Cem anos de Adoniran Barbosa, o sambista dos excluídos
Nascido João Rubinato, Adoniran Barbosa tem o centenário de seu nascimento comemorado nesta sexta (6), porém a data original em que veio ao mundo difere de 6 de agosto de 1910. Na verdade, o cantor, compositor, ator e humorista paulista teve sua data de nascimento alterada para 6 de julho de 1912 para que, aos dez anos – doze, segundo a lei trabalhista permitia – já pudesse trabalhar.
Filho de imigrantes italianos, Adoniran precisou trabalhar para ajudar a sustentar os sete irmãos e, por conta disso, abandonou a escola logo cedo. Aos 22 anos, foi para São Paulo tentando ser ator, mas seu talento foi rejeitado e, “acidentalmente”, seu caminho acabou se tornando o rádio. Adotou o nome artístico – mistura do nome de um companheiro de boemia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas – e, em sua segunda interpretação, cantou Filosofia, de Noel Rosa, música que lhe abriu as portas para se tornar um dos maiores músicos e compositores brasileiros.
Em 1935, casou-se com Olga, mas o casamento durou pouco menos de um ano. Dele, nasceu sua única filha: Maria Helena. Na Rádio Record, permaneceu de 1941 a 1972, ano de sua aposentadoria, onde fez humor e rádio-teatro.
Com ritmo, letras e boemia paulistanos, Adoniran quis subir na vida e permanecer boêmio, tratando de tipos marginalizados em suas letras e canções: os pobres, a mulher submissa, o homem solitário, ou seja, retratou os excluídos, falou com samba sobre aqueles que não tinham voz.
Sempre com uma ponta do humor retirada do cotidiano e o fiel retrato do bairro do Bixiga, Adoniran compôs o seu primeiro grande sucesso, Trem das Onze, em 1951, mas que só faria sucesso na regravação de Demônios da Garoa, seguido por outras pérolas como Samba do Ernesto e Saudosa Maloca.
Atuou em A Pensão de D. Isaura, uma das primeiras novelas da TV Tupi, mas seu melhor desempenho aconteceu mesmo no cinema em O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto. Mesmo paulista, o sucesso de Adoniran, por ser tradicionalmente samba, estourou no Rio de Janeiro, sempre com uma certa instabilidade, por conta do pequeno retorno financeiro do rádio.
Em seu segundo casamento, uniu-se a Matilde de Lutiis, que se tornaria sua companheira até o final da vida, quando é diagnosticado com enfisema. E, mesmo com os fatos trágicos, levou a vida com humor tanto em seu cotidiano como em suas canções, morrendo no dia 23 de novembro de 1982, aos 72 anos.