A nova Ostpolitik: Alemanha mais perto da Rússia e da China
Parece óbvio afirmar que o centro de gravidade do planeta moveu-se para leste, e que isso foi claro desde 2004, quando fracassou a aventura militar anglo-saxónica na antiga Mesopotâmia, muito antes do colapso do Lehman Brothers no emblemático 15 de Setembro de 2008; colapso que só tem ajudado a acelerar o irreversível declínio da ordem unipolar norte-americana.
Com a grave crise na área do Euro e a perda do primeiro lugar nas exportações mundiais, agora tomado pela China, para além da disputa financeira sobre o assunto tabu da regulamentação da desregulada dupla anglo-saxónica durante0 infeliz summit do G-20 em Toronto, Angela Merkel, Chanceler da primeira potência geo-económica europeia (quinta no mundo, medindo o PIB com a paridade do poder de compra), não pude deixar de aprofundar os relacionamentos tecnológicos e comerciais com a Rússia e os económico-financeiros com a China.
Durante a bipolar Guerra Fria foi chamada Ostpolitik (política para a Europa Oriental) a abertura da Alemanha Ocidental com o bloco soviético.
No mundo multipolar de hoje, a nova Ostpolitik alemã visa tratar com a Rússia e a China, dois membros permanentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), bem como do G-20. Não é uma coincidência que o novo encontro entre a Chanceler Angela Merkel e o presidente russo Medvedev teve lugar em Ekaterinburg, na cidade russa onde formalmente foi criado o BRIC.
O influente jornal alemão Süddeutsche Zeitung, no passado 16 de Julho, afirmou num artigo intitulado “Degelo dos relacionamento na Sibéria”, que o chanceler ofereceu apoio ao programa de modernização da Rússia nos domínios da saúde, da energia eólica e do transporte regional. Em troca, os Russos concordaram em comprar comboios da Siemens para 2 biliões e 200 milhões de Euros.
Matthias Schepp, correspondente do Der Spiegel Online, é mais céptico e mais superficialmente vê o perigo de ruptura do aborrecido casamento entre a Alemanha e a Rússia: em resumo, Berlim arrisca perder a iniciativa política e económica em prol de outros Países como França, Itália e Estados Unidos.
Schepp acusa a poderosa empresa alemã Siemens de não ter sido capaz de imitar os avanços espectaculares da sua colega francesa EDF e do gigante de energia GDF Suez, que assinaram grandes contratos em Moscovo para um aumento em 250% das relações económicas com Paris nos últimos 5 anos. Ainda mais perturbadora, segundo Schepp, foi a venda de quatro porta-helicópteros Mistral, incluindo a assistência tecnológica.
Actualmente, excepto o México neoliberal e outros Países escravizados, as nações compram com a condição de receber assistência tecnológica.
A imprensa russa tem sido mais entusiasmada acerca da participação da Alemanha, com a Siemens em primeira linha, ao projecto do centro tecnológico de Skolkovo, nos arredores de Moscovo: a Silicon Valley russa.
A este respeito, o presidente Medvedev disse que a Alemanha é o primeiro parceiro estratégico com o qual existem milhares de contratos de negócios.
Vale realçar que a Alemanha conta com a presença de 9.000 empresas na Rússia (a sétima maior economia mundial e a terceira potência para as reservas monetárias com 456 biliões de Dólares, dados de Abril de 2010) cujo o ápice estratégico é o projecto do gasoduto do norte, que liga os dois Países através do mar Báltico e que mudou as relações de forças geopolíticas no norte da Europa através do fornecimento bidireccional de gás russo em troca da modernização da Rússia por parte das empresas alemãs.
Depois da visita importante na Rússia, a Chanceler alemã começou uma outra visita histórica em Pequim, onde assinou dez acordos de cooperação que vão desde a energia verde ao estabelecimento de alianças estratégicas para a produção de camiões leves e pesados.
Segundo o Premier chinês Wen Jiabao, a Europa continua a ser um destino importante das reservas monetárias da China e isso é reforçado pela fraqueza do Euro.
Lembre-se que em Junho de 2010 a China tinha um total de reservas em moeda estrangeira de 2,45 triliões de Dólares.
Merkel sublinhou a “fé (sic) da China no Euro” e o compromisso de ambos os Países para fortalecer a moeda comum europeia, atingida pelos especuladores israel-anglo-saxónicos.
Acreditamos que os EUA (com a Grã-Bretanha escondida na traseira) estariam procurando um G-2 financeiro com o Dólar fundido com o crescente Yuan / Renminbi e a consequente extinção do Euro.
O fortalecimento do Euro mostra a vontade da China acerca duma nova ordem financeira com base multipolar, sem romper abruptamente com o Dólar que ainda fica como moeda defaut (na ausência duma alternativa credível), a principal moeda de reserva global.
O presidente chinês, Hu Jintao disse que “a frequência das reuniões de alto nível entre a China e a Alemanha mostra a força das relações bilaterais”, enquanto os comentaristas chineses realçaram carácter “histórico” da quarta visita da Merkel na China.
Na verdade, não há nada de histórico senão a ajuda chinesa para o Euro.
Porque os falcões financeiro de Wall Street e da City não aceitam pacificamente a multi-polaridade das principais moedas do mundo, incluindo o Euro e as moedas dos BRIC?
É difícil aceitar que o destino do Euro esteja hoje no meio da guerra geo-financeira entre o Dólar e o Yuan. Parece que a Merkel decidiu aproximar-se do BRIC perante o cerco brutal do Dólar.
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Fonte: La Jornada, no blog Informação Incorreta
Tradução: Informação Incorrecta