O novelo a se desenrolar é o seguinte.

O papel do governo será articular os seguintes agentes: empreiteiras, investidores e consumidores. Ou seja, terá que ser obras que compatibilizem tarifas baixas (para não encarecer o custo Brasil) e margens de rentabilidade atraentes (para atrair fundos de investimento.

Para compatibilizar essas duas prioridades, o custo das obras não poderá ser excessivo. E, aí, se esbarra em um problema algo complexo.

É intenção geral, no futuro governo, recorrer a empresas nacionais para as obras. É medida virtuosa de política industrial. Em vez de exportar empregos (comprando fora), constrói-se aqui. O caso da indústria naval é emblemático.

Contudo, ao proceder assim, limita-se a possibilidade de competição, visando reduzir os custos.

A história de Belo Monte mostra isso.

Poucas empreiteiras resolveram jogar o preço em um patamar elevado. Através da Empresa de Planejamento Estratégico (EPE), o governo jogou o preço para baixo. As grandes empreiteiras não participaram, obrigando a um arranjo visando formar o consórcio comprador e, ao mesmo tempo, viabilizar financeiramente a obra. Houve isenção de tributos, financiamentos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico s Social) e recursos de fundos de pensão.

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O desafio maior será quando os projetos de infra-estrutura estiverem a mil por hora. Nesse caso, existirá o risco concreto de perda de controle sobre as diversas operações e de se ficar nas mãos de poucos grupos nacionais.

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Esse mesmo desafio se dará no âmbito da gestão dos programas de investimento. Na fase inicial do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), houve uma concentração na Casa Civil, necessária para agilizar o programa. Ocorre que a Casa Civil não dispõe de estrutura de análises de projetos e de crédito. Nem os Ministérios, hoje em dia, dispõe dessa estrutura.

Por isso mesmo, o trabalho central do processo será do BNDES, que possui quadros técnicos e experiência para análises de projetos nos diversos setores.

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Outro cuidado importante é não extrapolar no uso das estatais para viabilizar grandes projetos de desenvolvimento. Por extrapolar, entenda-se passar a impressão de interferências não técnicas na sua gestão, que possam comprometer sua capacidade de captação de recursos no mercado.

Caso típico é a Petrobras. Terá papel essencial na viabilização do pré-sal e de toda a política industrial subjacente. No entanto, permitiu-se o crescimento de um certo rumor de mercado, que abriu espaço para uma campanha midiática pesada, visando derrubar o preço da empresa, para conseguir ações baratas no momento do lançamento das ações.

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Essa mesma preocupação deverá ser tomada em relação a outras empresas alavancadoras de crescimento, como a Companhia Vale do Rio Doce.

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Fonte: Luis Nassif Online