Na cidade de Itamarandiba, em Minas Gerais; que conta com trezentos habitantes, algumas donas de casa, pessoas simples e com pouca escolaridade, em curto espaço de tempo, conseguiram a proeza de elevarem-se socialmente. Muitas delas trocaram as mobílias de casa, compraram televisores de LCD, compraram antenas parabólicas e com televisão por satélite, roupas novas para a família toda; com direito a reforma da casa, com banheira de hidromassagem e tudo. Algumas delas compraram vacas e porcos, além de cavalos de sela e arreios, charretes e fuscas “Fafá-de-Belém” e tratores; outras fizeram lipoaspiração, cirurgia plástica no nariz e nos seios e etc. É voz corrente que os homens estão enciumados, porém eles concordam que elas têm direito, já que elas é que ganharam o dinheiro.

      -E o quê elas fizeram? Bem, segundo o arguto e loquaz soldado militar e responsável pela única cadeia pública de Itamarandiba, soldado Barromeu, a primeira que ganhou a “sorte grande”, foi a Dona Geralda.

      -E como ela ganhou dinheiro? – perguntou o repórter. 

      O Barromeu assim falou: “…ela tava distrinchano um franguim pra mode fazê no armoço do domingo. Cuma tudo mundo sabe, o cumpade Airto Vidotti gosta demais da conta de franguim cum quiabo i angu; a Cumadre Gerarda tava lá tratano do franguim. Quando apartô a muela, ela achô uma porção de caco de vidro drento da muela. Mai, pra mode as criança num buli com os caco de vidro, a cumadre tratô de moê os caco com um martelo. PUM, pum, pum ,pum e nada de quebrar os caco de vidro! Ela chamô o cumpade Airto e pum, pum, pum, pum e nada de moê os caco. Intão, ele foi falá cô boticaro, pro móde de que ele é muito sabido; o boticaro disse que era dimais da conta pra sê vidro e mandô eis leva os caco de vidro pra Diamantina pra sê analisado. Vortaro treis dia dispois e pra surpresa de tudo mundo, os caco de vidro eram diamante e eis da cidade de Diamantina, cumpraro os diamante tudim, por um bom dinhêro.


Gema “Estrela do Sul”–128,48 quilates -Brasil. Foto “Smith & Bosshart”- 2002

      -Na vórta, o cumpade e a cumadi vinhero de carro de praça; logo eis que era pão duro que só veno! E truxeram ropa nova pros fío, corte derôpa pra tudo mundo, bola de capotão peos moléque, espingarda cartuchera de dois cano, um pote pra água e ôtros trem que num tô me alembrano. Inda compraro um boi reprodutor, duas égua e um jumento. Daí que tudo mundo ficô quereno sabê de tár acontecido. Eis falaro das coisa que assucedero e tuda as muié, saíram chamano as galinha no terrêro e tudo dia cada uma matava dois ô treis frango. I anssim, ficaro tudo bem arremediado”.

      Pergunta então o repórter :-e as pessoas de Itamarandiba; continuam encontrando diamantes?

      – Agora é que num tá mai funcionano, pra mode de quê acabaro os frango de Itamarandiba e nóis tudo tamo importano frango de até de Riberão Preto.

      -E de onde saíram tantos diamantes?

      -Ara sô, isso nóis num sabe mêmo. Se eu subesse, acha que´eu tava aqui de conversa fiada cocê, de prosa?

      O repórter ficou estupefato!


AS GALINHAS DE “PESCOÇO PELADO”-TRADIÇÃO CAIPIRA

      No outro dia a manchete do “ESTADÃO” foi: “A Revolução Social Provocada pelas Galinhas de Brilhantes de Itamarandiba”, onde o repórter contava tudo.

      -Quem não acreditar, é só consultar o “ESTADÃO” de “trêis-ontonte”; ou então ler outros causos do ACAS.

 Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.