foi dirigente da União da Juventude Patriótica (UJP), tida como “celeiro privilegiado” para a Guerrilha do Araguaia.

Em março de 1973, os jornais anunciaram a morte do jovem dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Lincoln Bicalho Roque, preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Rio de Janeiro em uma operação que começou no Estado do Espírito Santo e resultou também no assassinato dos membros da Comissão de Organização do Comitê Central Carçlos Danielli, Lincoln Oest e Luiz Guilhardini. O objetivo era dizimar o apoio à Guerrilha do Araguaia, depois das duas primeiras campanhas da repressão.

Bicalho Roque foi preso em um ponto em frente à igreja de São João do Meriti. “Terrorista reage à prisão e é morto a tiros na rua”, anunciou o jornal O Globo dia 22 de março de 1973. No mesmo dia, o Jornal do Brasil noticiou: “Autoridades de Segurança informam sobre a morte de um militante do PCdoB”. Ele desapareceu no dia 13 de março. Segundo os jornais, Bicalho Roque fora morto ao resistir à prisão em um confronto armado no Campo de São Cristóvão. Após a divulgação da sua morte, seus familiares encontraram o corpo com marcas de torturas no Instituto Médico Legal. Sob pressão dos órgão da repressão, ele foi sepultado imediatamente — a família sequer pôde velar o corpo de seu ente querido, que, premeditadamente, havia sido mantido fora da geladeira do dia 22 para o dia 23 de março.

O jovem dirigente do PCdoB foi o último a ser chacinado na operação que começou com a prisão de Lincoln Oest em 20 de dezembro de 1972, que foi torturado até à morte ocorrida no mesmo dia. A partir daí, a repressão montou uma cilada para prender Carlos Danielli em São Paulo, ocorrida em 28 de dezembro. Principal dirigente da Comissão de Organização, Danielli foi torturado lentamente até à morte, ocorrida na tarde de 31 de dezembro de 1972. Ao ser preso ele sabia que a ditadura queria informações sobre a Guerrilha do Araguaia e foi logo avisando: “Só faço o meu testamento político”. Morreu depois que os assassinos do DOI-Codi de São Paulo lutaram persistentemente por quatro dias para arrancar-lhe alguma informação. Nada conseguiram.

Cinco dias depois, Luiz Ghilhardini foi preso na cidade do Rio de Janeiro. Treze homens armados invadiram sua residência e ali mesmo começaram os espancamentos. Sua mulher, Orandina, e o filho de oito anos, Gino, foram postos em um quarto separado e também torturados. Levados encapuzados para o DOI-Codi em viaturas diferentes, lá o a criança presenciou o pais sendo covardemente espancado. Separados em seguida, nove dias depois Orandina soube, por um dos torturadores, que Luiz Guilhardini estava morto.

Veja o vídeo aqui.

Leia também: Sobre a experiência da UJP