“Nossa filosofia é a do acordo com o governo” haitiano quanto aos eixos de trabalho, longe das “imposições ou do unilateralismo da cooperação internacional, qualquer que seja”, destacou Mattarallo, em entrevista à ANSA.

Ele também ratificou a importância da “reafirmação da soberania” do país centro-americano e reafirmou sua postura contrária ao “exercício de pressão” sobre o Executivo para veicular ajuda.

O argentino assumiu a secretaria técnica da Unasul no último dia 31, em um ato realizado no Palácio Nacional do Haiti, com a presença dos presidentes haitiano, René Preval, e equatoriano, Rafael Correa, a cargo da presidência temporária do bloco. Ele foi subsecretário de Direitos Humanos da Argentina e titular da comissão que investigou o massacre de 2008 em Pando, na Bolívia, quando foram assassinados dezenas de camponeses favoráveis ao governo de Evo Morales. Mattarollo e Correa fizeram um acordo com Preval sobre os eixos de colaboração da Unasul e o destino de US$ 100 milhões doados pelos países-membros da Unasul.

O embaixador antecipou que o bloco analisa propor ao Haiti que os campos de refugiados sejam co-geridos com os “capacetes brancos” no país. Após quase oito meses do terremoto de 7 graus na escala Richter que afetou o país em 12 de janeiro, calcula-se que haja cerca de 1,5 milhão de pessoas nos campos de refugiados, que oferecem assistência sanitária e alimentícia, mas ainda de forma precária.

A doação de US$ 100 milhões será voltada para “a reconstrução das infraestruturas produtivas, aumentar as defesas contra inundações e furacões para proteger a população e reforço institucional”, detalhou o secretário.

Segundo ele, o Programa Pró Horta, criado há 20 anos pelo Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) argentino, programa de segurança alimentar dirigido para populações em situação de pobreza estrutural, será ampliado para 120 mil famílias haitianas, frente às 90 mil beneficiada atualmente. O programa foi desenvolvido no país caribenho em 2005 e conta com fundos da Espanha e do Canadá. Além de prover as sementes de hortaliças para a semeadura, Mattarollo destacou a necessidade dos especialistas argentinos de transferir capacitação aos haitianos.

Na quarta-feira passada, Mattarollo visitou com o presidente Correa o departamento de Artibonite, onde oito engenheiros militares equatorianos trabalham na reconstrução de caminhos e pontes, drenagem de canais de irrigação e reciclando velhos edifícios abandonados.

Com relação aos focos da ajuda da Unasul, o secretário atestou que “não seria sério propor trabalhar em todas as frentes”. Mesmo assim, o secretário citou que há intenção trabalhar com o problema da diáspora haitiana que ocorre para República Dominicana, Estados Unidos, Canadá e América Latina, principalmente após o terremoto.

No próximo dia 28 de novembro o Haiti passará por eleições para presidente e para deputados, dentro de uma “sociedade política atomizada”, conforme classificou ele, ao comentar sobre a existência de 19 candidatos à presidência.

Ele esteve à frente da Missão Civil Internacional (Micivih, na sigla em inglês) da ONU de da OEA que, entre 1995 e 2000, documentou violações aos direitos humanos no país. Com essa experiência, Matarrollo se diz convencido da necessidade de reforçar as instituições democráticas, em especial a justiça para a proteção do cidadão.

Consultado sobre se a Unasul planeja cumprir com um trabalho semelhante ao da Micivih para reconstruir o Estado social de direito, ele disse que “é possível que se plante essa possibilidade, pois é preciso avançar” neste sentido.

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Com agências