Chovia na Geórgia (EUA). A época, não se sabe. Era noite!

      O velho Benedetto cantarolava sua música favorita, a qual havia sido sucesso em todo o mundo: “I Let My Heart in San Francisco”, testando o som junto ao amigo pianista, no pequeno palco do pequeno restaurante da cidade de Savannah.

                                               
                                                            SAVANNAH – GEÓRGIA-EUA

      O ACAS desceu do taxi, deixando o troco para o motorista portorriquenho. Saiu do taxi e já foi pisando na água empoçada junto à sarjeta. Passou sob o toldo do restaurante, tentando livrar-se dos pingos insistentes da chuva que passavam de seus parcos cabelos para o ombro do paletó que usava. Virou-se novamente para a rua e ainda viu, dobrando a esquina, o seu taxi afastando-se lentamente na rua deserta. Lembrou-se que aquela era a primeira vez na vida que visitava aquela cidade americana.

      O maitre do “Cosa Nostra” aproximou-se sorridente, tentando falar Inglês. O ACAS disse-lhe “Boa Noite” em Italiano; então o sorriso tomou todo o rosto do maitre Bruno. 

      Depois que soube ser o ACAS brasileiro, mais feliz e gentil mostrou-se. O ACAS lhe disse então, que havia ido até lá para comer uma boa massa e para ouvir o Bennedetto e o piano do Bill. Bruno, o maitre, acomodou-o numa mesa e depois foi até os fundos do restaurante e voltou acompanhado do velho Bennedetto.

      -Piaccere, signore brasiliano; disse-lhe o Bennedetto.

      O ACAS cumprimentou-o efusivamente e após, fez um pedido ao cantor:

      -Per favore, canta “I Let My Heart in San Francisco”!

                                                       
                                 TONNY BENNETT EM AÇÃO: NO PALCO, ONDE FOI SEMPRE REI

      E o velho Antonio Dominique Bennedetto, conhecido como Tony Bennett, atendeu-o e cantou como nunca, acompanhado pelo fiel amigo e pianista Bill Evans.

      Enquanto ouvia a canção, o ACAS olhava a janela da cantina, à sua esquerda: observando melhor, constatou que muitas gotas d´água escorriam nos vidros da mesma.

      Com um olhar mais atento, viu sua própria face refletida nos vidros, com as gotículas escorrendo sobre ela, como se a chorar ele estivesse. Voltou olhar para o interior da cantina: viu o maitre atendendo outros fregueses e o Tony Bennett agradecendo os aplausos!

      Então a imagem evanesceu-se!
      …………………………

      O tempo, senhor da razão e que cura todas as dores, decerto havia parado magicamente naquela imagem que o ACAS viu no vidro da janela da cantina. Acordou em São Paulo, Brasil, desiludido, porém vivo. Era nove de setembro de 2010. Parecia ainda ouvir a canção do velho Bennedetto e realmente percebeu-se vivo e que havia ganhado de Deus mais um dia de vida.

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.