A candidata afirmou que, além das condições climáticas favoráveis e da terra fértil, o Brasil dispõe de um avançado sistema de ciência, por meio da Embrapa, para a agricultura. Sobre o Inpe, Dilma Rousseff disse que ele foi determinante para o combate ao desmatamento da Amazônia. Já a Fiocruz, enfatizou, produz remédios que antes eram importados, garantindo melhorias no sistema de saúde do país. Ela lembrou a quebra de patentes de retrovirais no governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva como um sinal de avanço na soberania do país nesse seguimento. A candidata saudou o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, ao lembrar que recebera uma carta-proposta de sugestões para o seu governo.

Dilma Rousseff aproveitou o momento para também saudar o premiado pesquisador Miguel Nicolelis. “O Brasil do futuro precisa de cientistas — eles iluminam o país”, disse ela, olhando para Nicolelis. Para a candidata, ele é a prova de que o Brasil pode sim ter grandes cientistas. Em entrevista após o ato, o cientista retribuiu a homenagem dizendo que Dilma Rousseff é a garantia de que a construção de um projeto de nação não será interrompida. “Esta eleição é vital para a História do Brasil e para construção de um projeto de nação. Vai decidir qual vai ser o futuro que o Brasil vai ter para muitas gerações que estão ainda por nascer. É uma proposta que eu, pessoalmente, e muitos dos meus colegas na área científica acham que chegou a hora do Brasil. E não podemos parar o trabalho pela metade. Foi por isso que eu fiz a minha opção de apoiar a candidatura da Dilma Rousseff”, afirmou.

Ainda no palco, a candidata focou sua intervenção na educação — a data, Dia dos Professores, foi lembrada como um momento de reflexão para o futuro do país. Para ela, a educação é o próximo passo para acabar com a desigualdade no Brasil. Com o compromisso de valorização dos professores, com salários dignos, plano de carreira e formação continuada, Dilma defendeu o respeito e o diálogo nas negociações com os trabalhadores da educação. “Acabamos com o sucateamento da educação no Brasil. De nada adianta defender a qualidade da educação sem salário decente, plano de carreira e formação continuada dos professores”, disse. Para ela, nenhum ser humano se move sem estímulo. “É preciso diálogo e estímulo, não cassetetes”, argumentou. Segundo a candidata, a educação vai assegurar que o Brasil dê um salto e alcance o desenvolvimento. “Educação é o valor imaterial que garante que cada brasileiro tenha a oportunidade de melhorar de vida. O Brasil só será uma nação desenvolvida se apostar na educação”, ressaltou.

Convicções pessoais

Dilma Rousseff sublinhou a constituição de uma consistente política de ciência e tecnologia no governo Lula. “Como o Brasil não tem uma cultura de investimentos privados nesse setor, o Estado precisa estar presente”, afirmou. Ao falar do futuro, a candidata, com voz firme, disse que saudava a juventude guerreira da pátria brasileira. Ela registrou que recebera também da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) um manifesto de apoio à sua candidatura. Do mesmo modo, disse, recebera documento idêntico da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) e dos reitores de universidades. Ao registrar o recebimento desses documentos, Dilma Rousseff declarou que eles davam base para se discutir o que realmente interessa ao país. Para ela, essas eleições estão ocorrendo em um clima diferente. Arrancando gargalhadas do público, disse que “nunca antes na história deste país — como diz o nosso querido presidente Lula — uma central de boatos fora montada de forma tão científica, tão organizada”.

Para ela, a direita tentou criar confusão entre a população, incitando o ódio e desrespeitando as diferenças de convicções pessoais e até mesmo o caráter laico do Estado. A candidata arrancou aplausos efusivos ao enfatizar que o respeito a todas as religiões é um princípio democrático que não pode ser violado ao sabor de interesses eleitoreiros. Dilma Rousseff lembrou que o presidente Lula havia passado por algo semelhante em eleições passadas, mas que nessa a virulência atingira um grau inaceitável. Em 2002, disse ela, espalharam que um eventual governo Lula mudaria as cores da bandeira, fecharia igrejas e semearia o caos. “Fomos para as ruas, dissemos que a esperança venceria o medo, ganhamos as eleições e o Brasil hoje é esse país respeitado em todo o mundo, que não está mais de joelhos diante do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, discursou.

Programa de governo

Dilma Roussef também delineou as bases do seu programa de governo ao afirmar que governará não para um terço da população, mas para 190 milhões de brasileiros. E uma das prioridades, disse, é o investimento em educação, ciência e tecnologia, para que a juventude tenha garantias de um futuro melhor. Ao mesmo tempo, enfatizou, seu governo terá como prioridade criar condições para a melhoria da vida das crianças e dos idosos, “um governo que olhe para o povo e pensa em como melhorar a vida de cada brasileiro e brasileira”. “A educação é um grande passo para o combate à desigualdade na medida em que ela assegura a igualdade de oportunidades”, afirmou. A candidata destacou ainda o papel de programas sociais como o Bolsa Família, o Prouni, o aumento do salário mínimo, a oferta de crédito barato. “Vamos governar mirando o futuro”, resumiu.

Para ela, nessas eleições existem dois projetos bem distintos, que a central de boatos da direita tenta esconder. “De um lado, está o projeto do respeito aos seres humanos, do desenvolvimento, da democracia. De outro, está o projeto do desemprego, das privatizações, que já governou este país. Nosso povo precisa ter memória. É importante lembrar o passado para pensar o futuro”, comentou. Dilma Rousseff lembrou que foi do representante desse segundo projeto, o candidato José Serra, a iniciativa de tirar da Constituição a interiorização da educação. E que um aliado dele, o DEM, tentou acabar com o Prouni. Segundo a candidata, para o seu governo sobrou a melhor parte — o alicerce do seu governo já está pronto, com as medidas que tiraram 28 milhões de brasileiros da miséria. “Minha meta é, sem a menor dúvida, não perder um dia sequer na tarefa de tirar os outros 21 milhões que ainda estão nessa condição”, disse.

Serra do outro lado

Discursaram no evento também representantes de entidades populares e de segmentos sociais. Marco Aurélio Garcia, coordenador nacional da campanha de Dilma Rpusseff, fez um apelo para que todos se empenhassem nessa reta de chegada para garantir a continuidade da grande obra iniciada com o governo Lula. Ele lembrou que ali estavam as vítimas de Serra, uma alusão à forma repressiva com que o governo do Estado de São Paulo trata os professores. “O momento é de mobilização dos ativistas da continuidade das mudanças pelas quais o país está passando”, enfatizou.

Maria Isabel Noronha, a Bebel, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, alertou que as promessas de valorização da categoria e de defesa da educação feitas por Serra na campanha presidencial não passam de “conversa fiada”. “Serra é adversário dos professores. A educação no estado de São Paulo é uma vergonha. Dilma significa avanço. Serra é retrocesso”, afirmou Izabel, lembrando que o governo de São Paulo usou a polícia contra os professores em greve.

Augusto Chagas, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), disse que Serra é inimigo do estudante. Segundo ele, o tucano declarou que a entidade mudou de lado. “Ele é o único ex-presidente da UNE que vem a público falar mal da nossa entidade e insinuou que a UNE mudou de lado. A UNE sempre esteve do lado certo. Ele é que mudou de lado”, disse Augusto Chagas, lembrando que enquanto estudantes e professores apanhavam da polícia, Serra estava atacando as universidades públicas. “Por isso, a nossa decisão de apoiar Dilma”, afirmou. O presidente da UNE encerrou dizendo que o secretário da educação paulista é Paulo Renato, o mesmo que foi ministro da área no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Futuro da juventude

Amaro Lins, da Universidade Federal de Pernambuco, falou em nome dos demais reitores presentes e destacou que o documento entregue a Dilma Rousseff reconhecia os imensos avanços obtidos com o governo Lula. “Reconhecemos que neste governo a ciência foi avaliada como um dos pilares centrais do desenvolvimento”, disse ele, ressaltando que houve contratações de profissionais, melhorias infra-estruturais e ampliação de campis e cursos. Ana Maria Freire, viúva do educador pernambucano Paulo Freire, emocionou o público ao lamentar a campanha que tenta dividir o Brasil e espalhar o ódio. “Se vamos dividir, nós somos os de bem. Serra serve à elite e desserve ao povo. Dilma serve e enobrece o povo”, disse.

Discursaram ainda Paulo Leão, presidente da Contree; Eliane Rocha, representante da Contag; Major Olímpio, deputado estadual (PDT-SP); Rosana Xavier, bolsista do Prouni; e o senador Aloísio Mercadante (PT-SP). O senador disse que o Dia do Professor deveria ser lembrado pelas bombas, cassetetes e repressão dos governos do PSDB. Segundo ele, nem durante a ditadura a polícia invadiu a Universidade de São Paulo (USP) — não violando o princípio da autonomia universitária. Serra, no entanto, passou por cima da democracia e mandou a polícia ocupar a universidade. “O PSDB faz coisas para poucos. E pobre só tem oportunidade com educação. Ao destratar a educação, Serra está condenando a maior parte da juventude a viver sem futuro”, finalizou.