A CASA DO HOMEM
Vinha eu reparando uma conversa entre duas pessoas, dia desses, num ônibus do transporte coletivo. O assunto era a corrupção na política. Como me interesso no assunto, fiquei a ouvir e, como tento não ser chato, não expressei opinião alguma. Fiquei ali, parado, apenas tentando entender o pensamento daqueles dois cidadãos de minha cidade. Confesso me emocionar ao ver duas (ou mais) pessoas falando de coisas que não sejam futebol ou o programa do momento. Nossa cidade (e nosso país) precisa ser discutida. E lá íamos nós: eles falando, eu ouvindo.
A conversa parecia estar indo bem. Os dois, um mais novo e um pouco mais velho, falavam sobre o que a corrupção pode causar no país e como o dinheiro desviado dos cofres públicos poderia ser utilizado para melhorar a vida das pessoas. Apesar de usarem frases feitas e conceitos prontos, a conversa ia bem intencionada, passando por esferas municipais, estaduais e federal, incorporando o Executivo, o Judiciário e o Legislativo e atribuindo responsabilidades a esse ou a outro nome (cada um com suas opiniões). Mesmo sem concordar com boa parte do falado pelos dois, estava encantado com o momento democrático que estava presenciando ali, no ônibus, voltando para casa. Eis que o mundo prega uma peça!
Um dos dois cidadãos, o mais velho, que comia um pacote de salgadinho durante a viagem, se esquiva na direção da janela e arremessa o pacote vazio em direção à rua.
Ao lado dele, ali no ônibus, havia uma pequena lixeira. Mas ele preferiu jogar pra fora do ônibus.
Eu que também não aceito de corrupção concordava com partes da conversa. Fiquei feliz em ver o debate. Todo tem que falar de política. Mas, eu que também sou cidadão, fico assustado ao ver atitudes tão nocivas ao convívio urbano. Os exemplos devem vir de cima para baixo e de baixo para cima. Os políticos devem dar seus exemplos, e nós também. E nossos exemplos são cidadania e voto.
Luiz Henrique Dias é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e Gestão Pública e comunista (convicto). Ele é daqueles caras que acreditam no seguinte: o cara que joga um papel na rua, pode também jogar o seu voto por aí. O Luiz escreve diariamente em seu blog acasadohomem.blogspot.com . Dá pra seguir ele no Twitter também: @LuizHDias