De acordo com várias análises, a intolerância israelense, que provocou forte tensão sobre a aliança EUA-Israel, se deve ao fato de que as prioridades do imperialismo norte-americano não se alinharam, pelo menos em primeiro nível, com as visões periféricas de Israel.

Washington deu a impressão de que “objetivando sedimentar a presença do imperialismo norte-americano na valiosa geoestratégica e energeticamente região, usando como muletas as lideranças locais filo-norte-americanas, a fim de serem reduzidas as margens de penetração de outras potências imperialistas, estava disposta a “sacrificar” alguns dos privilégios de seu “bom” aliado na região”.

Mais especificamente, aceitou negociar o regime de assentamentos na Margem Ocidental e Jerusalém Oriental, enquanto, simultaneamente, promoveu ações visando melhorar suas relações com a Síria e, aceitou, apesar dos aforismos, continuar cooperando com o governo libanês, apesar do fato de que deste participa o Hezbollah, o qual, por sua vez, conseguiu a aquiescência das forças políticas libanesas para manter seu vetor armado.

Estas evoluções parece terem preocupado Tel Aviv que, por sua vez, retirou da gaveta seu conhecido arsenal: acusações e lançamentos de mísseis contra Síria, Líbano e, naturalmente, Irã. Particularmente, no último caso, a liderança israelense, abertamente, escarneceu a argumentação do imperialismo norte-americano para criar os fundamentos “terroristo-libertinos” e evitar eventual encontro de solução diplomática que levaria os EUA e as demais potências imperialistas mais perto do Irã.

Beco sem saída

Uma solução assim poderia satisfazer os interesses do imperialismo norte-americano, o qual, por intermédio do conhecido “dividir e reinar” conseguiria seu já mencionado alvo de eternizar seu predomínio, mas, automaticamente, sinalizaria a reavaliação do papel periférico do Irã, como busca o governo de Teerã, papel que, até hoje, “mantinha” com absoluta exclusividade o governo de Tel Aviv. O último “episódio” com os Scud deverá, indiscutivelmente, ser catalogado neste âmbito.

Na fase atual, e considerando o beco sem saída, por enquanto, da “nova tática de fascínio” da presidência Obama em todos os níveis (Irã, Síria e Palestinos, só para citar os exemplos mais gritantes) nada poderá excluir a eventualidade de Washington apoiar o explosivo comportamento de Israel, retornando à experimentada lógica da inflamação militar que a própria Washington será convocada para “combater” depois de, obviamente, municiá-la.

A contraditória posição da liderança norte-americana contra a Síria cria, indiscutivelmente, a impressão de que o imperialismo norte-americano percorre “todos os cenários possíveis”, visando utilizar aquele que ira satisfazer, finalmente, melhor seus interesses.

Forte preocupação árabe

A sensação de que “algo acontecerá” reflete-se, cada vez mais fortemente nos últimos meses, nos veículos de comunicação árabes, que “hospedam” sucessivos artigos de conceituados analistas os quais avaliam que “uma nova guerra na região do Grande Oriente Média parece inevitável”.

Já é forte a preocupação de que será um choque de feição bilateral, a exemplo de como aconteceu no verão de 2006, quando o exército israelense invadiu Líbano e, durante 34 dias e noites, mergulhou no sangue o povo libanês com o pretexto da necessidade de extirpar o Hezbollah (algo que, finalmente, não só não conseguiu, mas, ao contrário, o Hezbollah saiu vencedor e excepcionalmente fortalecido, a ponto de assumir importante papel no cenário político do Líbano).

Quase todas as análises convergem ao ponto de vista de que se finalmente for aceso o rastilho de pólvora incendiará toda a região do Grande Oriente Médio, com incontroláveis consequências para os interesses imperialistas. Isto, exatamente, destacou às politicamente ingênuas autoridades norte-americanas o rei da Jordânia, por ocasião de sua recente visita aos EUA.

O rei Abdala manifestou abertamente estas preocupações, na semana passada, em Amã. Falando a jornalistas árabes e não só, previu que “se até meados de julho, quando será realizada a próxima Reunião de Cúpula da Liga dos Estados Árabes, não tenha sido obtido algum significativo progresso com relação à questão Palestina e, enquanto, a posição provocante israelense permanecer, então, uma guerra catastrófica total é provavelmente inevitável”. Este ponto de vista do monarca jordaniano, compartilham várias outras lideranças árabes de peso, assim como, o secretário-geral da Liga dos Estados Árabes.

Qual de todos estes cenários imperialistas será, finalmente, escolhido para a região, assim como, de que forma, finalmente, será influenciado o cenário que está sendo conformado por fatores que o imperialismo valorizou e valoriza (ocupação israelense, fanatismo islâmico, regimes reacionários autárquicos e, atritos religiosos sectários), os quais, já possuem sua própria dinâmica, permanece sem resposta.

Aquilo que é garantido é que, por uma vez mais, os povos da região do Grande Oriente Médio serão convocados para materializarem os planos imperialistas com o próprio sangue.

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Fonte: Monitor Mercantil