Balas racistas
Nos barracos telhado de Eternit
De madeira de caixote de papelão
Os gatos estão no postes
Os fios no chão
Corredores estreitos
Cheiro de esgoto
Ainda sim, meninos brincam inocentes
Às vezes nem tanto assim
Outros nem tanto assim
Outros são tão hostis
Nem brinquedo nem caderno
Os lápis são fuzis
Tem menino que tomba jovem
muito cedo o ódio floresce
O estado não reconhece
Que também é cidadão
Não é dele esta nação
Ele não tem direito
Desde que nasceu
Vive num mundo paralelo
Que o estado esqueceu
Bandido atira na policia
Bandido atira em bandido
Policia atira em bandido
Policia vira bandido
Bandido vira policia
Povo vira refém
Lei não tem
Quem é quem não sei
Terra sem lei
Terra de ninguém
As balas que cortam os barracos
É o rico que paga
Aqueles que trabalham pra ele
Muitas vezes não paga
Em cima das pontes e viadutos os carros caros
Embaixo o miserável
Que a sociedade desprezou
Que a droga o álcool se apossou
Este é nosso estado militar
Que gente vale menos que carro
Que defende a propriedade e extermina humanos
Que empurra sua sujeira
Pra debaixo do tapete
Que enfrenta a indignação do povo
Na base do cassetete
Em se tratando de exclusão
Os pretos são muito mais
Algemas nos pulsos dos pretos, são muito mais
balas no corpo dos pretos, são muito mais
Isso não é por acaso
Posso te dar uma pista
A bala que sai do revolver
Pode ser uma bala racista