Ho Chi Min, foi – sem margens para dúvidas – um dos mais sofisticados revolucionários surgidos no século XX. Se para Maquiavel a política ganha status de ciência, em Lênin a tática– o movimento imediato da luta dos trabalhadores — foi alçada ao grau de ciência. Em Ho Chi Minh essa ciência da tática ganha contornos práticos que merecem destaque dada a complexidade e o nível de barbárie que o capitalismo impôs ao socialismo, sobretudo na Ásia. Ho Chi Minh é causa e conseqüência do que Lênin chamou em 1913 de "O Despertar da Ásia", onde ele desenvolve sua tese sobre o imperialismo, apontando a Ásia o local onde o imperialismo toma contornos mais trágicos e sanguinários. È nesse contexto de luta de classes acirrada na Ásia que Ho Chi Minh e seu legado deve ser localizado. 

Ho Chi Minh foi um homem que acordou para a realidade cruel de seu país em seu contato com o mundo. Desde 1911 viajando pelo mundo como cozinheiro de um navio francês, tendo passado muitos dias no bairro de Santa Tereza no Rio de Janeiro, Ho Chi Minh percebe a junção entre racismo e imperialismo. Viveu até 1915 em Londres em 1921 parte para a França exercendo o ofício de jardineiro, onde no final deste mesmo ano contribui na fundação do Partido Comunista Francês. Neste país em meio a debates e crises ideológicas da esquerda francesa sobre o papel do país na Ásia e na África e nesse contexto – corajosamente expõe o caráter reacionário da ocupação francesa da Península da Indochina. Cônscio do papel de seu país na luta antiimperialista internacional, em 1923 parte para a URSS onde se forma em táticas militares e se torna um militante do Comintern. 

Em 1925 parte para a China onde enfrenta o poder reacionário do Kuomintang, onde inclusive passou por prisões. Anos depois, em Hong Kong, sempre perseguido, consegue fundar o Partido Comunista da Indochina em 1930. Porém, é preso novamente por agentes ingleses permanecendo mais três anos na prisão. 

Depois de conquistada a liberdade, Ho Chi Minh ainda cumpriu tarefas como conselheiro militar das forças armadas da China e com a invasão do Vietnã pelas tropas japonesas, em 1941, organizou o movimento pela independência nacional que ficou conhecido como Vietminh, para lutar contra os japoneses. Quando o Japão se rendeu e perdeu a guerra em 1945, o Vietminh assumiu o poder e proclamou a República Democrática do Vietnã, em Hanói. Ho Chi Minh tornou-se o presidente do país. A França, entretanto, não concedeu a independência ao Vietnã e por longos oito anos ainda o Vietminh lutou contra as tropas francesas a partir das montanhas e dos campos de cultura do arroz.
 
Pela própria natureza de suas tarefas históricas, Ho Chi Minh teve que se especializar nas artes militares – e desenvolver esta capacidade a partir das experiências dos povos e da doutrina marxista-leninista, tendo em vista a aplicação concreta nas condições do Vietnã. Mais especificamente Ho Chi Minh precisou enfrentar a questão do domínio colonial, das lutas contra o imperialismo. Partiu em sua elaboração também da herança tradicional de luta do povo vietnamita e indochinês contra todo o tipo de invasão estrangeira. 

A percepção fundamental de seu pensamento militar foi o de conceber a luta contra o colonialismo e o neocolonialismo no contexto mundial de luta dos povos por sua libertação. A luta no Vietnã contra a invasão japonesa, os 98 anos de domínio colonial francês e sua substituição pela invasão imperialista norte-americana, sofreu a influência internacional da luta dos povos contra seus respectivos dominadores, como também a resistência na península indochinesa exerceu impacto importante no mundo inteiro. A vitória vietnamita na batalha de Dien Bien Phu, por exemplo, teve uma projeção extraordinária na luta contra o colonialismo. O período que vai de 1954 ao final dos anos 60 do século passado foi palco de mais de 40 nações que se tornaram independentes. A ofensiva contra o colonialismo libertou mais de um bilhão de pessoas em mais de 100 países. 

Ante a tomada de consciência dos povos oprimidos e as derrotas e o fracasso do velho colonialismo, os imperialistas, encabeçados pelo imperialismo estadunidense se viram obrigados a recorrer a um colonialismo disfarçado: o neocolonialismo. O neocolonialismo se constitui assim numa política imperialista dirigida a salvar o colonialismo de sua liquidação total e impedir que os países progressistas alcançassem sua independência verdadeira, a frear o movimento de libertação nacional e as tendências rumo ao socialismo. 

Nesta mesma esteira, já citada acima, de desenvolvimento do conceito de imperialismo e neocolonialismo, outra grande idéia desenvolvida por Ho Chi Minh foi a de que a revolução pela libertação nacional deve ser travada pari passucom a luta pela libertação social. Nesta questão Ho Chi Minh procurou destacar que é preciso uma aplicação criativa das teorias revolucionárias em cada país – de acordo com suas particularidades históricas e culturais. Seguindo esta orientação foi possível explorar as contradições estratégicas entre as grandes potências, inclusive entre as tendências internas reacionárias dominantes nos próprios países imperialistas agressores.
 
Assim foi possível descortinar a possibilidade de vitória de um pequeno país dominado pelo colonialismo sobre um império colonial poderoso, mais forte e melhor equipado do ponto de vista militar. Ho Chi Minh concebeu a resistência como uma guerra insurrecional – uma guerra de todo o povo oprimido. A luta de resistência deveria levar em consideração as posições de força, as oportunidades, as condições do terreno e de clima, a união do povo. Este último fator foi fundamental em função do patriotismo, da tradição de luta contra os agressores estrangeiros, a consciência política e organizativa que se transformou numa verdadeira muralha de aço contra os inimigos da pátria. De uma forma mais abrangente, a luta se desenvolveu em várias frentes ao mesmo tempo: na esfera militar propriamente dita, no plano político, econômico, cultural e diplomático. 

Por fim, o pensamento militar de Ho Chi Minh se baseou no conceito de que a construção de um exército revolucionário antes de tudo é uma tarefa política. Ho Chi Minh sempre destacou o fato da necessidade de que o Exército esteja sob estrito comando do Partido em todos os sentidos. O fator decisivo neste sentido é construir e consolidar o sistema de organização partidária desde as células de base até o Comitê Central, com quadros políticos e instâncias de direção sendo o Exército vinculado diretamente ao trabalho político. Os quadros políticos e militares devem estar unidos por laços de companheirismo e solidariedade. Ho Chi Minh concebia o povo como a base e o verdadeiro pai do Exército. É por isso que o Exército deveria lutar e ajudar o povo em suas tarefas. E vice-versa o povo é chave na sustentação popular das atividades militares, com o apoio decisivo das organizações de massa. 

Disse Ho Chi Minh que "todos vocês, do Comitê Central até as organizações de base, devem preservar a unidade partidária como se fosse a maçã de seus olhos", e que a realidade histórica de mais de 70 anos de atividade do Partido Comunista do Vietnã mostrou que sempre que a organização partidária primou pela solidariedade interna, mesmo quando havia dificuldades de ação de suas lideranças entre as massas, foi possível superar todos os problemas. Ao contrário, se não houvesse solidariedade real no Partido, ele não teria as condições de liderar o movimento de massas, tornando-se fraco, com seu prestígio em queda e perderia a fé do povo em sua capacidade política. 

Ao lado desta preocupação com a construção partidária, Ho Chi Minh procurou desenvolver a solidariedade com os países vizinhos, com as nações socialistas e com os países da comunidade internacional, inclusive com os movimentos progressistas e democráticos dos próprios países imperialistas. Esta sempre foi uma questão vital do pensamento político e militar do líder vietnamita. 

Na atualidade mundial, na busca pela paz e na luta contra as guerras de ocupação neocolonial e imperialista, as bandeiras da independência nacional, pela democracia e o progresso social, nas tarefas do desenvolvimento econômico – é fundamental este espírito de cooperação internacional entre os povos em desenvolvimento, adotado pelos companheiros vietnamitas. 
Participação de Ho Chi Minh na Internacional
 
Em sua trajetória revolucionária, Ho Chi Minh ou Nguyen Ai Quoc (um de seus 174 codinomes clandestinos) participou da vigésima segunda sessão do V Congresso da Internacional Comunista, em 1º. de julho de 1924, onde tomou a palavra depois da intervenção de Manuilski – então dirigente da Internacional e do Comitê Central do PC da União Soviética – que havia criticado a atividade insuficiente do PC da França na propaganda nas Colônias e mesmo em Paris em favor da independência colonial:
 
"—Me contento em complementar as críticas do camarada Manuilski. Os nove países colonizadores, quer dizer, Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha, Itália, Japão, Portugal e Holanda, possuem juntas, uma população de 310 milhões e 200 mil habitantes e uma superfície de 11 milhões e 470 mil Km quadrados. Estes países exploram um domínio colonial cuja extensão supera os 55 milhões e 500 mil km quadrados, com uma população de 560 milhões de almas. Os países colonizados são, pois, cinco vezes maiores que os países colonizadores, e a população destes últimos é três quintos inferior à dos primeiros. Portanto, é absolutamente necessário que nossos partidos da Grã Bretanha e França tenham uma política mais ativa e enérgica para as Colônias; senão a consigna de "ação de massas" continuará sendo estéril. Melhor dizendo, até hoje têm sido inoperantes. A imprensa do Partido não estaca este grave problema no espaço e importância que merece".
 
A fundação do PC da Indochina
 
Após esta participação na Internacional, na União Soviética, Ho Chi Minh foi enviado para Cantão, na China, onde organizou um movimento revolucionário entre os exilados vietnamitas. Foi forçado, na ocasião, a deixar o país quando as autoridades locais passaram a reprimir as atividades comunistas na região. Mas Ho voltou à China onde fundou com outros revolucionários o Partido Comunista da Indochina em 1930. Permaneceu em Hong Kong como representante da Internacional.

A criação do Vietminh 

Depois de conquistada a liberdade, Ho Chi Minh ainda cumpriu tarefas como conselheiro militar das forças armadas da China e com a invasão do Vietnã pelas tropas japonesas, em 1941, organizou o movimento pela independência nacional que ficou conhecido como Vietminh, para lutar contra os japoneses. Quando o Japão se rendeu e perdeu a guerra em 1945, o Vietminh assumiu o poder e proclamou a República Democrática do Vietnã, em Hanói. Ho Chi Minh tornou-se o presidente do país. A França, entretanto, não concedeu a independência ao Vietnã e por longos oito anos ainda o Vietminh lutou contra as tropas francesas a partir das montanhas e dos campos de cultura do arroz. 

A Batalha de Dien Bien Phu e a última fase da Guerra do Vietnã

Finalmente, na famosa batalha de Dien Bien Phu, em 1954, os vietnamitas sob a direção do General Vo Nguyen Giap, expulsaram as tropas francesas do país, dando fim a uma ocupação colonial que se estendeu por 98 anos. Na Conferência de Paz de Genebra, no entanto, o Vietnã foi dividido em dois. O Norte, sob o comando do Vietminh e de Ho Chi Minh, passou a construir o socialismo, enquanto o Sul, ligado aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, tinha capital em Saigon. 

A partir de 1960, a guerra de guerrilhas estalou no sul contra o regime títere. Ho Chi Minh nesta altura apresentava uma saúde muito precária e faleceu no dia 3 de setembro de 1969, passando suas tarefas para novos dirigentes como Phan Van Dong e Vo Nguyen Giap. Em sua honra, o Partido Comunista do Vietnã nomeou a antiga cidade de Saigon como Ho Chi Minh. Ho, o fundador do comunismo no Vietnã foi a verdadeira alma da revolução. Suas qualidades pessoais, seu exemplo de simplicidade, integridade e determinação revolucionária influenciam ainda hoje as gerações do movimento progressista e avançado do mundo. 

O legado de Ho Chi Minh

Ho Chi Minh não foi somente um revolucionário. Foi um líder de gênio suficiente para colocar em xeque não somente o poder imperialista sobre seu país, mas também sobre o mundo. Capaz de perceber a diferença entre uma superestrutura putrefata e uma sociedade pulsante, Ho Chi Minh teve o mérito de colocar o povo norte-americano contra uma guerra cruel, injusta e sem fundamentação racional. Esse seu exemplo guarda grande significado. Uma ditadura militar internacional foi montada nos Estados Unidos como consequência de ataques terroristas contra – não somente – o Estado imperialista, mas contra os próprios habitantes do império. Eis um deferencial do pensamento de Ho Chi Minh: trabalhar a luta política partindo de uma concepção científica da luta em si. 

Por outro lado, fica uma questão: o que é o Vietnã hoje? Apesar de mais de um quarto seu território estar inutilizado para a prática da agricultura – resultado de ataques selvagens por aqueles que hoje defendem os "direitos humanos" – o Vietnã em termos absolutos é o país do mundo com maior média de crescimento econômico da última década. Seu objetivo para 2020 está na eliminação da miséria, porém sob uma larga base econômica. Sua pauta de exportações sofreu uma enorme mudança nos últimos anos, transitando largamente de um país exportador de arroz, café e outros gêneros alimentícios, para outro pronto para adentrar ao "valor agregado industrial" em sua pauta de exportações. Se a própria revolução vietnamita por ele dirigida foi uma demonstração da capacidade do marxismo em se adequar a diferentes realidades, o recente desenvolvimento do país acelerado após 1986 é expressão desta forma não dogmática de se enfrentar a realidade. 

É na luta diária dos povos do mundo, no exemplo heróico de luta do povo vietnamita e no robusto desenvolvimento deste lindo país é que se encontra a historicidade deste grande homem e revolucionário exemplar.

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Presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)