Tantos filhos
esqueceste
que, justamente,
o mais franzino
e o mais frágil deles,
não crê em Deus.
Tuas mãos
que sempre me protegeram
ataram-se às minhas
e falaste:
─Filho, reza por mim,
quero viver!

Letalmente ferida,
a nação
que me deu vida.
No agreste do nordeste,
no sertão
de nossas vidas,
teus olhos
sempre foram
dois açudes
de água doce e cristalina.
Então veio
uma chuva fétida e má
e envenenou o teu sangue.
Tão meiga,
não te imaginava
tão bravia.

Enfrentar uma serpente
com unhas e dentes
foi a última lição
que nos ensinaste.

A dor não cabe
dentro de mim.
Um cirurgião antigo
a lancetadas
tenta drená-la.
Tendo sido um esforço
inútil,
resolvo publicá-la,
dividi-la
com carnes alheias
de almas incautas
que me lerem.

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).