Eu já tinha 22 anos quando voei pela primeira vez. Ainda lembro-me: Porto Alegre-Curitiba. Gol. Fui fazer uma rápida visita a Renata que, na época, passava alguns meses na capital de nosso estado, pois pensávamos em voltar a morar perto de araucárias e estações tubo.

      Naquele dia, sábado, sai de Lajeado às 05h00 e rumei até Porto Alegre. Embarquei no Salgado Filho no voo das 07h00 e voltei no outro dia, à tarde, pois precisava dar aulas em Santa Maria na segunda.

      Confesso ter me emocionado muito com a viagem, mesmo curta (aproximadamente 50 minutos) e de visibilidade da chegada prejudicada pela chuva em Curitiba. A única diversão (não considero pousos e decolagens boas diversões) foi ver a Região Metropolitana de Porto Alegre lá do alto e, é claro, o espetáculo das nuvens, tão bem relatado na literatura francesa das décadas de 40 e 50. 

      Depois, foram 2 anos de verdadeira ponte-aérea semanal entre Porto Alegre e Curitiba e, mais tarde, entre Porto Alegre e Foz do Iguaçu.

      Depois, morando novamente em Foz, minha terra natal, finquei raízes e acabai parando no solo. Em 2009, fiz algumas viagens para Curitiba e São Paulo em atividades do Partido Comunista. Cinco ou seis. E só.

      Agora, 2010, participando do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, criei asas novamente. Há quatro meses mantenho a rotina de dois voos semanas (nos próximos 8 dias serão seis!). Trabalho, teatro, Miró, campanha eleitoral, etc.

      O fato é a apatia. 

      A emoção de subir até as nuvens e, até, acima delas, começou a ficar cotidiana e, nos últimos voos, vinha mantendo uma terrível rotina de escolher poltrona no corredor e ficar lendo o tempo todo, inclusive durante as decolagens e os poucos. Quando na janela, fazia questão de abaixar a veneziana e dormir.

      Logo eu, confidente apaixonado por aviões, desde pequeno, e muitas vezes narrador, neste blog, das emocionantes chegadas a Foz do Iguaçu: quando não Cataratas, Itaipu!

      Hoje (imaginem!), sozinho e com as três poltronas disponíveis, lá vinha eu sentado no corredor (puro amorfismo de sensibilidade). Foi quando resolvi olhar pela janela e, como num passe de mágica, algo chamou-me atenção. Fechei o livro, soltei o cinto e arrastei-me até a janela para ver as nuvens. É o que faço agora, enquanto escrevo este texto, com o computador apoiado na mesinha da poltrona. Estou novamente no mundo das pessoas que olham o céu!

      Talvez seja porque, ao sair de Foz, o tempo estava feio e, segundo o comandante, não será diferente em Curitiba (daqui 17 minutos!). Talvez porque, a pouco, num sonho, em casa, eu morria. E morrer é mais chato que viver, pois, vivos, vemos algo. Mortos, nada vemos. E ver (aprendi isso com Saramago) é estar vivo. Talvez porque ontem fui para o céu lilás escrever uma peça. Talvez porque, simplesmente, o cogumelo que cresce na gente quando a gente cresce, por hora, parou de viver. Talvez porque mil coisas!

      O fato é simples: embaixo de mim existem nuvens e, embaixo delas, o meu estado. Onde nasci e onde mora a maioria das pessoas que eu amo. 

      Voltei a janela e isso está me fazendo um bem danado.

      Opa! O céu azul sumiu. O avião mergulhou nas nuvens.

      Até

 

Luiz Henrique Dias é escritor, ator, membro do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, Secretário de Organização do PcdoB de Foz do Iguaçu e estudante de Arquitetura e Urbanismo e Gestão Pública. Saiba mais sobre o Luiz seguind @LuizHDias no Twitter. [email protected]