O início de uma rodada de queda-de-braço sobre modelos capitalistas entre franceses e alemães com a Grã-Bretanha fomenta o choque dos três sobre o problema maior de traçar instruções de novos cânones de funcionamento dos hedge funds e dos capitais particulares para investimentos (private equity funds) alavancados pela União Européia (UE).

França e Alemanha rejeitaram a proposta da Grã-Bretanha de retardar a decisão para a severa fiscalização destes capitais. Uma recusa que testará as pretensões e resistências do líder dos conservadores e novo primeiro-ministro da Velha Albion, David Cameron.

Helena Salgado, ministra de Economia da Espanha, também busca traçar, rapidamente, um severo âmbito de fiscalização desses capitais, porque mês que vem vence a gestão de seu país na presidência pro tempore da UE.

A importância dos serviços bancários para a economia da Grã-Bretanha é considerável. Bancos e instituições semelhantes – hedge funds e private equity funds – foram por longo período grandes alavancas de geração da riqueza nacional.

Centro da especulação

O governo anterior, de Gordon Brown, havia resistido às pressões de Paris e Berlim para aplicar-lhes “freio e brida”. Contudo, a Grã-Bretanha enfrenta amplo leque de problemas, provocados pelas prioridades econômicas dos últimos 20 anos e, sua insistente recusa de aplicar limitações.

A Grã-Bretanha julga que Londres é “o maior centro financeiro da Europa” e não deverá ser posto em posição comparativamente menor. A Velha Albion considera que “o que é vantajoso para Londres é vantajoso para a Europa”.

A City londrina hospeda 80% dos hedge funds da Europa e 60% dos private equity funds, os quais, com base na instrução, deverão acatar severos critérios de funcionamento se desejarem continuar atuando nos mercados da UE.

Fortemente discordante é, também, a posição do secretário de Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, o qual avalia que, se a instrução for aprovada, constituirá discriminação em detrimento dos hedge funds e dos private equity norte-americanos.

Poliglota globalizado

A UE atravessa uma crise após outra. O último que desejaria neste momento seria um choque com o novo primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Em tempos de patente incerteza e fraqueza, Cameron constitui um problema sério para a UE.

Em 2006 retirou os conservadores do Partido Popular Europeu, em um esforço visando a ganhar a boa vontade dos deputados euroceticistas britânicos. Os eurodeputados conservadores já pertencem ao mesmo esquema político europeu com o poloneses que rejeitam a ocorrência do Holocausto e com os representantes dos países bálticos com posturas neonazistas.

Cameron prometeu, também, que organizará plebiscito sobre a Convenção de Lisboa. Mas, quando a Convenção entrou em vigor, ele a rejeitou de imediato. Os euroceticistas britânicos ficaram irados, mas, pelo menos, evitou-se a eventualidade de “guerra aberta” entre Londres e seus parceiros euroceticistas.

Será também testado o líder dos liberais, Nick Clegg, que assumiu a vice-presidência do novo governo. É um britânico, mas que ama a Europa. Os europeus não poderão dissimular seu entusiasmo: Finalmente, um britânico cosmopolita! Com mãe holandesa, pai metade russo e mulher espanhola, o poliglota Clegg tem muito mais características comuns com o Jean-Claude Juncker do que com seus colegas britânicos.

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Fonte: Monitor Mercantil