Novos dados negativos foram revelados sobre o papel que desempenharam as agências internacionais de avaliação da capacidade de endividamento (rating) durante a última crise financeira, a maior depois do crash de 1929. Esta é convicção que se conforma pelos depoimentos de executivos de Clayton Holdings perante a Comissão Especial de Audiências sobre a Crise Financeira do Congresso dos EUA (Financial Crisis Inquiry Commission).

Ao que tudo indica, as agências de rating tinham a possibilidade de acesso a dados que revelavam, antecipadamente, a onda arrasadora de empréstimos habitacionais de alto risco no mercado norte-americano de crédito habitacional. Contudo, optaram por ignorá-los, ampliando as consequências da crise.

Hoje, estas agências de rating são alvos de ataques ferozes das autoridades européias por continuarem reavaliando – para baixo – a dívida de estados em períodos de grande volatilidade dos mercados, agravando o existente clima de investimentos e, por extensão, o problema desses estados.

A instituição Clayton Holdings possivelmente não é conhecida entre o grande público, mas é bastante conhecida no estreito círculo de Wall Street. Desde 2006, avalizava empréstimos habitacionais que eram titulados em debêntures e, posteriormente, montados em “pacotes” de acordo com a categoria de risco creditício.

As específicas debêntures de empréstimos constituíram um dos motivos básicos da eclosão da crise financeira. Lastreadas em empréstimos habitacionais de alto risco, cujos respectivos tomadores não poderiam resgatá-los, resultaram em risco generalizado e perdas em massa em todo o espectro do sistema financeiro.

Até “feras” dos mercados foram enganados. Investiram nesses papéis por terem sido generosamente avaliados pelas agências internacionais de rating, cujos dirigentes defendem suas táticas operacionais, afirmando que examinavam com atenção todos os dados desde 2006-2007.

“Ninguém se interessou”

Keith Johnson, ex-presidente de Clayton Holdings, declarou semana passada perante a Comissão do Congresso norte-americano que “quase a metade dos empréstimos habitacionais que haviam sido avaliados positivamente desde o início de 2006 até 2007 não atendia a fundamentos qualitativos básicos. E nossos resultados de exames foram comunicados às agências de rating. Indagamo-lhes se estes dados seriam úteis na desvalorização das debêntures”, declarou Johnson.

Ele destacou, em seguida, que “ninguém se interessou”. As avaliações da Clayton Holdings eram baseadas em dados sobre a situação de rendimentos dos tomadores dos empréstimos e a relação entre o valor das casas e o volume dos empréstimos habitacionais solicitados, o aumento das garantias, assim como outras características qualitativas para a específica compra.

Johnson atribuiu o desinteresse das agências de avaliação de risco à competição entre elas. “Se uma destas agências tivesse se interessado por nossos dados, então perderia fatia do mercado”.

A Clayton Holdings examinou 911 mil pedidos de empréstimos habitacionais para 23 bancos de investimentos e bancos comerciais, incluindo Citibank, Deutsch Bank, Goldman Sachs, UBS, Merrill Lynch, Bear Stearns e Morgan Stanley. Os resultados eram realmente interessantes, porque denunciavam a facilidade com que eram concedidos empréstimos nos EUA, fomentando supervalorizações históricas no mercado de imóveis.

Cerca de 28% dos empréstimos durante aquele período foram condenados ao fracasso e somente 54% destes atendiam aos critérios de concessão dos bancos ou financeiras para sua titulação em debêntures. Apesar de tudo isso, esses “pacotes” de empréstimos, independentemente de suas “características qualitativas”, desfrutavam da classificação máxima das agências de classificação de risco, convencendo até os mais experientes profissionais do setor para investirem nesses papéis.

FMI atribuirá responsabilidades

De acordo com relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado pouco antes da reclassificação – para baixo – da Espanha pela agência Moody”s, as avaliações da dívida estatal pelas agências de classificação de risco contribuíram para a instabilidade financeira e econômica.

Conforme destaca o relatório, as avaliações – para baixo – são baseadas em cânones financeiros e regulamentações automáticas que deverão ser limitadas. As agências de classificação de risco deverão prestar maior atenção à correção da dívida pública e seus ônus paralelos.

O FMI afirma ainda que “as alterações das avaliações não deverão atrasar, porque algo assim poderá causar tensão sobre as hipérboles do ciclo econômico”. Também destaca “as preocupações que têm sido expressas sobre choques de interesses provocados pelo modelo empresarial das grandes agências de avaliação de risco, assim como por suas avaliações pagas pelos emissores de debêntures, criando pressões para avaliação alta”.

Contudo, o FMI avalia que, se os investidores pagassem pelas avaliações, pressionariam as agências de avaliação para que retardassem as reavaliações – para baixo – evitando assim vendas maciças de títulos.

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Fonte: Monitor Mercantil