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    Comunicação

    A insolente ou a grávida

    Deus, aquele poema que salta da rica poeira da vida nem veio me abrir. Eu, que venho do universo regado a ferro no caroço do feijão, do milho, da esperança plantada no corpo de grão em grão, emagreço. Abraço a cabeça com as mãos ou ponho o rosto sobre o braço enrodilhado e choro. Com […]

    Deus, aquele poema que salta da rica poeira da vida
    nem veio me abrir.
    Eu, que venho do universo regado a ferro
    no caroço do feijão, do milho,
    da esperança plantada no corpo de grão em grão,
    emagreço.
    Abraço a cabeça com as mãos
    ou ponho o rosto sobre o braço enrodilhado
    e choro.
    Com a ponta dos dedos desalinho as sobrancelhas,
    volto a empurrar palavras no piso branco do papel,
    num beijo forçado.
    Meu ventre crescido é clave.
    Tento escovar os pensamentos e encontro rinhas de galo,
    ou um tijolo deserdado, fora da sina da casa.
    Ergo-me em tronco, ofendida, afetada de decisão
    mas na varanda travo os passos
    e assisto aturdida a dança das cinzas vindas do fogo do canavial.
    Persisto, desço as escadas, recorro às ruas para especular
    grávidas mulheres.
    Mulheres à beira de parto.

    Marta Eugênia é Especialista em Linguística e Professora de Língua Portuguesa na cidade de Arapiraca em Alagoas.

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