Educação e pedagogia na Rússia revolucionária
Na última sexta feira, dia 3 de setembro, Nereide Saviani, Diretora de Formação da Fundação Maurício Grabóis e membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, esteve na Faculdade de Educação da Unicamp ministrando a aula “Educação e Pedagogia na Rússia Revolucionária”.
Esta aula faz parte de uma disciplina organizada pelos professores José Claudinei Lombardi e Dermeval Saviani, do Programa de Pós Graduação em Educação daquela universidade. Tendo como eixo a “Pedagogia Marxista”, a disciplina conta com a participação de professores de diversas instituições. A novidade é que está sendo ofertada através de vídeo conferência e envolve treze outros programas de Pós Graduação e grupos de estudos espalhados pelo Brasil. Esta é mais uma iniciativa do HISTEDBR (Grupo de pesquisa História, Sociedade e Educação no Brasil – http://www.histedbr.fae.unicamp.br/), sediado na UNICAMP e com Núcleos em vários estados do país.
Ao longo deste segundo semestre, sempre às sextas feiras pela manhã, todos aqueles que se interessam em conhecer o legado dos grandes teóricos marxistas no campo da educação estão convidados a acompanhar as aulas on-line. Todas as exposições realizadas estarão sendo gravadas e disponibilizadas na página eletrônica da Faculdade de Educação.
Marx, Engels e Lenin, foram os autores tratados nos encontros de agosto pelos professores José Claudinei Lombardi e Francisco Mauri de Carvalho Freitas. Coube a Nereide Saviani trazer as contribuições educacionais de Nadeska Konstantinovna KRUPSKAIA (1869-1939); Pavel Petrovitch BLONSKI (1884-1941); Anatol Vassilevic LUNACHARSKY (1875-1953), que foram os pedagogos russos responsáveis pela direção do Comissariado do Povo de Educação, criado em outubro de 1917 com a tarefa de reorganizar o sistema educacional na Rússia que iniciava a transição do capitalismo ao socialismo.
Logo de início, Nereide apontou as dificuldades para conhecermos a produção teórica e prática dos revolucionários russos. De um lado, devido à escassez de traduções e publicações sobre o tema no Brasil. De outro, pelo arrefecimento no estudo da teoria marxista nas universidades, especialmente após a queda dos regimes socialistas na URSS e Leste Europeu.
A explanação da professora foi densa e rica em detalhes sobre as concepções que marcaram o pensamento e as práticas dos pedagogos citados. Chamou atenção para a necessidade de compreendermos o desenvolvimento das idéias e experiências pedagógicas daquele período histórico como fruto da interação entre a matriz teórica do materialismo histórico marxista, o esforço pela construção de um novo homem e uma nova sociedade e as condições reais vividas pelo conjunto da população russa: as guerras (interna e externa), a pobreza, o alto índice de analfabetismos, o conservadorismo dos professores, o atraso econômico e o empenho gigantesco do Estado socialista na construção de novas bases tecnológicas e culturais.
Tratou do Comissariado do Povo de Educação, também denominado por Comissão Nacional de Educação, Comissão do Povo para a Instrução Pública ou Comissão de Educação Popular, que se transformou no centro irradiador das idéias educativas que buscavam consonância com os valores que se forjavam na luta por um regime socialista na Rússia do início do século XX.
Atendo-se especialmente à produção escrita de Nadeska Krupskaia, Nereide destacou aspectos de sua biografia: aprendera com os pais a se indignar com as injustiças; lera em Tolstói sobre a miséria e por fim, vivera próxima dos trabalhadores e camponeses como professora, acompanhando seus sofrimentos e suas lutas pela sobrevivência.
As experiências da infância e adolescência e a participação no círculo estudantil universitário, quando teve contato com as obras de Marx e Engels, levaram-na a engajar-se no movimento revolucionário e a construir uma crítica à escola tradicional burguesa.
Para esta educadora e seus colegas no Comissariado do Povo, a educação seria instrumento essencial para a construção de uma nova sociedade, socialista. A escola soviética deveria ser um meio privilegiado para isso. Krupskaia observava que a escola de seu tempo, sob forte influência da igreja ortodoxa e comprometida com o “adestramento” dos jovens para a manutenção da ordem, necessitava ser superada por uma escola ligada à vida concreta, vida esta produzida no trabalho, pelos trabalhadores, nas comunidades locais na confluência com todo um país que procurava novas formas de organização social, fundamentalmente coletivas.
Assim, a escola deveria estar articulada às atividades das organizações estudantis, operárias e camponesas, consolidando a formação do espírito de coletivismo, formando novos hábitos, atitudes, habilidades, valores, emoções. Para tanto, seria necessário inovar modos de organização pedagógica com atividades em que os estudantes assumissem papel ativo em seu processo de formação integral, consideradas as dimensões físicas, intelectuais, emocionais, éticas, culturais, políticas. Inclui-se aí a formação para a tomada de consciência de classe, a iniciativa, a liberdade, a solidariedade, a valorização de suas próprias realizações dentro do conjunto maior da produção coletiva. As crianças e jovens, pela educação, aprenderiam que os interesses gerais do coletivo deveriam estar acima dos interesses particulares. Também seria tomado com centralidade o problema da educação das mulheres, cuja emancipação seria atrelada necessariamente à construção de uma sociedade mais avançada, não só no plano material, mas também no plano moral e cultural.
Nereide nos trouxe as reflexões sobre a relação entre educação e o trabalho, eixo central do pensamento dos pedagogos revolucionários russos. Para estes a escola deve ser espaço em que as crianças e jovens compreendam tanto as bases científicas e tecnológicas que orientam a produção material e cultural, como também os mecanismos de gestão do trabalho, que podem ser de exploração ou de cooperação, individualistas ou coletivistas. A todos os trabalhadores deve ser proporcionado conhecer os fundamentos científicos que lhes permitam compreender as bases da indústria moderna, seu desenvolvimento e sua relação com a natureza; a interdependência nas relações de produção; a circulação e a repartição dos bens. Aos jovens deveria ser ensinado valorizar tanto o trabalho manual como o intelectual, ambos promotores do desenvolvimento humano e ambos indissociáveis numa perspectiva de superação da alienação característica do trabalho sob o capitalismo.
Até o momento se encontra disponível a primeira aula da disciplina (sobre Marx e Engels), ministrada pelo professor José Claudinei Lombardi. Pode ser acessada no endereço
http://www.cameraweb.unicamp.br/video/videoformrm.php?video=eventos/fae/2010/ed316 aula02.ram
Em breve estarão disponíveis as demais aulas, incluindo “Educação e Pedagogia na Rússia Revolucionária”, ministrada por Nereide.
Os interessado podem acompanhar as próximas exposições via internet, no endereço
http://www.fe.unicamp.br/videoconferencia/
Sempre no horários das 9 às 12h.
Também neste esforço de fomentar estudos sobre a educação na Rússia revolucionária, a Fundação Maurício Grabóis, juntamente com o HISTEDBR disponibilizará em suas páginas textos de educadores marxistas.
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Programação das próximas aulas/vídeo conferências
10/ set: Anton Semionovitch MAKARENKO (1888-1939). Luis Bezerra Neto
24/set: Moisey M. PISTRAK. Luiz Carlos de Freitas
01/out: A Psicologia Cultural-Histórica e a Pedagogia: Lev Semenovitch VYGOTSKY (1896-1934); Alexander LURIA (1902-1977) e Alexei Nikolaievich LEONTIEV (1903 — 1979). Alesandra Arce
15/out: Escola como Aparelho Ideológico do Estado: Louis ALTHUSSER (1918—1990). Marcos Cassin
22/out: Teorias da Reprodução: Pierre Félix BOURDIEU (1930—2002) – Jean–Claude PASSERON; BAUDELOT – ESTABLET. Ana Maria Fonseca de Almeida
29/out: Antonio GRAMSCI. Rene José Trentin
05/nov: Pedagogia marxista da alegria: Georges Elmer SNYDERS (1929…). José Carlos de Souza Araújo
12/Nov: Educação e Pedagogia na RÚSSIA Comunista. Amarilio Ferreira Jr e Marisa Bittar
26/Nov: Educação e Pedagogia na CHINA Comunista. Luis Antonio Paulino (ou indicado pelo Instituto Confucio)
03/dez: Educação e Pedagogia na CUBA revolucionária. Maria do Carmo Luiz Caldas Leite
10/dez: PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA. Dermeval Saviani
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Mestre em Educação pela Unicamp
Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de Ensino de Campinas