DADOS DA CIDADE

      -Pirapora do Bom Jesus é uma cidade pequena e calma, às margens do Rio Tietê. A cidade fica num vale encravada entre grandes montanhas da serra do Ivoturuna. Fundada em 25 de maio de 1730, a cidade desenvolveu-se notadamente com os faiscadores de ouro e depois com a agricultura. Atualmente, o Rio Tietê está bastante poluído neste trecho. O Rio Tietê corta o centro velho da cidade e por vezes, pode-se observar tapetes de espuma sobre suas águas. Este fato ocorre devido a proximidades da cidade, da Barragem de Pirapora do Bom Jesus. Essa barragem, tem por finalidade acumular água, para atender a Usina Hidroelétrica de Rasgão, inaugurada em 1925, que se situa pouco mais abaixo e que produz energia elétrica para a cidade e até para outras usinas. As águas poluídas do Tietê, quando passam pelos seus vertedouros ou pela sua tubulação interna de descarga, acabam por produzir muita espuma, proveniente da contaminação da água por dejetos domésticos, notadamente detergente, usado em alta escala na maior cidade do hemisfério sul do planeta; São Paulo, que fica à montante e despeja diariamente algumas toneladas deste produto, utilizado em todas as casas dos 16 milhões de pessoas. O resultado da contaminação ambiental pode ser vista diariamente, sendo que este autor já presenciou pessoalmete um dia em que a ponte que cruza o rio e que fica no centro velho da cidade estava revestida de espuma; convém que o leitor atente de que a ponte fica, no mínimo cinco ou seis metros acima do nível normal do Rio Tietê naquele ponto.


VISTA DA IGREJA MATRIZ DE BOM JESUS DE PIRAPORA, A PARTIR DA PONTE QUE CRUZA A CIDADE. MAIS AO FUNDO, O SEMINÁRIO PREMONSTRATENSE

      Portanto, vocês podem imaginar o grau de poluição atual, que não só pode ser observado, mas também pode ser sentido pelo olfato, pois o mau cheiro, por vezes, é nauseante. Já a Serra do Ivoturuna que cerca a cidade, é tombada pelo Conselho Nacional do Patrimônio Histórico, o CONDEPHAAT e seu nome em Tupi, significa “Montanha Negra” ; nome esse dado pelos índios, devido à cobertura de vegetação de tonalidade escura, que em determinadas épocas do ano chegava a escurecer a paisagem do entorno do povoado. A Serra do Ivoturuna possui nascentes de água e cachoeiras, inclusive vertentes (fontes) que abastecem o município.

      Pirapora do Bom Jesus dista 53 km da cidade de São Paulo, com acesso para a rodovia SP-312 (Estrada dos Romeiros), através do Km 26 da rodovia Castelo Branco. A sua população em 2009 era de 15.706 habitantes, sua área é de 108 km²; o que resulta numa densidade demográfica de 127,43 hab/km². Seus limites são Cabreuva e Jundiái, a norte; Cajamar, a leste;Santana de Parnaíba, a sul e Araçariguama, a oeste.

      No início do povoamento, o Rio Tietê serviu como via de transporte, comunicação, energia, subsistência, irrigação e lazer. O ACAS esteve pessoalmente no início dos anos 60 na cidade e a cidade fervilhava de gente atraída pela religiosidade e também para lazer e pesca amadora. O rio era piscoso e a população flutuante de romeiros passeavam em barcas que os levavam paa montante do rio até a Usina e abaixo até um trecho em que o rio faz um remanso; local disputadíssimo pelos pescadores de fim de semana.

HISTÓRIA E RELIGIOSIDADE

      Pirapora do Bom Jesus é uma cidade turística, famosa pelas romarias que recebe; onde ciclistas, pedestres, charreteiros, cavaleiros e veículos motorizados chegam para reverenciar a imagem de Bom Jesus. Isso continua até os dias de hoje, embora o número de visitantes têm caído continuamente. A cidade é também parte do roteiro do “Caminho do Sol”, a versão brasileira mais conhecida do “Caminho de Santiago”, entre a França e a Espanha”, divulgado mundialmente até pelo escritor Paulo Coelho. No Caminho do Sol (do qual o ACAS está preparando artigo a respeito), são percorridos em onze dias, cerca de 240 quilômetros, passando por 12 cidades. O Caminho do Sol inicia-se na cidade de Santana de Parnaíba e termina na cidade de Águas de São Pedro. Quem completa o percurso, além de encontrar a introspecção e o desapego mateiral, e desde que tenha coletado todos os “carimbos de passagem” de locais prédeterminados, recebe também o “Arasolis”, que é o certificado de conclusão do percurso. (quem quiser antecipar informações entre emcontato com o idealizador do Caminho do Sol, José Palma, entre no e-mail [email protected] ). De certa forma, o “Caminho do Sol” veio revitalizar a região de Pirapora como uma das sedes espirituais do Brasil Católico Apostólico Romano, numa época em que o materialismo impera. A cidade de Pirapora do Bom Jesus e o Caminho do Sol, nos prova que a fé continua no nosso povo, se bem que nos dias atuais, robotizado, ele precisa de ânimo (alma) novo em fé antiga, assim o Bom Jesus de Pirapora e o Caminho do Sol são duas chances de tornar-mos mais espiritualistas e menos materialistas.

      Pirapora do Bom Jesus tornou-se município em 1959, quando se emancipou de Santana de Paraníba.

A IGREJA MATRIZ DO BOM JESUS DE PIRAPORA

       Em 1725, a imagem de madeira do Senhor Bom Jesus, o santo padroeiro da cidade, foi encontrada numa corredeira, apoiada numa pedra do Rio Tietê. Na cidade, o visitante encontra o primeiro Santuário Cristocêntrico do Brasil, cuja origem teve início em 1725, quando foi descoberta, em uma corredeira, a imagem do Bom Jesus.


FOTO FEITA PELO AUTOR, EM 2010: O CENTRO VELHO DA CIDADE E O RIO TIETÊ

     A capela inicialmente construída no local deu lugar a outra feita de madeira. Em 1845 iniciou-se a construção da atual Igreja (concluída em 1887- a data está mostrada na fachada principal da igreja), que abriga a famosa escultura de Cristo, com cabelos naturais. A escultura está localizada no Altar Mor, protegida por uma redoma de vidro à prova de balas e é acessada pela lateral da Igreja.

      Até hoje, a cidade continua recebendo um número bastante significativo de romeiros tanto em datas religiosas quanto em fins de semanas normais.

SEMINÁRIO

      O Seminário Premonstratense foi erguido em 1897. Sua arquitetura é em estilo colonial Português. Em Março de 1898 foram iniciadas as aulas no Colégio Premonstratense, com internato. Em 1905 é transferido para Pirapora, vindo de São Paulo, o “Seminário Menor Metropolitano” a pedido do Bispo de São Paulo, que funcionou até o final de 1948. De 1953 a 1967 funcionou também no prédio, o Noviciado Premonstratense e o Seminário Maior. Em dezembro de 1975 o seminário encerrou suas atividades.

      Atualmente, o prédio serve na sua parte da frontal como residência de cônegos que administram o Santuário, já a segunda parte é destinada ao curso de jovens que ocorrem nos fins de semana. Dentro do seminário, há um museu, iniciado pelos próprios irmãos no ano de 1900, onde encontramos coleções de borboletas de espécies exóticas e extintas, moedas e selos antigos em ótimo estado de conservação, objetos religiosos pertencentes aos primeiros cônegos, peças pertencentes á Segunda Guerra Mundial; e animais empalhados, pertencentes à mata local (onça e tamanduá-bandeira…) capturados por volta de 1853 e doados pelos caçadores da cidade. O museu conserva ainda um razoável acervo de fotos que registram o início do desenvolvimento do município e seu passado glorioso: fotos da Revolução Constitucionalista, além de peças esculpidas pelo irmão José Withofs, um grande artista autodidata da cidade com uma vida dedicada á igreja. O museu está aberto aos visitantes somente aos domingos, das 9:00 h ás 16:00 h.


ROMEIROS A CAVALO RUMANDO À PIRAPORA DO BOM JESUS

      A Secretaria da Cultura e Turismo da cidade estima que cerca de 600 mil pessoas vão anualmente a Pirapora, perdendo em número de romeiros, apenas para Aparecida (popularmente conhecida como Aparecida do Norte), cidade onde se encontra a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.Algumas romarias repetem-se todos os anos, há muitos anos, especialmente as romarias a cavalo; de Santo Amaro (bairro antigo de São Paulo) e a Romaria de Jundiaí (cidade próxima à Pirapora). Sobretudo no mês de julho a cidade fica lotada de turistas religiosos. É muito bonita a missa que é feita em homenagem às romarias a cavalo, pois os fiéis peões, assistem à missa montado em seus cavalos e charretes, enquanto o padre que oficia a missa sobre uma espécie de palco giagante, onde é montado um altar com a imagem milagrosa. É comovente ver aqueles fiéis, montados nas suas montarias, chapéu na mão, olhar voltado para o solo, em clima de respeito. O ACAS assistiu duas dessas missas.

      A história narra que José Almeida Naves, que encontrou a imagem do Bom Jesus, decidiu transportar a imagem para o município de Santana de Parnaíba, quando o carro de seis juntas de bois atolou na estrada. Contam os relatos que vários homens tentaram em vão retirá-lo, quando se acercou um surdo-mudo destes homens e disse: “coloquem uma só junta e a imagem voltará de onde saiu”. Os homens seguiram seu conselho e o carro saiu do atoleiro. Pasmos eles ficaram, pois este surdo-mudo nunca falara antes. No local onde aconteceram os fatos, foi erguida uma capela e esta notícia se espalhou rapidamente. Iniciaram-se assim as primeiras romarias, com os devotos cumprindo suas promessas e banhando-se nas águas milagrosas do “Beco do Rio Santo”. Desde então, a cidade vem recebendo um grande número de romeiros, tanto em datas religiosas, quanto nos finais de semana. Pelo que o ACAS pesquisou, este talvez tenha sido o primeiro milagre do Bom Jesus de Pirapora na cidade.

      Por ser um santo milagroso, inúmeros relatos de milagres podem ser ouvidos das bocas das pessoas moradoras em Pirapora e pelo alto número de “Ex-Votos”, peças em cera que significam partes do corpo humano que eram doentes e que milagroasamente foram curadas pelo Bom Jesus; lá encontram-se peças representando mãos, pés, cabeças, corações, etc. Também lá podem ser encontradas, diariamente, pessoas de todos os níveis sociais que procuram alento às suas vidas, esperança, curas e emprego.

ARTISTAS PIRAPORENSES FAMOSOS

      Não necessariamente eles nasceram em Pirapora do Bom Jesus, mas suas histórias ficaram (e ficarão) ligadas eternamente à cidade.


ADO BENATI (E SEU SUPEREGO ZÉ DO MATO) NO ESCRITÓRIO DE PIRAPORA

      Sem dúvida, o artista mais conhecido que passou por Pirapora, foi o Ado Benati. Ele nasceu em Taquaritinga (SP) em 23/09/1908 e morreu em Pirapora do Bom Jesus (SP) em 04/11/1962. Ele começou a carreira artística compondo emboladas e cantando em programas de calouros; o “must” da época. Em 1939 passou a atuar na Rádio Educadora Paulista de São Paulo, com o regional de Caxangá (um tipo de banda da época). Mais tarde passou a atuar como contratado pela rádio Difusora de São Paulo. Fez fama quando por volta de 1947 criou o personagem Zé do Mato;neste mesmo ano teve gravada por Tonico e Tinoco, sua primeira composição: a moda de viola “Destino de um Caboclo”. Um de seus maiores sucessos foi a música “Bom Jesus de Pirapora”, onde o poeta narra de modo comovente, a saga que uma senhora teve que passar para chegar à Pirapora de Bom Jesus e o milagre conseguido. Mesmo nos dias atuais, se pode ouvir esta música no serviço de alto falantes da cidade. Ado Benati publicou também livros e escreveu peças de teatro, que à época eram montadas em circos pelo inteiror do Brasil afora. Alguns de seus grandes sucessos como compositor foram "Bom Jesus de Pirapora" e "Transporte de boiada". Publicou os livros de poemas "Musa cabocla" e "Alma da terra". Escreveu também as histórias populares "Contos do Zé do Mato" e os versos populares "Tambaú, cidade dos milagres", "A morte do Dioguinho", "Bom Jesus de Pirapora" e "Os crimes de Dioguinho". Foi autor também de diversas peças caipiras que alcançam sucesso ainda hoje. Dentre elas, podemos citar "Mão criminosa", com Tonico e Tinoco, "O filho do sapateiro" e "Sindicato dos malucos".

      Segundo informações colhidas pelo ACAS, alguns moradores lembram-se dele ou contam que seus pais tinham contato com ele. Ado Benati tinha uma casa em Pirapora, chamado por ele de “rancho”, onde compunha, recebia amigos e pescava muito.


GERALDO FILME

      Outro artista famoso é o sambista Geraldo Filme (nascido em São João da Boa Vista, em 1928 e morreu em São Paulo, em 1995), que já mereceu até um documentário num curta metragem do cinema nacional. Geraldão conheceu com a avó, os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical. Embora haja outros pais do “samba paulista”, sem dúvida, Geraldo Filme se não foi o pai, foi o seu antecessor. A casa onde o Geraldo Filme se reunia com o pessoal de Pirapora para compor e cantar samba, ainda está de pé, mantida pela prefeitura local, passando a se chamar “Espaço Cultural Samba Paulista Vivo Honorato Missé”. O local abriga uma exposição permanente sobre o Samba Paulista e o cotidiano da cidade, além de ser palco de manifestações artísticas e eventos. De São João da Boa Vista pra Barra Funda, daí até Pirapora, de volta ao Brás, Glória, Peruche e finalmente pro Bexiga. Vendendo marmitas; preparadas pela mãe, versando e dando pernadas (passava bom tempo nas rodas de samba e de “tiririca” [capoeira], que os carregadores improvisavam no Largo da Banana, na Barra Funda), Geraldo Filme de Souza cresceu e se formou nas ruas de São Paulo. Ainda garoto encontrou na música sua forma de expressão, sendo respeitado como compositor e intérprete. Geraldão da Barra Funda, como era conhecido, teve papel importantíssimo no desenvolvimento do carnaval e das escolas de samba de São Paulo. Fundou cordões, blocos e atuou como diretor de carnaval da Vai Vai, onde compôs sambas que se consagraram como verdadeiros hinos da escola: "Quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bexiga pra ver". Apesar de sua popularidade no meio sambístico, Geraldo Filme não tinha representatividade na mídia ou entre as gravadoras da época. Contemporâneo de Oswaldinho da Cuíca, Adoniran Barbosa e Germano Mathias (nos dias atuais, só o Germano Mathias ainda está vivo), o que hoje conhecemos de suas composições é fruto de um único disco, lançado em 1980, quando já contava 52 anos de vida, onde gravou suas canções mais conhecidas, entre elas: “Vai cuidar de sua vida”, “A morte de Chico Preto”, “Silêncio no Bexiga”, “Tradição” e “Tristeza do sambista” entre outras. Nos últimos anos de vida, Geraldo Filme trabalhou na organização do Carnaval na cidade de São Paulo, tornando-se uma referência da cultura negra paulistana. Um aspecto pouco estudado de sua obra é a releitura do samba rural paulista ("Batuque de Pirapora" vide NA, "Tradições e Festas de Pirapora"), que trazem elementos dos jongos, vissungos e batuques ensinados por sua avó. Segundo apurado em documentário da TV cultura de São Paulo (ENSAIO), Geraldo Filme ia quase todos os fins de semana à Pirapora em companhia da mãe, pois na cidade morava uma sua tia, irmã de sua mãe; que também gostava de música e freqüentavam a casa onde hoje se situa o Espaço cultural Samba Paulista, onde Geraldo fez os primeiros contatos com um tipo de música que o inspirou para o resto de sua vasta e producente vida artística.

NA: O leitor pode tomar conhecimento da música que Geraldo filme fazia em Pirapora, acessando o “Batuque de Pirapora” no site www.sambadobau.com.br

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Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.