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No dia 7 de setembro já faz um ano. E Elisa Branco continua encarcerada e condenada a quatro anos e três meses de prisão pelos “juízes” das classes dominantes, por que desfraldou diante dos soldados em desfile no Anhangabaú, em São Paulo, a faixa branca em que escrevera apenas “Os soldados, nossos filhos, não irão para a Coréia”.

Este o seu crime – o haver dito em voz alta o que pensam e querem todas as mães brasileiras, o que aspira a maioria da nação que não esconde sua simpatia pelo heróico povo coreano e seu ódio crescente pelo opressor americano que comete na Coréia ensangüentada piores crimes cometidos pelos bandos assassinos de Hitler.

O bom senso, a equidade, o mais elementar sentimento de humanidade, uma justiça serena são incompatíveis com essa incrível condenação e com a permanência, por mais um dia sequer, de Elisa Branco na prisão. A condenação de Elisa Branco é simplesmente iníqua e o próprio fato da condenação de uma mãe de família por semelhante crime político é inédito na história de nosso povo. A Constituição brasileira assegura a livre manifestação do pensamento e condena as guerras de agressão, e o gesto de Elisa, além de rigorosamente constitucional, traduz os sentimentos mais nobres do amor materno e da vontade de paz da mulher brasileira.

Os senhores das classes dominantes, no entanto, compreenderam perfeitamente a significação profunda do gesto corajoso da operária consciente que mostra às mães brasileiras que é necessário lutar para salvar a vida de seus filhos; compreenderam que Elisa falava em nome do proletariado revolucionário e de todos os patriotas que lutam pela libertação do Brasil do jugo imperialista e que vêem por isso na heróica resistência do povo coreano aos invasores ianques a nossa própria luta; compreenderam que Elisa ensinava aos jovens soldados o caminho da luta pela independência da Pátria, contra os generais americanos e seus lacaios e bagageiros brasileiros que querem mandá-los para a Coréia; compreenderam enfim que um tal exemplo de clarividência e de coragem tinha que frutificar e que por isso mesmo providências e medidas enérgicas deviam ser tomadas que servissem de escarmento e pudesse a menos assustar a todos aqueles que pretendam tomar pelo mesmo caminho na luta contra a política de guerra do governo brasileiro, de Dutra, ontem, Vargas, agora.

Além disso, os senhores das classes dominantes sentiram logo a pressão de seus patrões norte-americanos, dos agentes de Truman e dos monopólios ianques, que exigem a perseguição aos comunistas e a todos os patriotas que lutam contra a colonização crescente do Brasil e contra os planos sinistros dos que querem fazer de nossa juventude carne de canhão para as guerras de Truman. Os “juízes” foram rapidamente mobilizados e, fazendo uso da legislação terrorista do Estado Novo getulista, obedecem docilmente aos patrões americanos e encontraram sem maiores dificuldades e escrúpulos as formas “legais” para lavrar a sentença iníqua.

É evidente, pois, que as classes dominantes não estão dispostas a ceder ao crescente clamor popular que reclama a liberdade da grande lutadora pela paz e que tudo farão para impedir essa vitória do povo.

Libertar Elisa Branco, arrancá-la do cárcere da reação, é justamente por isso o nosso dever, o dever de todos os que lutam pela paz e que desejam golpear a guerra, de colonização e de fome do atual governo brasileiro. É dar o primeiro passo também para libertar as outras vítimas da ração, cujo número aumenta diariamente no país inteiro.

Libertar Elisa Branco é desfechar um golpe sério nos preparativos de guerra que são diariamente acelerados no país, é impedir que o governo mande nossa juventude para a guerra, é conseguir a volta dos marujos brasileiros que continuam ameaçados de seguir para a Coréia, é ajudar enfim a rasgarmos as decisões infames tomadas na chamada Conferência de Washington contra a independência e a vida de todos os povos do Continente. O governo e as classes dominantes e, com eles, seus patrões norte-americanos o sentem e compreendem, e por isso não querem ceder e fingem não tomar conhecimento do clamor popular.

A campanha pela libertação imediata de Elisa Branco exige, pois, uma ação contínua, tenaz, diária, crescente, até lançarmos o sucesso final. As grandes massas trabalhadoras, a juventude, e as mulheres, os intelectuais e os estudantes, todos os democratas e patriotas enfim podem arrancar Elisa do cárcere se souberem concentrar seus esforços, a exemplo do que foi feito em 1945, quando da campanha memorável que levou à vitória da anistia de 18 de abril daquele ano.

Nessa luta têm os comunistas o dever de se colocarem à frente, de tomarem a iniciativa e de não pouparem esforços para levá-la à vitória. Mas já terão compreendido nossos camaradas a importância desse combate e a significação política que eles tem na ampla frente da luta de nosso povo pela paz e a independência nacional?

Que devemos, pois, fazer?

Antes de tudo, precisamos compreender que o povo pode arrancar Elisa Branco do cárcere da ração e que conseguir isto é alcançar uma vitória importante sobre o imperialismo e a política de guerra do governo de agentes e serviçais do imperialismo que aí temos sob a direção do Sr. Vargas.

É indispensável, pois, exigir e conseguir a liberdade imediata de Elisa Branco. Mas como proceder? Saibamos concentrar a ação de massas sobre o Parlamento, sobre os deputados e senadores, por que Elisa já foi condenada pela “justiça” das classes dominantes e o que se deve agora exigir é uma anistia imediata que só o Congresso Federal pode conceder. Devemos orientar as massas que exerçam uma pressão constante e crescente sobre os deputados e senadores empregando todos os recursos para fazer que chegue a cada um dos membros das duas casas do Congresso a exigência popular de anistia imediata para Elisa Branco.

Mas para que essa ação posso efetivamente ganhar as mais amplas massas é indispensável que Comitês pela liberdade de Elisa sejam organizados aos milhares pelo país inteiro, nas fábricas e fazendas, nas escolas, nas repartições públicas, escritórios e casas de comércio, entre as donas de casa, em todos os locais de trabalho e de residência, enfim. Basta explicar aos trabalhadores, ou qualquer pessoa de coração sensível, religiosa ou não, qualquer que seja sua opinião política, a injustiça de que é vítima Elisa Branco e a grandeza do gesto que a levou ao cárcere, para que possam surgir rapidamente por toda a parte Comitês pela sua liberdade. E que esses Comitês tenham a mais ampla iniciativa, que cada um de seus membros se consagre a procurar o apoio de seus companheiros de trabalho, de seus amigos, vizinhos e mobilize a todos para a mesma luta comum pela anistia imediata para a grande lutadora pela paz.

Enfim, a libertação de Elisa Branco deve ser o pensamento constante de nossa valente classe operária, cós camponeses que não querem a guerra, deve ser o facho ardente da nossa juventude no momento em que está ameaçada como nunca de ser sacrificada na mais infame das guerras, deve ser a existência tenaz da mulher brasileira, das mães, esposas e filhas que na defesa da vida de seus entes queridos, como já o demonstraram de mil maneiras, estão dispostas a repetir o gesto desassombrado e heróico de Elisa Branco.

Estamos diante de um governo covarde mas implacável que, na sua subserviência ao dominador ianque, será capaz de todos os crimes e que, na defesa dos interesses egoístas de latifundiários e grandes capitalistas que desejam a guerra na esperança de grandes lucros, será capaz de todas as infâmias. Só as forças populares com a classe operária à frente podem sustar o braço dos carcereiros e carrascos, arrancar de suas mãos e livrar das sentenças injustas de uma “justiça” de classe serviçal do imperialismo, as vítimas da reação, os nossos compatriotas mais valentes, dignos e nobres, como Elisa Branco.

Mas para isso precisamos envidar a todos os nosso esforços e saber orientar e organizar a vontade das grandes massas populares.

O povo quer a liberdade de Elisa Branco e há de libertá-la!

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