Novas luzes sobre o Islã
Existem muitas definições sobre o significado do que vem a ser “árabe”. A que mais gosto é uma que fala em pessoa nascida ou não em país árabe, mas que preza e cultua o que foi a grande civilização árabe-muçulmana, de seus feitos e realizações, criada a partir do século VII, fundada por Muhammad, mais conhecido o Ocidente por Maomé.
Considerando esse passado glorioso e a imensa lacuna editorial é que os brasileiros poderão agora ter acesso ao livro Islã: esse desconhecido (Editora Anita, SP, 285 páginas, RS35,00, www.anitagaribaldi.com.br). Escrito pelo sociólogo, advogado e procurador de justiça aposentado, Samuel Sérgio Salinas, essa obra tem tudo para vir a ser uma obra de referência. Ela resgata os valores, a cultura, a ciência de uma das mais adiantadas civilizações em nosso planeta. Como disseram de formas distintas e em momentos diferentes, o vigoroso historiador inglês Arnold Toynbee e o sociólogo e médico francês Gustave Le Bon, não há que se falar bem de nenhum império. Eles sempre ocupam povos e territórios, tentam impor suas culturas e suas línguas. Mas, se pudéssemos tentar achar um império “menos ruim” de todos eles, seguramente este seria o império árabe-muçulmano.
Este livro procura resgatar, em linguagem simples e acessível ao público leigo, o que significou para a humanidade, em diversos campos do saber, o Império árabe-muçulmano. Não falará apenas de religião em si, mas da cultura, da ciência em seus vários aspectos. Abordará a sociedade e as relações humanas. Senão vejamos.
A estrutura da obra
Islã: esse desconhecido é fruto de imensa pesquisa bibliográfica realizada pelo autor. Percebe-se isso no capítulo bibliografia, onde 183 livros de 150 autores, nas línguas francesa, inglesa, espanhola e italiana – além do português, claro – foram consultados para a redação final do texto. Tal bibliografia de referência pode ajudar, inclusive, estudiosos e pesquisadores do mundo árabe.
Um dos capítulos finais do livro é o da Cronologia. Iniciada em 570 (sempre na datação ocidental e cristã), com o nascimento do profeta Maomé, a cronologia prossegue até 1492, data de referência como sendo da queda do Califado de Granada na Espanha, ou seja, a vitória final dos reis católicos na expulsão da presença islâmica (e judaica) na península Ibérica. Por coincidência, ano da conquista da América e do início da colonização do continente americano.
Um dos capítulos finais, quase que uma prestação de serviços aos leitores interessados no mundo árabe e muçulmano, é o chamado Glossário. Foram selecionados 173 verbetes que nos são apresentados, de forma resumida, explicando o seu significado. Quase que uma cartilha, um livro dentro de outro livro. Não temos traduções da Enciclopédia do Islã, de Oxford (em inglês), mas Samuel Salinas nos favorece com esse glossário extremamente útil.
Há seis grandes blocos de ideias no livro, que nos dão uma noção básica do conjunto da obra. São os seguintes: 1. Árabes antes do Islã; 2. A Conquista Islâmica; 3. O Império Islâmico e a Criação do Estado; 4. O Milagre Árabe; 5. Cruzadas; 6. A Espanha Muçulmana.
Um livro valioso
Se a parte da população brasileira que tem origem no mundo árabe é relativamente grande e influenciou e ainda influencia a nossa cultura, nossos costumes, nossa língua e literatura, nossa culinária, em contrapartida o Islã segue ainda muito desconhecido. Não apenas desconhecido. Segue ainda até discriminado.
Este livro recoloca as coisas em seus devidos lugares. Sem usar uma linguagem erudita, este advogado e sociólogo traz para o grande público – mas também para especialistas – uma obra que nos faltava. Supre uma lacuna que existia. É profundamente esclarecedor, elucida fatos, descreve minúcias de acontecimentos e fatos históricos, muitas vezes despercebidos pela maioria das pessoas.
Nada nesta obra é lugar comum. Ao contrário. Mesmo para muitos especialistas e estudiosos dessa região do mundo – estratégica, diga-se de passagem – uma gama imensa de novos conhecimentos são trazidos á luz.
Uma leitura atenta ao Islã: esse desconhecido nos ajudará a fazer justiça a uma das mais ricas e prósperas – se não a mais próspera – de todas as civilizações e de todos os impérios que a humanidade conheceu em sua trajetória. Colocar luz sobre o povo árabe – 400 milhões de pessoas – e sobre a religião islâmica – mais de 1,3 bilhão de pessoas – e dar a sua contribuição para a paz em um mundo ainda cheio de guerras e de injustiças.
Da nossa parte, temos que agradecer ao amigo e colega Samuel Sérgio Salinas por nos trazer mais essa luz.
* Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. É colunista semanal sobre Oriente Médio no Portal Vermelho (www.vermelho.org.br) e da Revista Sociologia da Editora Escala. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa. Colaborador do ICArabe, do Instituto Jerusalém e da BibliASPA.