O que se tem é o seguinte:

O nível atual do câmbio tornou-se insustentável, devido ao rombo nas contas externas.Há consciência da futura equipe econômica da candidata Dilma Rousseff de que alguma coisa terá que ser feita no futuro. As eleições atrapalham. Depois, haverá o período intermediário até sua posse, em 1o de janeiro.O que de pior poderia acontecer com Dilma seria, após a posse, ocorrer uma crise cambial – ainda que amenizada pelo nível atual das reservas cambiais. Estrearia o governo substituindo o maior líder popular da história com o ônus de uma desvalorização cambial.Dado o nível de exacerbamento da oposição e da mídia, abriria espaço para o terceiro turno das eleições, com ímpeto redobrado devido ao final da era Lula.Por outro lado, nos últimos dois anos Lula esmerou-se em tomar uma série de atitudes visando reduzir a pressão sobre o primeiro ano do governo Dilma. Deu aumento maior ao salário mínimo, resolveu problemas de categorias do funcionalismo público, visando poupar Dilma do desgaste. Essa mesma preocupação revelou-se na estratégia de campanha, sacrificando interesses do PT em alguns estados, para reforçar a base parlamentar. O próprio Lula anunciou que, saindo go governo irá se dedicar à reforma política visando trazer estabilidade definitiva ao jogo político brasileiro.

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Por todos esses sinais, é factível supor que poderia antecipar os ajustes cambiais visando poupar a sucessora dessa refrega justo no seu primeiro ano de governo.

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A situação cambial atual é suficientemente grave, sem considerar outros perigos potenciais no ar. Por exemplo, a dificuldade da recuperação da economia mundial poderá afetar as cotações de commodities – que, até agora, se tornaram a verdadeira âncora das contas externas.

Além disso, as desvalorizações competitivas de moedas nacionais tendem a se acirrar. Na semana passada o Japão anunciou a intenção de desvalorizar o yen. Há enorme pressão sobre a China para que aprecie sua moeda.

Sem dinamismo interno, as maiores economias do mundo tenderão cada vez mais a substituir o mercado nacional pelas exportações. Essa guerra comercial já foi iniciada e tende a se acirrar.

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Existe a convicção na equipe econômica de que a desvalorização será inevitável.

Seus desdobramento não serão tão dramáticos quanto em outros momentos. Haverá problemas com importadores, algum refluxo inflacionário – que em um primeiro momento terá que ser combatido com juros elevados. Além disso, o Banco Central parece ter acordado para os novos tempos, atuando com mais firmeza para impedir as operações com derivativos – responsáveis por grandes perdas no mercado, na última desvalorização.

Além disso, na semana passada pela primeira vez anunciou sua intenção de “operar” o mercado – isto é, atuar de surpresa para impor perdas aos especuladores, algo que não ocorre desde o início do Real.

Do lado fiscal, haverá enorme ganho para o governo, graças ao montante de reservas cambiais em poder do Banco Central e ao pequeno volume de títulos cambiais no mercado. Assim, o combate à crise não precisará vir acompanhado de um pacote fiscal pesado.

As armas do BC – 1

Para se prevenir contra alterações mais bruscas da moeda, a Fazenda e o Banco Central dispõem do seguinte estoque de medidas:

Alertas ao mercado: A especulação tem ligação direta com a ausência de risco. Quanto mais o mercado acredita que a apreciação do câmbio é inevitável, mais apostará nela. Ao fazer as ameaças, Guido Mantega pretende incutir a noção de risco, visando reduzir o apetite dos especuladores.

As armas do BC – 2

Tempo de permanência: Impor tempo de permanência ao dólar que entra. Com isso amplia o fator risco, já que o fantasma da desvalorização cambial passa a ameaçar um horizonte maior de permanência dos recursos. O fator que, paradoxalmente, ajuda a alimentar a especulação é, justamente, o nível das reservas cambiais. Minimiza os efeitos de uma desvalorização. Mas torna os agentes financeiros menos cautelosos.

As armas do BC – 3

De qualquer modo, em caso de crise cambial, não haverá mais o aperto de outros momentos, em que as linhas internacionais de crédito do país praticamente secaram. Isso ocorreu em 2002 e 2008. A própria internacionalização do sistema bancário brasileiro – com bancos nacionais indo para o exterior – ajudará na transição para o novo patamar cambial.

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Fonte: Luis Nassif Online