Essa visão de futuro esteve presente desde os anos 30, quando o Estado brasileiro começou a se organizar; passou pelo pós-guerra, graças às negociações diplomáticas de Vargas; atravessou o governo JK; permaneceu no governo caótico de João Goulart; e se fez presente igualmente no período Campos-Bulhões, que criou as bases para o crescimento brasileiro dos anos 70.

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Principal escola de pensamento desenvolvimentista da América Latina, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) consolidou o desenvolvimentismo como proteção do mercado interno contra competidores externos, processo de substituição de importações etc.

Nos últimos anos, o novo desenvolvimentismo agregou pontos importantes, especialmente na visão sobre inovação e tecnologia.

Para se desenvolver, o país terá que estimular a chamada agregação de valor nos produtos, estimular a inovação, investir em tecnologia – especialmente através do setor privado. Ou seja, instituições de pesquisa, fundações de amplo à pesquisa, universidades, devem produzir e financiar a busca do conhecimento. Mas a verdadeira inovação deve se dar no âmbito das empresas.

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Estudioso consagrado de modelos de desenvolvimento, o economista Glauco Arbix – ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – publicou trabalho recente historiando esses avanços na visão de inovação

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Segundo o estudo de Arbix, desde os anos 30, as políticas de Ciência e Tecnologia (C&T) estavam focadas prioritariamente na construção, apoio e fortalecimento da pesquisa básica gerada em institutos e universidades – já vista, então, como pré-condição para a industrialização pretendida.

Constata o trabalho que mesmo após as grandes mudanças da economia, ao longo dos anos 90, o setor produtivo continuou visto apenas como receptor do conhecimento produzido e dos recursos humanos treinados pela Universidade.

Entendia-se que bastaria o mercado funcionar corretamente para que a busca de ganhos de produtividade impulsionassem a inovação e a tecnologia.

Lembro-me de uma declaração famosa do ex-Ministro Pedro Malan, de que não haveria a necessidade de investir em tecnologia: bastaria permitir às empresas acesso a equipamentos importados a preços módicos.

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Esse quadro começa a mudar no final da década de 1990 – constata o trabalho – e, particularmente, desde 2004, com a nova Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).

A inovação passa a entrar, então, em posição de destaque no planejamento governamental, especialmente a partir da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e do Plano de CT&I (2008).

A partir daí, “as empresas começaram a ser vistas e tratadas como unidades-chave para a geração de inovações, e a economia tornou-se mais amigável às empresas inovadoras”.

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É importante salientar o papel fundamental de Britto Cruz – atual diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na consolidação desses novos princípios.

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Fonte: Luis Nassif Online