Introdução

Televisão e futebol são, na atualidade, grandes negócios na e da ubíqua Indústria Cultural (MÉSZÁRÓS, 2004). Elemento simbólico utilizado na construção da identidade nacional (ANTUNES, 2004) o futebol foi adicionado como instrumental de construção da unidade nacional em pleno processo de urbanização e industrialização brasileira concomitante ao desenvolvimento e afirmação dos jornais, do rádio e da televisão, tornando-se neste processo um objeto de interesse social massivo, apresentando fases econômicas e de organização distintas, acompanhando as semelhanças ocorridas em outros países capitalistas, mas com particularidades locais. Neste desenvolvimento histórico, houve uma profunda transformação e ressignificação do esporte mais popular do Planeta pela mídia, promovendo uma apropriação e consequente reorganização do contato das pessoas com sua prática, com o foco direcionado para a sua dimensão do alto rendimento, transformando-o em telespetáculo (BETTI, 1998). Nesta simbiose, criou-se uma estrutura que compõe o aparato estruturado do poder ligando-se à produção de bens simbólicos, na qual a televisão aprisionou, como sendo sua mina de ouro, o futebol.

O futebol passou por algumas fases durante seu desenvolvimento histórico em todos os países onde foi adotado e no Brasil, não foi diferente, acompanhando os ciclos do desenvolvimento capitalista e da modernidade tornou-se símbolo de poder para dirigentes e de status social para os grandes jogadores. Neste processo, o relacionamento com o mass media foi sendo alterado qualitativa e quantitativamente de acordo com o desenrolar tecnológico do sistema econômico capitalista e dos próprios meios de comunicação. Ele foi ganhando uma nova configuração social, com reflexos nos espaços públicos destinados a ele, como estádios gigantescos espalhados pelo país, tendo como espírito fundador o Estádio do Maracanã (MOURA, 1998).

Um discurso midiático próprio (BETTI, 1998) foi sendo tecido por intelectuais e jornalistas, como José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues (ANTUNES, 2004). Foram estes personagens que introduziram de maneira “séria” o futebol nos grandes veículos de imprensa, enxergando seu potencial a partir dos pressupostos lançados por Gilberto Freyre e a tese que se seguiu, como desdobramento político, que defende o mito de democracia racial a partir da ideia de um futebol irracional, mulato e sinuoso (FREYRE E, 2003; FILHO, 2003; DAMATTA, 1982) . A partir deles e com a legitimação desta corrente do pensamento que inaugurou as interpretações e os estudos sobre o futebol, foram sendo criadas editorias, cadernos e jornais próprios, desde os primeiros como o Jornal dos Sports e a Gazeta Esportiva, até os atuais Lance e os Cadernos de Esporte dos grandes jornais brasileiros.

Nasce a TV no Brasil

Na TV brasileira o futebol começou a ser transmitido em 1951. Já a criação do que conhecemos nos dias atuais como “mesa redonda”, iria surgir nos anos 1960. Já neste período, o esporte bretão tornava-se um dos principais “produtos” explorados pela TV comercial brasileira. Neste desenrolar, foi ocupando lugar de destaque na grade da programação televisiva dos canais abertos e fechados. Nos canais comerciais, sua inserção foi e é pautada pelos índices de audiência, possibilitando a venda de espaços publicitários de maneira antecipada, nos horários nobres a preços astronômicos. Aproximou-se do conceito de cultura e educação com o advento da televisão educativa no final dos anos 1960, a primeira experiência de televisão pública no Brasil. Mas é a sua abordagem comercial que prevalece até os dias atuais, inclusive nas emissoras públicas.

A introdução de várias câmeras posicionadas estrategicamente no interior dos estádios alterou a percepção técnica do jogo em si durante as transmissões (BETTI, 1998) transformando o jogo coletivo em espetáculo individual, criando, assim, o fetiche à imagem do drible, do chute, do close sobre o craque. Fato que transformou o jogador em produto-mercadoria sendo alvo de disputa das grandes marcas de material esportivo e de empresas que querem vincular sua imagem à excelência da técnica, nesta lógica alienada do jogo, promovendo o surgimento de um futebol abstrato e, em certa medida, diferente daquele visto e jogado pelas massas de torcedores.

Objeto de desejo e de disputa entre emissoras e anunciantes o futebol rompeu suas últimas barreiras planetárias após 1994 com a realização da Copa nos EUA e, em 2002, no Japão-Coréia (MURRAY, 2000). A Copa do Mundo, expressão máxima do futebol praticado nos países filiados à Fifa , sofreu uma metamorfose (PRONI, 2000) na forma de se relacionar economicamente na e com a sociedade. Esta transformação ocorreu inicialmente na Europa, seu berço, e mais de cem anos depois irradiou uma nova onda de globalização após o seu primeiro ciclo na segunda metade do século XIX. Conforme explicita a declaração a seguir:

A Copa de 1986 é uma das mais expressivas, quando se pensa na relação entre mídias e futebol. Toda a grade horária dos jogos foi feita pensando na melhor estratégia para o telespectador, principalmente o europeu. A conseqüência disso é que a maior parte das partidas aconteceu em pleno verão, sob um sol escaldante. Essa era a forma para que os jogos fossem veiculados em horário nobre no continente europeu” (A HISTÓRIA DO FUTEBOL 5; A IMPRENSA, 2001)

Esta estratégia aumenta a cobiça e a disputa entre os grandes conglomerados e grupos de comunicação detentores de canais e empresas de televisão em âmbito local e/ou de grandes grupos internacionais e se estende à imprensa escrita. Iniciando, por razões históricas óbvias, no Reino Unido, onde surgiu o futebol moderno, irá percorrer o mesmo caminho nos países aonde o futebol foi levado pelos ingleses e se estabeleceu, incluindo a América do Sul ( primeiro na Argentina e Uruguai e tardiamente no Brasil, já na virada do século XIX).

A neoexpansão do futebol

Em 1992, na mesma Inglaterra, o futebol deu passos decisivos para transforma-se num grande negócio midiático. Por 46 milhões de libras, a Sky Sports Television ganhou a licitação para explorar as transmissões dos jogos da Premier League inglesa (A História do Futebol 5; A IMPRENSA, 2001). Com pagamento de direitos de transmissão dos jogos aos clubes, o futebol inglês conseguiu ressurgir dos terríveis anos 1980, quando a violência havia tomado conta dos estádios expressa na ação dos hooligans . Novas e moderníssimas arenas foram erguidas, substuindo os velhos estádios. A contratação de jogadores estrangeiros e supercontratos de publicidade serviram como o modelo de referência para a Europa e para o restante dos países, abrindo assim uma nova fase na história do futebol.

Vale lembrar que na Inglaterra o principal canal de TV é público: a BBC. E que todo o processo de concessão de exploração comercial na televisão foi polêmico e controlado por meio de objetivos e limites muito definidos para que o caráter público do sistema de televisão não fosse entregue à exploração comercial.

Já no Brasil, a década de 1930 marca o período de acelerada popularização do futebol. A febre que havia ocorrido nos anos 1920 na Europa (MURRAY, 2000), chegou. As transmissões radiofônicas desempenharam um papel importante. Com o futebol caindo no gosto das amplas parcelas da sociedade, quem não podia ir ao estádio, que já abrigava um público mais amplo que o das décadas anteriores, acompanhava os resultados dos jogos pelo rádio.

A ampliação das transmissões radiofônicas de eventos esportivos na década de 1930 propiciou um aumento ainda mais significativo do público do foot-ball. O torcedor, que não podia ir ao estádio por motivos pessoais ou econômicos, acompanhava o jogo de sua própria casa. O rádio funcionava como uma forte propaganda em favor do foot-ball. A imprensa escrita também passou a dar maior destaque às coberturas esportivas (SOUZA, 2008).

Segundo uma pesquisa feita pelo Departamento Nacional do Comércio, os periódicos esportivos foram os que tiveram maior crescimento nas primeiras décadas do século, saltando de cinco jornais em 1912 para 58 em 1930. Destacou-se, em 1931, a fundação do Jornal dos Sports por Argemiro Bulcão. Este periódico teve importante participação no desenvolvimento desportivo nas décadas seguintes, principalmente após 1936, quando Mário Rodrigues Filho se tornou seu proprietário (SOUZA, 2008, pág.32).

O rádio apropriou-se e disseminou a ideia de “país do futebol” pelo território nacional. O rádio e o futebol já eram parte integrante do cotidiano na década de 1930. A transmissão da Copa do Mundo da França, em 1938, ratificaria essa condição irreversível:

(…) O Brasil inteiro parou, nas ruas, em frente às lojas, em casa, em toda a parte, para ouvir as irradiações do Gagliano Neto (…). Muitas pessoas que não tinham rádio se aglomeravam n Largo do Paissandu, em São Paulo, e diante da Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro, para acompanhar as narrações do Gagliano, amplificadas por alto falantes (SOARES, 1994, pág33).
A geração dos ídolos “invisíveis” chegaria ao fim logo após a derrota do Brasil na final disputada contra o Uruguai na Copa do Mundo de 1950, no episódio conhecido como Maracanazo.

O Jogo dá lugar ao espetáculo

A televisão herdou esta construção midiática iniciada pelo rádio e transformou as transmissões esportivas em espetáculo comercial onde a imagem passou a ser o grande trunfo agregado à competente escola de narradores e repórteres. Para se ter uma ideia do lucrativo negócio nos dias atuais, as emissoras Globo e Bandeirantes que irão transmitir os jogos da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, trataram de vender cotas aos anunciantes desde março de 2009 e as inserções foram ao ar imediatamente conforme anunciou a reportagem do Jornal O Estado de São Paulo.

Na Band, seis cotas estão à venda, por R$ 169 milhões cada. No início do mês, a Globo disponibilizou suas seis cotas e pelo menos três delas – a R$ 81, 6 milhões cada – estão praticamente acertadas. Segundo a Band, seu preço de tabela, maior que o da Globo, se explica por contemplar número de inserções e prazo de exibição superiores ao pacote do emissora da família Marinho. Tanto Globo como Band só podem oficializar a venda das cotas após os patrocinadores oficiais da Federação Internacional de Futebol (Fifa) abrirem mão da preferência. (ESTADO, 2009).

Os valores e a movimentação acima dizem respeito aos canais abertos. Entretanto, nos canais fechados, onde a publicidade e a inserção de anúncios deveria ser limitada – senão vetadas pelo poder público, no caso a Anatel e o Ministério das Comunicações, órgãos responsáveis pelo controle do setor – o canal Sportv, da Rede Globo, já negociou a venda dos espaços aos anunciantes, em um total desrespeitoso aos assinantes que pagam para receber a programação do canal fechado, a priori, sem intervalos comerciais, como se pode constatar a seguir.

Desimpedido dessa cláusula, o SporTV já vendeu suas seis cotas por R$ 20,8 milhões cada. Ambev, Castrol, HSBC, KIA, Mc Donald''s e Visa terão direitos a 10.970 inserções no canal, a partir de abril, com as eliminatórias da Copa. Já a ESPN Brasil informa, por meio de sua assessoria, que ainda negocia os direitos de transmissão do evento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo (ESTADO, 2009).

Estes dois panoramas além de indicarem que tanto as emissoras abertas ( que apesar de dependerem dos patrocinadores autorizados pela Fifa) como as fechadas se movimentam na busca de um faturamento cada vez maior. Ao mesmo tempo, evidenciam uma total inversão de posições entre o criador e a criatura. Se inicialmente o rádio e a TV ajudaram na popularização do futebol, tornando-o parte do dia-a-dia, aos poucos o futebol deixou de depender da televisão para ser um fenômeno de massas e a TV comercial passou a depender do futebol para vender anúncios.

Isto fica evidente todas as vezes que alguém sugere tirar exclusividades das TVs comerciais em relação às transmissões esportivas, mesmo sendo, na atualidade, de grande interesse público. O deputado Sílvio Torres, por exemplo, apresentou o Projeto de Lei 1878/03 que despertou a ira e causou tumultos na Câmara dos Deputados, desencadeando uma forte e agressiva reação das emissoras comerciais. O projeto do deputado sugeriu o repasse das transmissões das competições esportivas aos canais públicos – neste caso a TV Brasil seria a beneficiária direta.

Atualmente, as emissoras compram os direitos de transmissão de determinados eventos, mas não são obrigados a transmiti-los. O PL propunha rever essa condição ao permitir que os canais públicos transmitissem os eventos que, a priori, não entrariam na grade das TVs comerciais. Os jogos universitários e estudantis são bons exemplos. A Globo detém os direitos de transmissão, mas com raridade sequer noticia os eventos.

Se diversas emissoras tivessem os direitos de transmissão de um evento como a Copa do Mundo, de forma igual, como acontecia em meados da década de 1980, o público teria mais opções para assistir as transmissões e os diversos profissionais de comunicação, como jornalistas, radialistas e publicitários, que entram anualmente no mercado, teriam maiores oportunidades de serem absorvidos pelas empresas de comunicação.

As transmissões oriundas do rádio influenciaram e muito o jeito com que os narradores transmitem os jogos pela TV, inclusive de tornar jogos ruins tecnicamente em eventos de muita emoção. No entanto, eles esquecem que as imagens estão ali e que, muitas vezes a imagem real do lance de fato não reflete a intensidade com que o narrador tenta dramatizar a situação. Como exemplo pode-se citar o Galvão Bueno, da Rede Globo. Alvo de críticas por justamente se comportar desta maneira a cada narração, como se existissem dois jogos: um visto por ele e um outro visto pelos outros, mas que não aparece nas narrações feitas por ele, um universo paralelo, abstraído.

Desde o advento da TV à cores e a transmissão ao vivo da Copa do Mundo de 1970, no México, para vários países, o futebol que já o era, passou a ser com maior ênfase o centro das atenções dos donos e, por consequência, dos produtores de televisão na busca do formato televisivo que ele possui nos dias atuais. Em 1967, Guy Debord desvelou este fenômeno o qual denominou de Sociedade do Espetáculo:

O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Ele não é um suplemento ao mundo real, a sua decoração readicionada. É o coração da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares, informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o seu corolário o consumo. Forma e conteúdo do espetáculo são, identicamente, a justificação total das condições e dos fins do sistema existente. O espetáculo é também a presença permanente desta justificação, enquanto ocupação da parte principal do tempo vivido fora da produção moderna (DEBORD, 1997).

A ideia de espetáculo está presente para os telespectadores brasileiros desde a primeira grande experiência de transmissão de imagens relacionadas ao futebol. Foi com o Canal 100 que as imagens ganharam força e prepararam o olhar do telespectador. Os cinejornais, como eram chamados, levavam às telas do cinema imagens impressionantes de jogos de futebol. Os gols do campeonato carioca, do campeonato paulista ou da seleção brasileira de futebol tornaram-se habituais nas telas das grandes salas de cinema do Rio de Janeiro e de São Paulo antes da exibição de filmes. Foi neste caminho que a televisão importou do rádio e da imprensa esportiva personalidades para dar continuidade às discussões sobre as rodadas do futebol nos finais de semana, que havia marcado a Era do Rádio nos anos 1930 a 1950 e permanece presente até os dias atuais com força.

Nascem as mesas redondas

A primeira experiência televisiva de debates sobre as rodadas semanais do futebol foi criada na TV Rio, por Walter Clark e Luiz Mendes, em 1963, era a Grande Revista Esportiva. Logo passou a se chamar Grande Resenha Facit, com o patrocínio da empresa Facit, fabricante de máquinas de escrever. A mesa-redonda foi levada para a TV Globo em 1966. Pouco antes da sua estréia, entre os meses de junho e agosto, por ocasião da Copa do Mundo da Inglaterra, foi exibido na emissora o programa Facit com a Seleção, se consolidando como a Grande Resenha Facit. Inaugura-se, assim, a falação esportiva (BETTI, 1998).

O programa que era dirigido por Augusto Melo Pinto e contava com grandes personalidades ligadas à crônica esportiva da época e muitos ainda atuais, como Luiz Mendes, João Saldanha, Armando Nogueira, José Maria Scassa, Nélson Rodrigues, Vitorino Vieira, Alain Fontain e Hans Henningsen (o qual Nélson Rodrigues apelidou de “O Marinheiro Sueco”) foi a primeira grande experiência exclusiva para o debate esportivo na TV.

O apresentador Luiz Mendes conta que sugeriu a ideia da mesa-redonda ao então diretor da TV Rio, Walter Clark, depois de assistir na emissora a um debate político entre os comentaristas Oliveira Bastos, Murilo Mello Filho e Villas-Boas Corrêa. O apresentador achava os debates interessantes e se questionava por que não poderia ser feito um programa no mesmo formato sobre futebol, já que os jogos eram disputados todo final de semana. Interessante observar que desde o rádio, a tendência de os nomes dos programas serem alusivos aos nomes dos patrocinadores é marcante, sendo fiel ao discurso de inauguração feito por Assis Chateubriand e ao espírito comercial da TV brasileira.

Em 1969, João Saldanha saiu temporariamente do programa, quando assumiu o comando da seleção brasileira de futebol. Sua equipe ficou conhecida como as “feras do Saldanha”. A poucos meses antes da Copa do México de 1970, por divergências com a então direção da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje CBF. Saldanha deixou o comando da equipe classificada para o mundial de 1970. No período em que atuou como técnico, Saldanha participou da mesa-redonda apenas como convidado do programa. Nos seus três últimos meses de vida, o programa ganhou o nome de Super Resenha Esportiva.

A fórmula e de mesas redondas para debater a rodada do futebol permanece até os dias atuais quase sem alterações, demonstrando a capacidade de reprodução na TV de modo duradouro. Mesmo os canais fechados e especializados em esporte não abrem mão do formato criado por Walter Clark que há mais de quatro décadas é exibido não só por canais comerciais, mas também por canais educativos e públicos, como é o caso da TV Brasil que exibe o programa Sportvisão aos domingos no horário nobre das mesas redondas.

Considerações finais

O futebol moderno desde que foi organizado na Inglaterra em meados do século XIX viveu algumas fases distintas até alcançar a atual forma espetacularizada, e o seu lado mais explorado pelo capital: o fetiche. Isto permite inseri-lo na dinâmica de uma economia que alimenta a dimensão do alto rendimento em detrimento do espírito fundador do futebol moderno: educar para a sociedade moderna. A venda de produtos e o consumo do telespetáculo (BETTI, 1998), hoje, ao lado das novelas de televisão, compõe o repertório da ubíqua Indústria Cultural brasileira e global, que se apoia na televisão como a principal fonte de reprodução de uma linguagem e um discurso próprio muitas vezes, dissociados da realidade material objetiva da maioria da população brasileira. Os megaeventos esportivos, no qual incluímos a Copa do Mundo, representa o ápice dos significados atuais do futebol para a economia do esporte: negócio.

As TVs públicas, especialmente a TV Brasil poderiam rearticular o discurso fundador do esporte moderno, explorando a dimensão humana dos significados culturais fundadores do futebol moderno. Mas, mesmo a TV pública, torna-se refém da lógica que orienta a economia de mercado e a busca do lucro mesmo que, para isto, seja necessária a criação de um universo paralelo à realidade material das relações sociais na atualidade. Um universo apartado do mundo real, onde o futebol pode ser praticado como movimento livre e emancipador, promovendo e rearticulando relações humanas a partir do jogo jogado entre seres humanos que buscam o prazer de correr atrás de uma bola, apesar de a bola correr mais que os homens (DAMATTA, 2006)

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