O ex-governador dá um cavalo de pau na sua errática campanha. Até aqui, alternava bajulação ao presidente Lula e críticas à candidata Dilma Rousseff. Agora, apresenta-se como um raivoso frenético. Transforma seu programa de TV em um palco, ou picadeiro, como se queira, e na suposta ira de um pai que teve a família ultrajada destila seu veneno. É certo que continua a demonstrar verdadeira “fixação” pelo presidente Lula. Desenterra um nojento episódio da campanha de 1989 para dizer que, hoje, Dilma faz com ele o que Collor fez com Lula. Um verdadeiro “samba do crioulo doido”, como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta.

Aos fatos. O sigilo da filha do tucano foi quebrado. A Receita abriu sindicância. Ontem (2), o presidente da República determinou à Polícia Federal que assuma a investigação e a conclua com a máxima celeridade. E que sejam punidos os responsáveis pelo delito.
Qualquer pai reagiria com veemência. Acontece que Serra, sem qualquer prova, diz que o PT e que a própria Dilma teriam tramado e executado a quebra do sigilo. O PSDB entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido de cassação do registro da candidatura de Dilma Rousseff. Aqui, a ira paterna do tucano se revela falsa. Sem nenhuma evidência, nenhum indício, de forma categórica, diz que Dilma é uma criminosa. Em 2005, tentaram cassar o mandato do presidente Lula. Agora, em um gesto tresloucado, querem ganhar no tapetão. O TSE já arquivou esse delírio. Mas outras investidas virão.
Serra aproveitou o episódio para atender aos apelos da velha direita golpista que o apóia. Direita que só aceita a democracia na vitória. Golpista porque repele as regras do jogo democrático e não se subordina à soberania do voto do povo. Lula e a esquerda perderam três eleições presidenciais. Aceitaram o resultado, se curvaram à voz das urnas. Serra, neste momento, atende “ao apelo da selva”, isto é, à natureza do campo político que lidera. Para não ser abandonado por completo por essa direita conservadora, parte para o vale-tudo e contamina o cenário eleitoral com a guerra suja. Entre perder com dignidade e perder com as mãos imundas, optou pela segunda.

Veículos do monopólio midiático que vinham descontentes com a campanha do tucano remoçaram a velha paixão que parecia cadente. Jornalistas partidários do tucanato que andavam um tanto tristonhos, ensaiam recuperar o ânimo. Há um alvoroço no quartel da direita. A esperança dos desesperados. Quando cai uma gota de sangue, as piranhas se assanham. Se houve de lá: “Este é o Serra que tem a nossa cara e a nossa essência”. E arrematam: “Agora, vai!”

Eleitoralmente, a “bomba” lançada pessoalmente por Serra contra Dilma Rousseff tem tudo para ter o mesmo efeito daquela do Riocentro. Em vez de atingir o povo, tende a estourar no peito no próprio tucano.

Aguardemos.