Confabulações, umas “subterrâneas” e outras visíveis e audíveis realizam-se em toda a região do denominado Grande Oriente Médio. A sangrenta intervenção dos israelenses contra a flotilha da ajuda humanitária aos bloqueados palestinos da Faixa de Gaza e a diplomática queda-de-braço entre Israel e Turquia motivaram o início de uma discussão com muitas perguntas.

Primeira: o episódio foi provocado pela Turquia, e, em caso positivo, por quê? Segunda pergunta: por que Israel reagiu com tanta agressividade? Terceira: qual é a exata posição dos EUA neste episódio?

As respostas são interligadas. Existem determinados fatos indiscutíveis. A Turquia de Erdogan funciona com o pensamento de superpotência periférica. Existe uma mudança em relação à Turquia kemalista, enquanto o elemento islâmico está fortalecido.

Graças a isso, o governo de Ancara tenta, aproveitando o imbróglio palestino, se apresentar como líder do Mundo Muçulmano. Contudo, os Estados muçulmanos do Grande Oriente Médio não têm superado, ainda, suas suspeitas contra o passado otomano.

Paralelamente, o governo de Ancara acredita que, por causa do modelo islâmico moderado que adota, terá a tolerância dos EUA em suas ações e até – quem sabe – venha a substituir Israel aos olhos norte-americanos.

Simultaneamente, Israel foi atingido por um forte golpe em sua imagem internacional após os nove mortos ao largo da costa de Gaza. Mostrou-se, supostamente, totalmente indiferente sobre questões do Direito Internacional e dos direitos humanos.

Mas o governo de Tel Aviv realiza cálculos totalmente diferentes. E para isso contam mais o controle de Gaza e a pressão contra o Hamas do que as bravatas verbais com a Turquia. Paralelamente, Israel consegue desta forma o silencioso alinhamento com regimes moderados como o Egito e a Jordânia, que nutrem profunda aversão contra o Hamas, assim como contra a Fatah. As divergências internas dos árabes favorecem os planos israelenses.

Lobby judaico

Por seu lado, os EUA entraram mudos e saíram calados durante a crise. Limitaram-se a pedidos de realização de uma investigação independente do massacre. Os norte-americanos têm claros objetivos políticos, econômicos e geopolíticos próprios na região do Grande Oriente Médio e por isso precisam mover-se com muita atenção.

Primeiro, todos aqueles que esperavam um conflito com Israel, talvez não deram uma olhada no calendário. Com eleições intermediárias para o Congresso proximamente, dificilmente Obama ficaria indiferente ao poder de fogo do lobby judaico norte-americano.

Mas, também, um golpe contra a imagem do governo de Netanyahu seria, provavelmente, bem-vindo pela Casa Branca. Talvez assim o governo israelense se tornasse mais maleável, tanto nas pressões quanto ao imbróglio palestino, quanto sobre o programa nuclear iraniano.

Os EUA patrocinam sanções contra o governo de Teerã e não uso de violência como queriam e querem os israelenses. E, por fim, com as sanções (que não assustam os iranianos) o governo de Obama mostra à Turquia (e, junto, ao Brasil) que sua tentativa de intermediar a favor do Irã não lhe tira o papel protagonista.

Ficaram mais confusos ainda? Entretanto, não se preocupem. A novela do Grande Oriente Médio terá muitos capítulos, mais interessantes ainda. Aguardem.

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Fonte: Monitor Mercantil