Sangue voltou a correr no Cáucaso. Não rios de sangue desta vez, como tão frequentemente tem corrido nessa “maldita” região ao longo dos últimos 20 anos, mas isto não é, infelizmente, tanto consolador quanto é ouvido.

Os assassinatos por objetivos políticos de simples soldados denunciam a evolução de planos para provocação de tensões em múltiplas áreas, que não é difícil resultarem em inflamações bélicas.

A permanente escalada de tensão entre Armênia e Azerbaijão, disputando o bolsão de Nagorno-Karabach, e a galopante desestabilização da importante estrategicamente república russa de Daguestão, no litoral do Mar Cáspio, encontram-se, ultimamente, no epicentro de preocupantes evoluções.

Há duas semanas, aquilo que predominava na imprensa internacional era os espetaculares lances do Kremlin com objetivo de reconstituir sua influência político-militar sobre o sul do Cáucaso – isto é, sobre os países do Cáucaso situados fora das fronteiras da Rússia (Armênia, Azerbaijão, Geórgia).

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, visitou Yerevan, capital da República da Armênia, no mês passado. Ali, formalizou com Serge Sarkssian, seu colega armênio, um impressionante acordo de prorrogação da manutenção da gigantesca base militar russa de Gumri em território armênio, distante apenas de 20km da fronteira da Armênia com a Turquia, até 2044 (!), de 2020, que era até agora.

Trata-se de uma base-chave que concentra 5 mil soldados russos. E neste fim-de-semana Medvedev visitará Baku, capital de Azerbaijão. A propósito: a visita de Medvedev coincide com a confirmação da venda de mísseis S-300 da Rússia para o Azerbaijão – “inimigo jurado” da República da Armênia – por US$ 300 milhões.

Disputas territoriais

Terça-feira desta semana foram registrados sérios episódios, envolvendo soldados azeros e armênios com vários mortos no bolsão de Nagorno-Karabach, região montanhosa que durante a época da União Soviética pertencia a Azerbaijão, hoje habitada exclusivamente por armênios e que já tornou-se independente de Azerbaijão, após um sangrento conflito armado com a Armênia que causou 30 mil mortos.

Os frequentes episódios em torno do bolsão de Nagorno-Karabach são provocados pelo Azerbaijão, cujo governo agoniza para constatar quais são as consequências políticas do acordo formalizado entre Rússia e República da Armênia: tornará mais flexível o predomínio armênio sobre o bolsão de Nagorno-Karabach, permitindo-lhe a realizar recuos que até hoje se recusava, ou resultará em endurecimento da posição da Armênia?

Nos últimos anos, a República de Azerbaijão – derrotada durante a guerra com a República da Armênia no início da década de 1990 disputando, exatamente, o bolsão de Nagorno-Karabach – está se armando febrilmente, graças a suas arrecadações pela venda de petróleo, enquanto crescem as declarações de autoridades do governo azero que não excluem a eclosão de um ataque militar para reintegração do bolsão de Nagorno-Karabach e de alguns territórios, claramente azeros, invadidos pelos armênios.

E aí nasce a pergunta: o novo acordo bilateral Rússia-República da Armênia significa que, em caso de ataque azero, as tropas russas defenderão os armênios? Anotem que, no dia 11 do mês passado, o Governo da Rússia revelou que instalou baterias de mísseis terra-ar no estratégico território de Abhazia, retirado da República de Geórgia e reconhecido pela Rússia como Estado independente após o conflito russo-georgiano de 2008.

Kremlin não controla

Também, o Governo da Rússia revelou que já instalou baterias de mísseis terra-ar em Osétia do Sul, outro território estratégico, igualmente reconhecido pela Rússia como estado independente.

E enquanto todos estes lances provam que a Rússia busca impor novamente no Cáucaso uma ordem russa, os fatos em Daguestão comprovam quão instável é a situação dentro das fronteiras da Rússia no Cáucaso.

A tentativa de assassinato, semana passada, de Bekmoursá Bekmoursayev, ministro de Religiões e Nacionalidades de Daguestão, que escapou com ferimentos leves, e o ataque suicida realizado poucas horas depois dentro de um campo de tiro russo, também no Daguestão, matando cinco e ferindo 39, não deixam margem de falsas sensações de segurança e estabilidade. As guerras no Cáucaso não terminarão nunca…

Caos no Daguestão – uma republiqueta que, se a Rússia perdê-la, perderá a maior extensão de litorais do Mar Cáspio que lhe sobraram e será cortada a ligação terrestre entre Rússia e Azerbaijão. Caos continua em Chechênia, na Ingusétia.

Guerra com a Geórgia, ameaça de eclosão de guerra entre Armênia e Azerbaijão. Geórgia perde Abhazia e Osétia do Sul. E ao lado a Turquia cobiça territórios fronteiriços e insufla movimentos islâmicos separatistas. Este é o Cáucaso, uma região ameaçada explodir se EUA e Israel resolverem atacar o Irã.

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Fonte: Monitor Mercantil