Esta sessão contou com a moderação de Raffaella Bolini (coordenação italiana do FSE e FME) tendo Francine Mestrum (Global Social Justice), Alessandra Mecossi (coordenação italiana do FSE e FME) e Chico Whitaker (Comissão Brasileira Justiça e Paz – CNBB) lançado a discussão.

Esta sessão contou com a moderação de Raffaella Bolini (coordenação italiana do FSE e FME) tendo Francine Mestrum (Global Social Justice), Alessandra Mecossi (coordenação italiana do FSE e FME) e Chico Whitaker (Comissão Brasileira Justiça e Paz – CNBB) lançado a discussão.

“Ninguém sairá da crise sozinho”, foi assim que Raffaella Bolini abriu a discussão, acrescentando que “o pior que podemos fazer perante a crise é isolarmo-nos nas nossas fronteiras nacionais ou continentais. É necessário manter os elos de ligação a nível europeu, mas ter a preocupação de não perder os elos internacionais”.

Alessandra Mecossi ligou a crise dos movimentos sociais europeus a duas outras crises: a ideológica e política e a laboral. Com a queda da União Soviética e antes com a queda da social-democracia criou-se uma ilusão, “vivíamos uma era dourada, havia capacidades, possibilidades e recursos infinitas para a humanidade e estávamos a explorá-los. Descobrimos agora que há limites e que a tendência a continuar assim é que o mundo se destrua”, enfatizou. Noutro plano, a tendência do movimento laboral foi defensiva: “os direitos laborais estão sob ataque”. “Esta postura defensiva significa que as campanhas muitas vezes foram desconcertadas, e não se avançou para novos campos, caindo muitas vezes em contradições de trabalhadores contra trabalhadores” dando como exemplo as deslocalizações e a persistente busca de custos de trabalho cada vez menores.

Mecossi considera que estas crises também se repercutiram no FSE que “desde 2002 juntou grandes energias e que também deu imensa energia aos movimentos sociais”. A existência de lutas locais e nacionais e a incapacidade de as ligar a nível europeu tornam necessário que o FSE vá ao encontro destas lutas e não fique apenas à espera. “A direita, a sua cultura e os seus movimentos encontram na Europa um espaço vazio”, alerta. Há que tomar acção, o ponto comum é que “temos que salvar o FSE”. O Fórum é o único espaço europeu que os movimentos têm, é aí que várias experiências podem conversar e fazer alianças, defende reforçando ainda que “precisamos cada vez mais uns dos outros e o FSE deve ser um espaço de convergência de movimentos”.

“O FSE não é um evento a cada dois anos”, entre os fóruns os movimentos tem trabalhado cada um por si, devem ser criadas sinergias para responder à fraqueza dos movimentos, “precisamos de uma forte ligação com as dinâmicas que estão dentro dos FSE” reforçou Mecossi.

Chico Whitaker por seu lado deixou claro que nunca decidiram fazer fóruns a partir de cima, mas sim de baixo, de cada organização, de cada país, de cada continente. “Na organização não há direcção, nem presidente, nem coordenador. Os fóruns são um espaço onde quem quer participar e fazer reuniões o pode fazer”, realçou demonstrando também a adesão massiva que os fóruns tem tido na América Latina, suplantando todas as expectativas.

“As crises mostram que os fóruns são indispensáveis, temos em mãos uma grande responsabilidade. Na Europa não há outro espaço como este, temos que o usar o máximo possível”, defendeu destacando ainda a força do Fórum Social dos Estados Unidos onde esteve na semana passada em Detroit.

Chico Whitaker considera que os fóruns não tem que dar indicações, conclusões, instruções sobre o que fazer, ou como se devem organizar os movimentos sociais. “Não podemos usar o FSE para isso. Se o fizermos não serve para aprendermos uns com os outros, para ultrapassar preconceitos, experiências, novas relações que são precisas na acção política. Temos que trocar informação e análise da realidade, e também sobre o que queremos fazer, alcançar convergências e de trabalhar horizontalmente respeitando a nossa diversidade e autonomia”. Para o activista brasileiro, nada disto resulta se depois do FSE todos voltarem para casa e não aprofundarem as relações de forma a organizar acção concreta e de alcançar os resultados necessários. “Se não dermos continuidade ao que acontece no fórum, o fórum desaparece porque lentamente acaba por ser sempre as mesmas pessoas, com as mesmas experiências, com o mesmo para dizer, sempre o mesmo, nada de novo”, avalia.

Projectando a discussão para o futuro, Whitaker defende que as fronteiras do FSE devem ser alargadas, e apelou à convergência dos movimentos alertando que esta só pode ocorrer depois de os movimentos se identificarem com o fórum e não sentirem que serão instrumentalizados.

Francine Mestrum começou por partilhar algumas experiências do último Fórum Social dos Estados Unidos onde também esteve, deixando contudo claro que não é possível transportar um modelo de um continente para outro, mas que há possibilidade de aprendermos juntos. “Detroit foi um fórum de movimentos de base com grande respeito pela diversidade”. A preparação desse fórum demorou bastante tempo uma vez que não ficaram só à espera de ver quem aparece mas também foram dizer aos movimentos que eles eram precisos e que deviam estar no fórum. “Há quatro anos não havia nada, mas trabalhou-se imenso” referiu face aos bons resultados.

“No FSE ainda temos muitas discussões sobre as contradições entre espaço e acção” continuou. “Os norte-americanos encontraram boas soluções. O seu modelo é de Assembleias de movimentos populares.” A fase de preparação do Fórum Social dos Estados Unidos foi bastante grande, auto-organizado, com bastantes fóruns preparatórios com tomada de deliberações e decisões de acção nas Assembleias.

O fórum norte-americano decorreu em três dias com 1.200 workshops com introduções bastantes curtas dos oradores, seguida de uma longa discussão alargada e intercalada com curtas leituras de poemas ou performances musicais por parte dos participantes. “Tratou-se de uma construção colectiva de ideias, um evento verdadeiramente participativa. Mesmo as ideias ridículas são discutidas entre todos. Provavelmente no final a ideia será derrotada, mas pelo menos a pessoa pôde contribuir para a discussão, foi ouvida, ninguém foi silenciado. É claro que há relações de poder, mas são ultrapassadas por processos colectivos. Todos são ouvidos seriamente. Isto favorece convergências e a construção de uma nova cultura política. A mudança começa por nós, temos que começar por fazê-la com todos os outros”, concluiu Francine Mestrum.

A discussão alargou-se e Tuncay Ok do Fórum Social da Mesopotânia, um dos organizadores do FSE fez um apelo a uma forte ligação entre o FS da Mesopotânia e os fóruns dos Estados Unidos, da América Latina, da Europa, e todos os outros já que os problemas são transversais e comuns e a construção de um sistema justo passa por aí.

A discussão está aberta e continuará durante o FSE de Instambul e bem para além deste.

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Fonte: Esquerda.net