Minha Mãe (Imitação de Cowper) 2 set. 1856
QUEM FOI que o berço me embalou da infância
Entre doçuras que do empíreo vêm?
E nos beijos de célica fragância
Velou meu puro sono? Minha mãe!
Se devo ter no peito uma lembrança
É dela que os meus sonhos de criança
Dourou: – é minha mãe!
Quem foi que no entoar canções mimosas
Cheio de um terno amor – anjo do bem
Minha fronte infantil – encheu de rosas
De mimosos sorrisos? – Minha mãe!
Se dentro do meu peito macilento
O fogo da saudade me arde lento
É dela: minha mãe.
Qual anjo que as mãos me uniu outrora
E as rezas me ensinou que da alma vêm?
E a imagem me mostrou que o mundo adora.
E ensinou a adorá-la? – Minha mãe!
Não devemos nós crer num puro riso
Desse anjo gentil do paraíso
Que chama-se uma mãe?
Por ela rezarei eternamente
Que ela reza por mim no céu também;
Nas santas rezas do meu peito ardente
Repetirei um nome: – minha mãe!
Se devem louros ter meus cantos d'alma
Oh! do porvir eu trocaria a palma
Para ter minha mãe!
Obras Completas
Machado de Asis
O Almada & Outros Poemas
Editora Globo 1977.