O Congresso Mundial dos Intelectuais de Wroclaw marcou o início da mobilização dos intelectuais para uma luta, sistemática, contra os fautores de guerra, dirigidos pelos trustes e generais ianques. Centenas de intelectuais de todos os países, entre os quais muitos dos nomes mais ilustres das letras, filosofia, das ciências, as artes e do jornalismo se reuniram na cidade polonesa de Wroclaw, tão cruelmente mutilada pela guerra, para discutir e encontrar os meios mais eficazes para defender a paz que todos sentiam ameaçada.

As discussões do Congresso foram extremamente amplas e não raro acaloradas. Havia em Wroclaw intelectuais de várias tendências, quase todos sinceramente devotados à causa da humanidade ou dispostos a colaborarem na defesa da paz e da liberdade dos povos, apesar de separados por diferenças políticas e ideológicas muitas vezes consideráveis. Havia também em Wroclaw um pequeno grupo que se esforçava, continuamente, por impedir que os fautores de guerra fossem claramente denunciados e suas manobras reveladas aos homens de boa vontade de todo o mundo. Os agentes do imperialismo em Wroclaw procuravam fazer com que o Congresso se limitasse a uma resolução anódina, uma vaga declaração em favor da paz, que não desse os nomes aos bois, nem indicasse inequivocamente, quem era a favor da paz e quem preparava a guerra, encobrindo seus sinistros designos com declarações pacifistas e procurando fazer crer aos povos do mundo que a URSS e as democracias populares é que desejavam atacar os países “ocidentais”.

Os momentos mais emocionantes do Congresso foram os da revelação das manobras do imperialismo ianque e as intervenções dos delegados das nações coloniais e semi-coloniais que mostraram o alto nível político e a combatividade dos povos mais oprimidos pelos imperialistas. Todos sentiram que os métodos a princípios do nazismo continuavam a serem aplicadas pelos imperialistas ocidentais, que herdaram a fé de Hitler no emprego da força e seu desprezo pelas raças “inferiores”.

Depois de vários dias de debates memoráveis, a repulsa dos intelectuais aos imperialistas ianques e seus comparsas, levou à aprovação de uma resolução de significação histórica, pela quase unanimidade dos membros do Congresso e subscrita por maiorias apreciáveis das delegações dos Estados Unidos e da Inglaterra, em que era maior a força dos agentes do imperialismo.

Todos nós, que fomos a Wroclaw, aprendemos muito e compreendemos que as forças da paz e do progresso eram muito maiores que as do imperialismo e da reação. Ficamos sabendo que o perigo era a passividade, e que a batalha da paz seria ganha se todos os homens de boa vontade lutassem ombro a ombro com as massas populares de seus países que desejam a paz, a democracia e o progresso

Denunciamos ao mundo os provocadores de guerra e lançamos os fundamentos de um movimento mundial dos intelectuais em favor da paz. Criamos um comitê, com sede em Paris, para coordenar nossas lutas. Os frutos de Wroclaw já começam a surgir em todos os países. Pude ver, em Paris e Bruxelas, o entusiasmo de milhares de homens ao ouvir os delegados de Wroclaw, que lhes transmitiam as resoluções do Congresso. Em vários países já começaram a funcionar Comitês de Intelectuais em Defesa da Paz.

Nós intelectuais, não podemos ganhar sós a batalha da paz mas podemos fazer muito, dirigindo-nos às grandes massas, e compreendendo a importância da nossa posição e a confiança que muitos depositam em nossa atitude. Não podemos descansar enquanto não se dissipar inteiramente a ameaça de que todo o mundo fique recoberto das trágicas ruínas de Varsóvia e Wroclaw.

A preparação de guerra do imperialismo ianque afeta diretamente ao Brasil. Querem nos transformar em carne para canhão e ao mesmo tempo9 usar nosso território para base de suas ofensivas. Sob o pretexto capcioso da defesa do hemisfério e da civilização cristã pretendem se apoderar de nosso petróleo e nosso ferro e comandar nossas forças armadas. A luta pela paz é também a luta pela independência econômica e política de nossa pátria. Cabe aos intelectuais brasileiros levar ao conhecimento das grandes massas de nosso povo os perigos que nos ameaçam. Assim cumpriremos a missão que nos cabe na salvação da humanidade e da cultura.

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