O que é necessário para uma estrela desvanecer-se? Quantos erros para um fenômeno desmistificar-se? Quanto tempo é suficiente para o entusiasmo ser substituído pela dúvida? Pouco, muito pouco, extremamente pouco. Especialmente, se a estrela é um político, se seus erros dizem respeito à economia e se o tempo inclui eleições.

Seja lá o que acontecer, contudo, Barack Obama permanecerá campeão, e até recordista. É possível que tenha chegado antes ao seu encontro com a História, mas ainda dispõe de tempo para aprender, desde que tenha tomado a lição.

Após a derrota sofrida nas eleições parlamentares, o presidente dos EUA apressou-se a declarar que "recebeu o recado dos norte-americanos". Disse ter compreendido o que querem seus concidadãos. Reconheceu – a realidade – de que não governará mais somente com seu partido e já prepara-se para formalizar acordos.

Antes das eleições de 2008 foram registradas no país mudanças cosmogônicas. Os alicerces do capitalismo foram sacudidos com tanta força, a ponto de alguns pilares terem desabado até além do Oceano Atlântico. Milhões de pessoas perderam seus empregos, suas economias e tiveram suas casas confiscadas, enquanto o mais poderoso modelo político-econômico do planeta foi desmentido festivamente.

A economia abriu o caminho para o relativamente jovem (47 anos) senador negro à Casa Branca. E ele fez tudo certo. As palavras, os sentimentos, as pessoas e até as gravatas. Mas, passados dois anos, é a economia novamente que está submetendo a teste o brilho da estrela e permite aos republicanos fingir que esqueceram. É a economia que permite aos "incendiários" caçarem os "bombeiros".

"Muito esquerdista"

Se não tivesse sido mencionada a superpotência mundial, então algumas das análises da derrota de Barack Obama seriam até engraçadas. Era – dizem alguns – muito esquerdista. Socialista. E, como se sabe, os norte-americanos de centro-direita não simpatizam com a esquerda e os sistema sociais europeus.

Alguns outros consideram que, nos próximos dois anos, quando o presidente não terá o conforto para governar como quiser, poderá acusar a oposição e, consequentemente, terá direito a novo voto de confiança.

Entretanto, na Europa ninguém esqueceu tão depressa que é o mesmo homem que assumiu a responsabilidade para salvar o capitalismo e, bem ou mal, não está excluída a hipótese que conseguiu. Ou será considerada esquerdista a política que garante – pela primeira vez – acesso ao sistema público de saúde a muito mais norte-americanos do que nunca?

Porém, o desemprego aumentou, dirão seus críticos. De fato. Mas também é fato que, com pacote de salvação das indústrias automobilísticas norte-americanas, 1 milhão de norte-americanos conservaram seus empregos. Também isto foi esquecido, especialmente por aqueles que não vivem perto das fábricas da General Motors e da Chrysler.

Os norte-americanos, ainda hoje, recusam-se a aceitar que o bem estar que desfrutaram era uma bolha que estourou e que será muito difícil ser criada novamente uma outra com as mesmas condições. E é possível que o atual presidente não tenha-lhes prometido o paraíso, mas, havia-lhes falado sobre um milagre. Um milagre que não conseguiu, ainda, proporcionar-lhes.

Recado claro

Barack Obama não disputa mais o poder. Ele mesmo está mo poder e agora está sendo criticado não por suas propostas e suas pretensões, mas por seus atos. E quem o julga é o próprio povo que puniu George W. Bush por sua escandalosa política econômica, suas guerras e a imagem dos EUA no exterior.

O mesmo povo que, não faz muito tempo, ficou fascinado com suas qualidades e garantiu-lhe muitas páginas na história, e não só dos EUA. Este povo, então, não é maduro ou verde, inteligente ou tolo, rápido ou lento, de acordo com os votos que garante. E nos regimes democráticos mantém-se o direito de nomear e derrubar líderes e enviar-lhes recados.

Esta vez, o recado dos norte-americanos, por mais difícil que possa ser considerado, não foi nada inesperado. Todos esperavam que a difícil recuperação da economia, o galopante aumento do desemprego e os bilhões de dólares do pacote econômico que parecem perdidos teriam consequências para o governo dos democratas. Deverá, então, já existir um plano para os próximos dois anos até as eleições presidenciais de 2012.

Os próximos dois anos revelarão se Barack Obama e seus colaboradores receberam – de fato – o recado e se aprenderam – conforme alegam – a lição. Já sob a pressão dos republicanos, prepara-se aumento das reduções tributárias até para aqueles que recebem salário anual superior a US$ 250 mil.

Será que o recado significará também o fim da agenda social-democrata do presidente? Nada improvável. Aliás, seis em cada dez norte-americanos que votaram nas últimas eleições consideram a economia como o principal problema do país, enquanto quatro em cada dez declaram que a situação econômica de suas famílias agravou-se após a eleição de Barack Obama.

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Fonte: Monitor Mercantil