“Merkel sonha o Santo Império Alemão do Euro”, proclama com sarcasmo a manchete do Liberation, seguida pela revoltada manchete do jornal espanhol El País: “Os nove mandamentos do ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, correspondem mais ao plano de uma Europa alemã, do que uma Alemanha européia”.

Em Paris, Madri e outras capitais européias existem sérias resistências aos planos alemães e fortes círculos políticos reagem com revolta, embora alguns, poucos, governos sucumbam às pressões do governo de Berlim.

Indicativo é o fato de que, por exemplo, a direita espanhola não sucumbiu às insuportáveis pressões das demais direitas da Europa e, na votação realizada no Parlamento espanhol, votou contra as medidas de frugalidade impostas pelo governo de Madri, recusando-se até inclusive a se abster.

O resultado foi que as medidas de frugalidade foram aprovadas com diferença de apenas um voto – 169 “sim” contra 168 “não” – e porque os deputados nacionalistas de Catalunha e das Ilhas Canárias se abstiveram; se apenas um deles votasse contra, as medidas seriam rejeitadas e o governo socialista de José Luis Rodriguez Zapatero, provavelmente, despencaria.

“Você está acabado! O problema é você e seu governo!” berrou a Zapatero o líder dos nacionalistas de Catalunha que, com sua abstenção, o salvou – desafiando-o a convocar novas eleições em 2011.

Euro da elite

Para se tornar mais convincente a ameaça alemã, vários economistas, políticos e articulistas alemães manifestam-se a favor de a própria Alemanha sair da Zona do Euro e compor um estreito núcleo de países europeus com um euro mais duro! Contudo, suas posições não correspondem aos pontos de vista da elite política e econômica alemã, assim como não refletem as posições do governo de Angela Merkel.

A razão é simples. O euro tem ajudado de forma impressionante o aumento das exportações alemãs aos demais países integrantes da Zona do Euro. Em outras palavras, isto significa que facilita a transferência de riqueza dos demais 15 países integrantes da Zona do Euro para a Alemanha.

Somente idiotas destruiriam voluntariamente um tal mecanismo de geração de riqueza e, obviamente, idiota não é a elite política e econômica alemã. Mas, então, qual é o objetivo da Alemanha? É muito simples. Expulsar a Grécia da Zona do Euro.

Um euro limitado a menor número de países-membros da União Européia (UE) – naturalmente “amigos da casa” como Áustria, Holanda, Suécia, Noruega, Finlândia e, talvez alguns países da Europa Central – poderá corresponder ao pensamento de extrema-direita de alguns destacados alemães, mas, simultaneamente, significa transferência menor de riqueza para a economia alemã.

Quanto mais que a chanceler alemã tem absoluta razão quando projeta o aforismo de que “hoje sem o euro não existe sequer a União Européia”. Além disso, a existência do euro garante a hegemonia alemã sobre todo o continente europeu e a liderança política alemã seria louca se a colocasse em risco.

Expulsão golpista da Grécia da Zona do Euro – ou da Espanha, de Portugal e da Itália – significará o início do processo de dissolução não só da Zona do Euro, mas, da própria União Européia, resultará na compactação do Sul europeu sob a hegemonia da França e contra o bloco alemão. Assim, serão recriadas as duas tradicionais frentes. Estamos de volta a 1940. A História se repete.

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Fonte: Monitor Mercantil