Krugman no governo?
A principal credencial de Krugman, segundo J0hnson, para além da óbvia competência em assuntos econômicos, é a sua sempre presente disposição para ir para o pau com os republicanos e economistas simpatizantes do partido. O prêmio Nobel, escreve o blogueiro do Baseline, tem na ponta da língua toda a lambança do governo Bush na área fiscal, e não vai deixar desaforo contra Obama sem resposta.
Johnson lembra ainda que Krugman lidera hoje a batalha dos economistas a favor de mais estímulo fiscal na economia americana. Eu acrescentaria que ele é a voz mais incisiva, com verve e sarcasmo inigualáveis no mundo habitualmente morno do debate econômico, a defender a continuidade das políticas fiscais e monetárias expansionistas em todo o mundo desenvolvido.
Keynesiano de carteirinha, Krugman combate o que considera a obtusa visão conservadora de que os estímulos fiscais podem levar a uma crise de endividamento dos países centrais do capitalismo, como Estados Unidos, Inglaterra ou Japão, ou de que as taxas de juros beirando zero possam levar à inflação.
O que ele vê é o risco de deflação, armadilha de liquidez e demanda caindo em espiral junto com a tentativa dos governos de implementar o rigor fiscal.
A metralhadora giratória de Krugman – e o seu texto como articulista é ótimo, de fazer inveja a bons jornalistas – já mirou incontáveis alvos. Recentemente, me chamaram a atenção as saraivadas contra as autoridades econômicas alemães e o seu super-pacote de austeridade fiscal (que Krugman acha que só vai piorar as coisas) e contra o respeitadíssimo economista (e a agora blogueiro, no Fault Lines) Raghu Rajan, que questionou recentemente a manutenção pelo Fed, por longo período, da taxa básica de juros em nível superbaixo, próximo a zero.
Krugman sabe satirizar como ninguém os seus adversários intelectuais, e não poupa elucubrações psicológicas quando tenta explicar por que há economistas defendendo a austeridade num mundo rico que, para ele, pode estar caminhando para um círculo vicioso de demanda insuficiente. Para o prêmio Nobel (que tem citações do próprio Keynes de sentido semelhante), trata-se de fazer da Economia uma ciência moral, onde ao pecado (a bolha) deve corresponder o castigo (a austeridade).
Mas ele vê também um componente ideológico em não dar suporte à demanda (via expansão fiscal e monetária): trata-se da ideia, que alguns veem como cara ao liberalismo econômico e às formas mais acerbadas de individualismo, de que o mundo é do jeito que é, de que há vencedores e perdedores, fracos e fortes, e de que não adianta muito o governo querer ajudar quem está na pior. É preciso deixar que o próprio funcionamento dos mercados reestabeça o equilíbrio, doa a quem doer.
Eu acho difícil um sujeito tão apaixonadamente polêmico como Krugman virar funcionário de governo e se integrar numa equipe econômica em que terá de conviver com opiniões não só diferentes, como muitas vezes frontalmente contrárias às suas.
Mas que ia ser interessante de ver a sugestão do Baseline Scenario tornar-se realidade, com certeza seria.
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Fonte: jornal O Estado de S. Paulo