Bancos sem mitos
O próximo momento da crise grega se mostra tão previsível que provoca certa incredulidade na resposta dos líderes mundiais e organismos multilaterais. A débâcle argentina de 2001 é tão recente que parece que não aconteceu, para seguirmos nos persuadindo na insistência na receita do fracasso, com o FMI relegitimado pelas potências como auditor e polícia do ajuste. Embora substancial nas decisões, esse comportamento não se deve apenas a uma concepção ortodoxa de abordagem da questão econômica. O aspecto central é a hegemonia das finanças na fase atual do capitalismo global, que orienta o sentido das medidas do ajuste.
Estas medidas visam a evitar as bancarrotas bancárias generalizadas para evadir os custos ainda maiores que os atuais, dramáticos, e que já são ineludíveis. Recessão, destruição de empregos, protestos populares e mortes, aumento de impostos regressivos e redução de salários e aposentadorias, que conformam um quadro de profunda deterioração social são considerados danos menores frente à possibilidade de uma derrubada do sistema financeiro. Para evitá-la, anunciam pacotes milionários de auxílio como um ato de fé, apostando em melhorar dessa maneira as expectativas e em evitar a débâcle, ainda que a contrapartida seja o ajuste que aprofunda a crise e acelera o desenlace da desvalorização e do default.
O grande temor não é a queda da Grécia, que de fato já está prostrada numa virtual moratória, mas a situação dos grandes bancos europeus e o efeito expansivo para o resto da Europa, em especial países vulneráveis, como a Espanha e Portugal. A intervenção ativa da Alemanha nesta crise se explica, além de por sua condição de potência européia, como medida de proteção de seus bancos, dada a elevada exposição creditícia que eles têm nesses três países: na Grécia, 45,003 bilhões de dólares, em Portugal, 47,377 bilhões de dólares e, na Espanha, 237,983 bilhões de dólares.
Nesses três mercados a exposição de entidades alemãs equivale a quase 10% do total dos financiamentos externos de seu sistema bancário. No total, a exposição dos bancos europeus na Grécia chega a 192, 062 bilhões de dólares; em Portugal, a 240, 498 bilhões de dólares e, na Espanha, a 832, 288 bilhões de dólares. A fonte dessas cifras é o Banco Internacional de Compensações (BIS, em sua sigla em inglês) e correspondem ao fim de 2009.
O humor veio colaborar com a compreensão desta e de crises financeiras anteriores. Com ironia, o humorista gráfico espanhol, conhecido como El Roto, fez uma ilustração na qual um banqueiro diz: “A operação foi um sucesso: fizemos parecer uma crise o que não passou de um saque”.
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Fonte: Página 12, na Carta Maior
Tradução: Katarina Peixoto