Caro leitor. Basta andar por nossa cidade para ver o que estamos fazendo com ela. Nos últimos dois anos o Brasil bateu recordes de produção e venda de carros. Parte pelas facilidades de financiamento, parte pelo aumento do poder de compra da população. O fato é evidente: a frota não para de crescer e a única coisa que estamos fazendo é pensar em melhorar o tráfego e expandir a malha viária. Ninguém fala em tirar os carros da rua, fazer rodízio, proibir carros movidos pelo diesel, criar um sistema eficiente de transporte de massa nodalizado e barato, acabar com os caminhões nas áreas centrais e dar melhores condições de mobilidade não motorizada, através da implantação de ciclovias, por exemplo.

      Não!

      Só se fala em carros, carros e carros. Viadutos. Avenidas. Asfalto. Buracos. Ruas. Semáforos. Estacionamentos.

      Não que sejam assuntos sem importância ou emergenciais. Pelo contrário. Devemos correr agora atrás do tempo perdido e apagarmos os incêndios antes que a cidade pare. Um Sistema de Transporte de Massa demoraria de dois a cinco anos para ser projetado e implementado. Até lá, a cidade tem que viver. Mas temos que pensar o futuro.

      E devemos ir além! A poluição do ar deve entrar na pauta. Proibir o carro de passeio a diesel em nossas ruas, barrar os ônibus de transporte internacional fora dos padrões básicos de conforto e emissão de gases, implementar a inspeção veicular anual nos veículos e (porque não?) propor um rodízio de carros.

      E não adianta vir com o discurso de “liberdade”. Não cola. Cidades de todo mundo adotam medidas anti-carro com muito sucesso. Desde pedágios para acesso a áreas centrais até medidas de proibição total de circulação de veículos nessas regiões. Dá pra revolucionar se quisermos: sistema eficiente de transporte de massa e combate ao carro. Pronto. É fácil. No começo todo mundo vai gritar, mas com o tempo, a longo prazo, tudo melhora e a turma da chatice cai do cavalo. Um dia disseram que vacina matava. Hoje salva vidas. Vamos nos vacinar do colapso urbano, antes que seja tarde.

      Veja bem, amigo leitor, se tudo continuar como está, é melhor colocar nossos carros no piloto automático e ir embora da cidade. Em breve. Pois vai faltar espaço para a gente viver. Vão tirar nossas casas para abrir ruas e avenidas.

      Pense nisso e boa semana!

 Luiz Henrique Dias é escritor, membro do Núcleo de Dramaturgia do SESI/Curitiba, professor de física, estudante de Arquitetura e Gestão Pública e comunista (convicto). Ele é do tipo que reclama do uso excessivo do carro e luta por um transporte de massa com qualidade. O classificamos como “idealista”. Um bobo, na verdade. O Luiz escreve na Gazetinha todas as segundas e em seu blog acasadohomem.blogspot.com . Dá pra seguir ele no twitter, também @LuizHDias.