Organizações da sociedade de todo o país propuseram ao governo, durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a criação de um Programa Nacional de Inovação e Tecnologia Social com o objetivo de promover, financiar e monitorar pesquisas e projetos de tecnologia e de inovação para inclusão. Pela proposta, que já tem o apoio do ministro Sérgio Rezende, o programa contará com recursos de um fundo próprio.

“Eu já fiz um aviso ministerial ao ministro Luiz Dulci, que é responsável por esta área, pleiteando que uma parcela dos recursos do Fundo Social sejam destinadas para tecnologias sociais. Nós não só abraçamos a proposta das ONGs como já estamos trabalhando para isso”, afirmou o ministro.

A proposta patrocinada pela sociedade civil foi apresentada aos conferencistas durante a plenária “Democracia e Cidadania: o papel da CT&I na redução das desigualdades sociais” que aconteceu ontem, último dia do evento. Além da aplicação de recursos públicos em programa específico, os debatedores destacaram ainda, como determinantes para a democratização dos benefícios tecnológicos, o papel da educação básica, dos museus, bibliotecas e outros acervos de conhecimento e das mídias e profissionais dedicados à difusão científica.

Quaisquer iniciativas para ampliar o acesso à produção e ao consumo do conhecimento e, consequentemente, aos benefícios decorrentes das tecnologias e inovações só serão bem sucedidas, no entanto, se o país romper com a visão colonialista que, segundo o índio Álvaro Tucano, um dos debatedores, ainda prevalece na academia.

“A boa educação e o acesso ao conhecimento continuam privilégio das elites, como no tempo em que o Brasil era colônia. E eles produzem a tecnologia que lhes interessa”, constatou.

Mesmo reconhecendo essa dicotomia, o professor Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análise Econômica e Social (Ibase), lembrou que a ciência, tecnologia e inovação são produzidos pelo acúmulo de conhecimentos práticos e teóricos de uma coletividade e integram o seu patrimônio cultural. E assim deve ser tratada.

“Sem mudanças profundas na orientação e estruturação da ciência e tecnologia, sem voltarmos a tratá-las como bem comum que requer regulação pública e exercício radical de responsabilidade cidadã na sua produção e aplicação, não é possível imaginar que seremos capazes de construir uma sociedade sustentável, um Brasil sustentável, participativo, solidário e justo”.

Os resultados da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação serão submetidos a consulta pública pela internet antes de serem considerados aprovados.

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Fonte: Brasília Confidencial