"Esse acordo não foi proposto por nós não”, disse Amorim. “O que o Irã disse foi que vai cumprir um acordo que foi proposto pelo G-5+1.” Trata-se dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU ? EUA, Rússia, China, França e Reino Unido – e a Alemanha. Para Amorim, o acordo é para criar confiança, mas é preciso que pelo menos seja examinado antes de sofrer condenação. Para o governo brasileiro, isso é importante para seguir negociando outras etapas.

“Tanto os turcos como nós colocamos de forma muito clara que era uma oportunidade ímpar de o Irã sair do isolamento”, disse o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. “Todo mundo tem que entender que o problema do contencioso nuclear do Irã não está resolvido, mas foi dado um passo importante, ainda mais porque eles aquiesceram. E isso porque viram que havia dois interlocutores que não estavam la para satanizá-los”, afirmou Garcia.

O presidente russo Medvedev conversou com o presidente Lula e disse que iria telefonar a Obama. O pacote de sanções contra o Irã parecia já estar pronto, mas acha que o acordo impulsionado pelo Brasil e Turquia abre a possibilidade “de outro caminho”. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, resolveu viajar a Madri hoje cedo e conversar com Lula. Amorim disse ter relatado ao presidente francês detalhes que ele teria considerado positivo.

Poucos minutos depois de Lula ter entrado no elegante Hotel Intercontinental, um dos ministros britânicos mais duros, William Hague, saia pelo mesmo local defendendo sanções contra Teerã. Garcia reagiu, acusando: “Essas pessoas só trabalham com essa hipótese. Não é resposta de quem está cético, mas de quem não quer o acordo. Esse é o problema. Acham que a politica tem que ter sempre um inimigo bem localizado, que é o Irã, o grande satã’.”

Para o assessor de Lula, se a ONU votasse a sanção contra o Irã, ela seria “meio bamba”. Isso, segundo ele, porque a Rússia deixou bem claro na conversa com Lula que até votaria a sanção, mas bem pequena, com muito barulho e pouco conteúdo, pois tem interesses muito grandes na regiao. A China, afirma Garcia, “não fala, mas estava na mesma direção, mas, ainda que as sanções fossem meio bambas, iam liberar os Estados Unidos e a União Europeia para fazer sanções adicionais, que provocariam dificuldade para a sociedade iraniana”.

Ele acusa “pessoas”, sem citar nomes, “que esperam que as sanções venham mudar o regime iraniano. É uma visão profundamente equivocada, que mostra desconhecimento da situação interna do Irã. As sanções só teriam o efeito de solidificar os iranianos em torno de seu governo, é uma sociedade muito complexa, há muitos centros de decisão, não é um Estado totalitário, como outros podem ser”.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, confirmou que o Brasil quer continuar na posição de mediador e isso vai ser levado em conta por todo mundo. Disse que o presidente Lula “vai reivindicar” que o Brasil e a Turquia “se juntem ou acompanhem” as iniciativas do G-5+1. Para o influente jornal inglês “The Guardian”, o acordo mostra que Brasil e Turquia são novas forças globais. “O fato é que o Irã assinou um acordo que mexe com o jogo”, diz Martins.

Segundo Amorim, o Irã colocou agora no papel o que nunca tinha colocado antes sobre seu programa nuclear, sem ambiguidade, e “isso ensejaria, no mínimo, uma reflexão”. E completou, em direção aos americanos e europeus: “Apenas criamos uma maneira para que o acordo fosse assinado por quem o propôs”.

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Fonte: jornal Valor Econômico