As economias desenvolvidas e as em desenvolvimento têm destinado trilhões de dólares ao fortalecimento de suas economias. Contudo, indícios negativos do front do mercado de trabalho reacendem as preocupações gerais.

O risco de um novo agravamento é um verdadeiro pesadelo, no momento em que os recursos que os governos dispõem de arrecadações tributárias ou de empréstimos aproximam-se de seus limites e recorrem a vendas maciças de “papagaios” estatais.

Quando os exércitos de desempregados continuam aumentando seus efetivos, existe preocupação visível em todos os povos. Enfrentar a crise foi uma operação com fortes medidas de política fiscal e com fortes transfusões de trilhões de dólares, injetadas pelos bancos centrais nos respectivos sistemas bancários para salvação dos bancos.

Por esta razão, o discurso de Ben Bernanke, durante a assembléia anual do Federal Reserve (Fed), realizada na última sexta-feira, no Jackson Hall, de Kansas City, isto é, a linguagem com a qual Bernanke transmitiu sua mensagem aos consumidores e empresários sobre a evolução da economia norte-americana, o crescimento, a inflação e o desemprego, assumiu importância extremamente importante.

Os “problemas sem fundo” das economias não têm fim, porque os bancos comerciais não repetiram ainda a alimentação de empresas e famílias com empréstimos. E com os norte-americanos e britânicos já afundados em pantanais de dívidas, ninguém pode repousar com o pensamento de que poderá contrair mais empréstimos com taxas de juros zeradas e conseguir dinheiro “grátis”.

Milton Friedman

Já se passaram dois anos desde o crash financeiro e a rede que envolvia com proteção e segurança as economias já se esgarçou perigosamente. Os bancos centrais dos EUA, Zona do Euro e Grã-Bretanha, após terem esgotado seus arsenais com armas convencionais, adotaram adicionais medidas heterodoxas imprimindo novo dinheiro para salvar as economias.

Quer dizer, adotaram a estratégia do “dinheiro do helicóptero” para enfrentarem a pior crise desde 1930. A definição é atribuída ao economista Milton Friedman, pai do monetarismo, criador da Escola de Chicago e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1976. E utilizada, literalmente, por Bernanke, já alcunhado de “helicóptero Ben”.

Entretanto, esta estratégia não deu resultados favoráveis quando foi adotada no Japão durante a “década negra” de 1990. Uma política que aumenta quantitativamente a oferta de dinheiro (quantitative easing) que resulta, inevitavelmente, na transformação da dívida em dinheiro cash (isto é, na famigerada política de monetizar o débito).

O Fed vem imprimindo generosamente – e sem limites – dinheiro novo. O Banco da Inglaterra é o primeiro banco central europeu que utilizou a quantitative easing. É de se imaginar a dimensão do fracasso quando já se passaram três anos de crise e os excelentíssimos senhores presidente dos bancos centrais continuam lançando dinheiro novo ao sistema bancário.

E a situação torna-se desesperadora porque encontra-se em exacerbação a “síndrome do desemprego”. Os 15 milhões de norte-americanos desempregados constituem profunda ferida e vergonha para a outrora portentosa América.

BCs não controlam

O problema é que os bancos centrais do Ocidente não controlam mais a liquidez do sistema mundial. Podem destinar generosa liquidez ao sistema (e fazem isto). Mas a saída de emergência desta estratégia dissimula muitas armadilhas. Os “especialistas” reconhecem o risco. Mas todos estão presos na armadilha.

Os gastos dos governos têm sido lançados às alturas. A inflação “belisca”, particularmente os preços dos alimentos. Além disso, cresce a preocupação dos presidentes dos bancos centrais sobre as indesejáveis consequências da “flexibilização quantitativa” e, principalmente, da possibilidade de estar alimentando mais uma “bolha” econômica por causa da liquidez.

Mas os bancos centrais, certamente, procurarão se desligar da “flexibilização” e interromper a impressão de dinheiro novo para passarem a financiar a compra de bônus estatais. Se, contudo, acontecer isto, o setor privado será convocado para assumir o peso do financiamento dos déficits estatais. Este é um peso que até hoje os excelentíssimos senhores banqueiros estavam evitando. Mas…

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Fonte: Monitor Mercantil