Dilma larga na frente; Serra vive crise de identidade
Vejamos as cinco últimas pesquisas divulgadas, de institutos diferentes. Três dão dianteira para Dilma (Sensus, Ibope, Vox Populi,); um para Serra (Datafolha). E o Ibope( 4 de Julho) dá empate. Como é sabido e conhecido, o staff serrista tinha o prognóstico de razoável vantagem pelo início de julho. Diziam que Dilma era um “poste”. Pois, então, o poste acendeu a luz.
Na escolha do vice, Dilma trouxe o PMDB, grande e importante legenda. Serra patrocinou a maior presepada da campanha eleitoral até a presente data. Queria Aécio e teve de contentar-se com um ilustre desconhecido. Tentou-se “turbinar” Índio da Costa. Que ele vai atrair o voto da juventude, que vai ajudar seduzir o eleitorado fluminense, e outras lorotas.
Neste processo, primeiro, humilhou além do limite da honra os Demos. Circulou que Serra, todo probo, não aceitaria “um partido de mensaleiros” na vice. Seria uma chapa puro-sangue. Álvaro Dias, o predileto, com a jactância de sempre, apressadamente arrotou caviar. A chapa Serra/Índio da Costa simboliza a coesão, ou melhor, o ajuntamento da direita neoliberal. A plutocracia e o conservadorismo, para além da incompetência de Serra, jamais permitiriam que a solda se rompesse.
Dilma terá o apoio de 10 partidos: PT, PMDB, PDT, PCdoB, PSB, PTC, PSC, PTN, PRB e PR. Serra arregimentou 6: PSDB, DEM, PTB, PPS, PMN e PTdoB. Quanto ao tempo de TV, a petista terá 10 minutos e 30 segundos e o candidato tucano 7 minutos e 11 segundos. Quanto aos palanques, o placar de candidaturas aos governos estaduais aponta 40 para Dilma, 30 para Serra.
Dilma terá em sua campanha “o gás” da militância de esquerda, os ativistas da ampla maioria dos sindicatos de trabalhadores e dos movimentos sociais. Já Serra tem esse campo contra si em consequência do autoritarismo de seu governo e da conduta de seu partido de criminalização dos movimentos sociais. O monopólio midiático não se refere “ao fator militância”. Mas, milhares e milhares suando a camisa por uma causa na qual acreditam, podem, sim, fazer, a diferença. E, não se trata apenas dos militantes de carteirinha. O que por si só já é precioso. É o engajamento do povo mesmo.
Os tucanos trataram a adesão do PTB como feito relevante. De fato, não é nada desprezível. Mas, terão de enfrentar as dissidências dessa legenda e “o jeito de ser” de seu presidente. Roberto Jefferson qualificou o DEM como “merda” e culpou César Maia (a quem chamou de “melindrosa”) pela escolha do famoso desconhecido Índio da Costa.
Na largada, Serra é um candidato no divã. Vive crise de identidade. Nos primórdios, pressionado pela popularidade do governo, passou a derramar elogios a Lula e até tentou como um leão de um desenho animado de outrora “uma saída pela esquerda”. A pantomima não deu certo. Desagradou a seus partidários e ao que parece colheu pouco ou nada do lado de cá. Por isso, a quem interessar possa já fez autocrítica. “BC vai continuar como está”. Na Convenção que oficializou sua candidatura atacou o presidente Lula. Todavia, seus pares ainda demonstram insatisfação. Fernando Henrique Cardoso, em artigo de 4 de julho, cobrou dos candidatos mais transparência. Segundo ele, os postulantes precisam dizer ao país o que pensam. Ataca Dilma, óbvio, mas parece insatisfeito com o discurso “camaleônico” de seu pupilo e ex-ministro.
Essa crise de identidade, justiça seja feita, não vem de uma debilidade, digamos, de caráter do candidato. Vem da realidade. Vejamos, bem: 78%, 80% aprovam o governo Lula. Dados do último Datafolha: 34% dos que consideram o governo ótimo ou bom, por ora, tencionam votar no candidato do PSDB. Se o tucano “bater” no presidente Lula, criticar seu governo pode perder votos. Todavia, se não demarcar, se não criticar, que diabo de candidato de oposição é esse? A “bruxaria” dos marqueteiros de Serra ainda não encontrou solução para este teorema. Há recompensa gorda para quem ajudar achá-la.
Dilma tem esta questão resolvida. É a candidata da continuidade. E para ela: “continuidade, é avançar, avançar e avançar”. “Para o Brasil seguir mudando”, diz seu slogan. A identidade está nítida e a “legitimidade” é garantida por quem detém 78% de apoio popular. A imagem de Dilma estará colada na imagem de Lula. E, progressivamente, sua história de luta pela democracia, seus méritos, seu compromisso e sua competência para realizar conquistas ainda maiores, vão se tornar dominantes na comunicação da campanha.
Serra tem como patrono Fernando Henrique Cardoso. Todavia, para vencer precisa renegá-lo, enxotá-lo. No dia da festa tucana que ungiu o ex-governador de São Paulo, FHC foi despachado para longe. Terá condições de fazer isso durante a jornada toda? Na recente crise com o DEM, FHC foi requisitado às pressas. Talvez, a campanha PSDB-DEM consiga “banir” a imagem de FHC. Mas, o receituário neoliberal enrustido, escancarado, reciclado ou à moda antiga, dará o tom do discurso de Serra. Impossível um tucano com canto de canário.
Tudo que foi dito acima insinua que Dilma “já ganhou”? Não. Longe disto. O que temos pela frente é uma verdadeira guerra política. Um confronto de campos políticos antagônicos, sujeito a sobressaltos. Mas, não há como negar que na largada Dilma sai na frente. Enquanto isso, Serra e seus marqueteiros se debatem na solução do dito teorema. Hoje, é um candidato claudicante. Oportunista, quer agradar a todos e com isso corre o risco de não agradar ninguém.
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Presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios.