“Elas [as duas correntes] continuam disputando posições políticas, intelectuais, dentro da nossa realidade. E Gudin e Simonsen foram os pioneiros desse debate no Brasil”. Para o Ipea, é importante mostrar a origem das idéias no país.

Autora de uma das publicações que o Ipea lançou dia 30 no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil afirmou que algumas das teses defendidas àquela época não poderiam ser aplicadas agora. “Não na fase atual, depois da crise do último trimestre de 2008”. Ela disse que Gudin se surpreenderia com a atuação do Banco Central brasileiro diante da crise mundial.

“O BC fez tudo aquilo que os conservadores e monetaristas não acham que um banco central deva fazer. O BC interveio, expandiu o crédito, reduziu compulsório, vendeu divisas. Enfim, fez uma grande intervenção na economia para permitir que o Brasil saísse da crise econômica”. Lembrou que o desempenho do BC brasileiro foi acompanhado pelos bancos centrais dos demais países.

Segundo Denise, é um grande avanço no século 21 o reconhecimento de que deixar o mercado dirigir a economia em um momento de crise econômica não leva o país a nada, a não ser a um fundo de poço. Nesse sentido, a intervenção foi generalizada. “Foi uma atuação radicalmente diferente daquela que o Gudin preconizava”. E estava mais alinhada com a tese defendida pelo industrial Simonsen.

“Ele [Simonsen] achava impossível você tirar um país da posição de subdesenvolvido sem intervenção do Estado. Defendia que não havia impulso interno suficiente para levar o país à industrialização”. O Brasil, nos anos 40, era exportador de produtos primários e necessitava de grande impulso externo para montar o parque industrial. Simonsen acreditava que esse impulso só poderia vir do Estado, fazendo grandes investimentos, inclusive como produtor direto, para criar em torno desses empreendimentos várias indústrias simultaneamente, disse a economista.

“Ele via isso como essencial. Sem isso, as indústrias não surgiam porque não haveria demanda suficiente no país”. Seria o próprio Estado que garantiria a demanda e o suporte de consumo para os produtos industriais que viriam a ser gerados. Por isso, Simonsen defendia a intervenção do Estado para realizar esses empreendimentos, bem como a proteção a essa indústria nascente.

Para Denise Gentil, as autoridades econômicas brasileiras estão indo nesse caminho. “A intervenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES] tem sido extremamente ilustrativa da defesa do processo de industrialização”. Como a crise internacional afetou particularmente o setor exportador nacional, espalhando-se por toda a indústria, isso motivou a intervenção do BC, com crédito dirigido para o setor industrial.

Além disso, as políticas fiscais colocadas em prática pelo Ministério da Fazenda protegeram a indústria. “Então, crédito direcionado e desoneração foram práticas agora extremamente importantes para preservar os empregos da indústria e recolocar de novo os patamares de investimento anteriores à crise”.

Segundo a economista, a trajetória econômica adotada pelo Brasil foi totalmente oposta a tudo que Gudin defendia, como a vocação agrícola do país. O Brasil se industrializou e é considerado atualmente a oitava potência mundial e o oitavo Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos bens e serviços produzidos no país. “Isso não é pouco. Então, nós tomamos um rumo e o Estado praticou uma política contrária à do Gudin. E tem dado certo”.

Ela disse que as pessoas podem criticar o ritmo e a intensidade desse processo, mas ressaltou que “ele foi na direção da industrialização. E isso está sendo retomado depois da crise econômica, que foi pedagógica para o mundo capitalista – mostrar que as políticas de proteção ao emprego e à indústria ainda são as que garantem a sobrevivência econômica das várias nações”. Denise estimou que o protecionismo vai ressurgir, depois de uma era neoliberal.

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A informação é da Agência Brasil